Ser mãe é descobrir, todos os dias, que os ensinamentos mais profundos não estão nos livros sagrados, mas nos olhos curiosos dos nossos filhos. É ensinar sem deixar que o assunto se esfrie pois é importante crer em algo divino, seja por qual caminho for. Quando o assunto é espiritualidade, aprendi que o caminho não está em impor verdades, mas em plantar sementes de respeito e deixar que elas cresçam no tempo certo.
Aqui em casa, a espiritualidade não tem nome fixo, nem regras rígidas e muito menos imposições. Ela está presente nas conversas à mesa, quando falamos sobre como diferentes culturas e crenças veem a vida após a morte. Aparece nos questionamentos do Rafael, que chegou um dia chorando da escola onde estudava (que possui um viés religioso) porque a professora falou que “quem mente para os pais vai para o inferno”. E mora na simplicidade da Sara, que abraça o mundo com amor incondicional sem precisar de explicações complexas.
Aprendemos juntos que fé pode ser um abraço, uma ajuda ao próximo, um momento de silêncio observando as estrelas. Ensino a eles que as religiões são como línguas diferentes falando sobre o mesmo sentimento de amor e conexão. Quando visitamos uma igreja, explico sobre o que aquela comunidade acredita. Quando vamos a um terreiro, falamos sobre as energias do mundo espiritual e tudo de bom que ele nos dá. Em meio à natureza aprendemos a nos conectar com o Universo. Tudo com naturalidade, como quem aprende sobre novas cores do arco-íris.

O segredo está em transformar a curiosidade em diálogo. Quando o Rafael pergunta por que as pessoas têm preconceito com algumas religiões, eu devolvo com outra pergunta: “Por que você acha que certas pessoas têm medo do que é diferente daquilo que aprenderam?” Assim, ele mesmo vai encontrando suas respostas. A Sara, com sua sabedoria própria, já me ensinou que espiritualidade pode ser tão simples quanto compartilhar o lanche com um amigo na escola.
Na nossa rotina, criamos pequenos rituais que falam da alma sem precisar de rótulos. Acendemos uma vela quando queremos mandar bons pensamentos para alguém. Fazemos uma oração de gratidão antes das refeições, onde cada um agradece do seu jeito. Colecionamos pedrinhas e conchas nas nossas caminhadas, como lembranças de que fazemos parte de algo maior. Entre vários outros rituais que não nos desconectam da energia e do amor divino, tenha eles qual nome for.
O mais bonito é ver como eles naturalmente respeitam as escolhas dos outros. O Rafael já questionou um colega que zombou outro por sua fé diferente. A Sara, com seu jeito único, abraça todas as formas de celebrar a vida, se emociona e mesmo com “medo” de algumas e acaba por acolhê-las quando explico que apesar de não ser o que ela “gosta” é algo bom e se é bom não tem por que temer.

E eu, como mãe, aprendi que meu papel não é dar todas as respostas, mas manter o coração aberto para que eles descubram suas próprias verdades, seus próprios caminhos. Ensino a respeitarem minhas escolhas e deixo claro que as deles serão respeitadas, sejam quais forem contanto que pratiquem o bem ao próximo e a eles mesmos.
No final, percebi que a espiritualidade mais pura está justamente nessa liberdade. Não se trata de ensinar uma religião, mas de cultivar um olhar que enxerga o sagrado em cada pessoa, em cada tradição, na natureza e, principalmente, dentro de si mesmo. Porque mais importante do que acreditar em um deus, é aprender a ver o divino em tudo e em todos – especialmente nos olhos dos nossos filhos, que nos lembram todos os dias que o amor é a única religião que realmente importa.
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