Nas últimas décadas, se observa uma escalada preocupante nos diagnósticos de transtornos emocionais entre mulheres na faixa etária de 25 a 45 anos. Dados epidemiológicos revelam que condições como síndrome de burnout, transtornos de ansiedade generalizada têm atingido proporções alarmantes nesse grupo demográfico. Especialistas atribuem esse fenômeno a uma conjunção de fatores socioculturais contemporâneos, onde se destacam as exigências multifacetadas da vida moderna e a distorção de padrões comportamentais propagados digitalmente.
“Estamos diante de uma geração de mulheres que internalizaram a necessidade de desempenho impecável em todas as dimensões da existência. O corpo, porém, não mente – quando a psique é sistematicamente negligenciada, os sintomas físicos e emocionais emergem como gritos silenciosos de socorro”, analisa a psicóloga Maria Klien.

Segundo dados de um estudo publicado em 2024 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 38% das mulheres nessa faixa etária relataram episódios frequentes de estresse agudo, com prejuízos significativos em relacionamentos e autoimagem.
“Há uma dificuldade em priorizar o autocuidado, especialmente para aquelas que assumem duplas ou triplas jornadas. A maternidade, quando presente, muitas vezes intensifica a sensação de desamparo”, complementa a psicóloga.
Maria Klien destaca os mecanismos psicossociais por trás desses números. “As plataformas digitais criaram um palco permanente de comparação social. A idealização de vidas supostamente perfeitas, somada à cultura da hiperprodutividade, gera um ciclo vicioso de autocobrança. Muitas pacientes sequer percebem quando cruzam a linha entre o esforço saudável e a autodestruição silenciosa”.
No que tange às relações interpessoais, a psicóloga observa que os vínculos afetivos são frequentemente os primeiros a sofrer as consequências. A irritabilidade, o retraimento social e a dificuldade de concentração minam tanto os relacionamentos amorosos quanto os laços familiares. No caso específico das mães, a sobrecarga emocional frequentemente se manifesta através da chamada “culpa crônica” – a sensação permanente de não estar à altura em nenhum dos papéis exercidos.

“A reconstrução do diálogo interno é fundamental. Isso implica abandonar a noção de que repouso é sinônimo de preguiça, ou que limites pessoais constituem fraqueza. A terapia tem se mostrado particularmente eficaz no desenvolvimento de habilidades para identificar e desmontar esses padrões de pensamento disfuncionais”, propõe Maria Klien.
A psicóloga finaliza com uma reflexão urgente. “Precisamos ressignificar coletivamente o conceito de sucesso. Mulheres saudáveis não são aquelas que tudo suportam, mas sim as que aprendem a reconhecer e respeitar seus pontos de ruptura sem perder a dignidade. Esta talvez seja a verdadeira revolução feminina do nosso tempo”, conclui Klien.

Maria Klien é psicóloga, pós-graduada em neuropsicologia, palestrante, escritora e empresária nas áreas de cannabis medicinal e cogumelos medicinais. Sua atuação clínica combina abordagens convencionais com práticas integrativas, com foco na escuta das manifestações emocionais vinculadas ao medo e à ansiedade. No campo empresarial, desenvolve soluções voltadas ao cuidado psíquico, criando instrumentos que colaboram para o manejo de questões subjetivas e a preservação da saúde mental.
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