Hoje eu sou outono.
Pensei nisso enquanto caminhava pela rua silenciosa, sentindo o vento frio roçar meu rosto. Foi então que meus olhos pararam em uma árvore. Ela não era jovem, mas tampouco uma anciã centenária. Plantada no estreito espaço da calçada, suas raízes pareciam aprisionadas sob o peso do cimento, impedidas de se expandirem livremente como fariam no solo rico de um bosque. E, ainda assim, ela permanecia ali. Firme. Resiliente.
Olhei para cima e vi sua copa cheia de galhos nus. Poucas folhas verdes ainda resistiam, como lembranças teimosas de uma primavera que já não existia. O resto havia sido levado pela estação que agora a despia. Era tempo de trocar de pele, de se livrar do velho, de suportar o vazio até que o novo viesse.

E, naquele instante, eu senti. Senti a tristeza daquela árvore como se fosse a minha. A estação a obrigava a despir-se, a suportar-se despojada de sua beleza. E eu… eu estava igual. Minhas forças pareciam presas, como as raízes dela, e parte de mim tinha sido arrancada pelo vento dos dias difíceis.
Me perguntei, com um nó na garganta: Sou eu o outono? Ou sou a árvore?
Porque, como ela, espero ansiosa pelo renovo. Pela promessa de uma primavera que me devolva cores, que faça brotar novas folhas onde hoje só há ausência.
Mas enquanto isso não vem, fico aqui, em silêncio, suportando o frio, tentando acreditar que sobreviver é, por si só, um ato de esperança.
