Entre deuses antigos, mármores eternos e pinceladas que atravessam séculos, senti florescer tudo o que venho estudando e cultivando como artista, curadora e mulher.
Vem comigo sentir essa emoção. Respire arte comigo em Paris.
Há lugares no mundo onde o tempo parece suspenso, onde os séculos sussurram através da matéria, e onde o olhar se transforma em reverência. O Louvre é um desses lugares.
E ali, entre mestres imortais e corredores de pedra, senti a arte tocar a alma com mãos invisíveis.
Respire comigo: arte em estado de encantamento
Foi em maio de 2022, sob o céu de Paris, que um sonho se revelou. Atravessar as pirâmides do Louvre é como romper um véu entre mundos.
Do lado de fora, o presente; do lado de dentro, a eternidade.
A pirâmide de vidro em contraste com o clássico palaciano parecia um portal entre mundos. E diante dela, meu coração disparou. Chorei, como quem reconhece uma casa antiga. Entrei com o pé direito, como quem entra em um templo.
Mas mais do que uma entrada física, foi o início de uma travessia sensível onde meus estudos, meu olhar e minha emoção se uniram diante da história viva da arte.
E de fato, o Louvre é um templo. Um santuário onde arte e história caminham lado a lado, de mãos dadas com a eternidade.
Onde vivem os grandes mestres
Ali estão eles: Leonardo, Géricault, Bernini, Michelangelo, Delacroix…
Obras que conheci nos livros, que admirei em aulas e que agora pulsavam diante de mim. Nada substitui o gesto de ver de perto os vestígios da mão do artista. As pinceladas que sobreviveram ao tempo, os mármores moldados com amor e fúria.
É impossível sair ilesa. Cada sala é uma travessia.
Cada escultura, um sopro de divindade.
Cada pintura, uma janela para outros séculos.
O Louvre não é apenas um museu. É a pura história da arte. É o encontro com os gigantes da criação.
A alma do Louvre
Fundado em 1793, em pleno fervor da Revolução Francesa, o Louvre guarda em suas entranhas a transformação da monarquia em patrimônio coletivo. Antes residência real, tornou-se o museu do povo.
E quanta grandeza ele abriga:
Mais de 380 mil obras, espalhadas por oito departamentos.
O Louvre é tão vasto que, para ver tudo, seriam necessários 100 dias inteiros, parando apenas 30 segundos diante de cada peça.
São quatro níveis de exposições: do subterrâneo à glória das salas superiores. Uma odisseia por 8 mil anos de história do Neolítico à Renascença, do Egito Antigo à Mesopotâmia, da Grécia aos salões da França de Luís XIV.
Obras que me tocaram e que tocam o mundo

Vênus de Milo
Escultura grega do período helenístico (c. 130–100 a.C.), atribuída a Alexandro de Antioquia. Representa Afrodite, deusa do amor e da beleza. Mesmo sem os braços, sua forma expressa equilíbrio, sensualidade e perfeição atemporal. Ícone do Louvre e símbolo da beleza clássica.

Vitória de Samotrácia (Nike of Samothrace)
Escultura grega do período helenístico, c. 190 a.C.
Representa a deusa Nice (Nike), personificação da vitória, pousando sobre a proa de um navio. Apesar de sem cabeça e braços, sua postura inclinada e as dobras esvoaçantes da túnica transmitem uma poderosa sensação de movimento e conquista. Um símbolo eterno de força, leveza e triunfo.

A Entrada dos Cruzados em Constantinopla”
Eugène Delacroix, 1840
Nesta cena da Quarta Cruzada (1204), Delacroix retrata com intensidade o saque de Constantinopla. Mais que um registro histórico, a obra revela o drama e a emoção do momento, com composição dinâmica, contrastes de luz e figuras expressivas marcas do romantismo francês e da potência narrativa do artista.

Mona Lisa (La Gioconda)
Leonardo da Vinci, c. 1503–1519 Pequena em tamanho, infinita em aura. O sorriso mais enigmático da arte nos observa. E nós, diante dela, silenciamos. Ícone do Renascimento italiano, destaca-se pelo olhar que acompanha o observador e técnica do sfumato. Obra envolta em mistério e símbolo universal da arte. Está protegida por vidro à prova de balas.

São João Batista, Leonardo da Vinci, c. 1513–1516
Nesta obra de seus últimos anos, Leonardo retrata São João com um gesto sutil e misterioso, apontando para o alto. O olhar enigmático, o sorriso leve e o uso magistral do sfumato criam uma atmosfera espiritual e introspectiva. Um ícone do mistério e da profundidade renascentista.

Vênus Ajoelhada- Doidalsas de Bitínia (século III a.C.)
Cópia romana de um original grego (século III a.C.)
A deusa do amor é surpreendida em um momento íntimo, ajoelhada, em gesto de pudor e sensualidade. A escultura combina erotismo sutil com elegância clássica — um tributo à beleza feminina na tradição greco-romana.

Touros Alados da Assíria (Lamassu)
Escultura assíria do século IX a.C., representa uma figura mitológica com corpo de touro ou leão, asas de águia e rosto humano. Era colocada nas entradas dos palácios como símbolo de proteção, sabedoria e poder. Originária da Mesopotâmia, revela a grandiosidade e o misticismo do Império Assírio.

Estátua de Aïn Ghazal
Escultura neolítica datada de cerca de 6750 a.C., descoberta na Jordânia. Feita com gesso, junco e betume, representa uma figura humana de forma abstrata e expressiva. É uma das mais antigas esculturas conhecidas, possivelmente ligada a rituais religiosos ou culto aos ancestrais. Revela o início da arte figurativa monumental no Oriente Próximo.

Grande Esfinge de Tanis
Egito Antigo, entre 2.600 a.C. e 1.000 a.C.
Granito e eternidade. O Egito repousa nessa criatura sagrada, guardiã de um passado que ainda vive.

Hermafrodita Dormindo
Escultura romana antiga, século II d.C. | Colchão por Gian Lorenzo Bernini, 1620
A dualidade do ser humano moldada por Bernini. Mármore que parece respirar.

A Jangada da Medusa (Le Radeau de la Méduse)
Théodore Géricault, 1818–1819
A tragédia humana em óleo e desespero. Um grito pintado. Um naufrágio de corpos e sonhos.
Viver o Louvre é ser tocada pelo sagrado da criação
O Louvre é mais do que se pode descrever. É preciso vivê-lo. Caminhar por seus corredores é como escutar a voz de quem veio antes. É aprender, reverenciar e, acima de tudo, sentir.
Ali, entre colunas e luz filtrada, pude colocar em prática tudo aquilo que venho cultivando com dedicação em meus estudos de História da Arte.
Compreender estilos, reconhecer os movimentos artísticos, identificar traços, contextos, iconografias tudo isso me permitiu atravessar o Louvre com um olhar atento e um coração vibrante.
A teoria ganhou forma, gesto e alma. O que antes era lido nos livros agora respirava diante de mim, preenchendo meu ser com reverência.
Estudar a arte é primordial. Mas sentir a arte ao vivo, com os olhos do conhecimento e o peito aberto à emoção, é transcendência.
Ao sair, senti que parte de mim ficou ali. Entre mármores e telas, deixei algo meu.
E trouxe comigo uma certeza: a arte é o que nos torna humanos.
Até o próximo museu…
Obrigada por me acompanharem nesta jornada.
Na Dolce Arte Morumbi, sigo com vocês respirando cultura, partilhando histórias e atravessando mundos com os olhos da arte.
Como artista e curadora, essa imersão no Louvre despertou em mim não apenas memórias dos estudos, mas também a potência de uma curadoria viva — aquela que se alimenta do olhar sensível, do corpo presente e do sentir constante.
Diante de obras eternas, compreendi ainda mais o valor de atravessar os séculos com escuta, respeito e encantamento. A história da arte se faz presente não apenas nos livros, mas nas emoções que ela nos provoca.
É com essa escuta ativa, entre o saber e o sentir, que sigo criando, conectando e propondo exposições que tocam e transformam. Com arte e curadoria viva.
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