Em qualquer relação afetiva, é fácil apontar o que falta no outro — o cuidado que não veio, a atenção que falhou, o gesto que machucou. E sim, essas dores são legítimas. Mas há uma responsabilidade silenciosa que muitas vezes deixamos de lado: a de se amar.
Pode parecer simples. Mas não é. Amar a si mesma é uma tarefa complexa, diária, e muitas vezes exaustiva. Há dias em que acertamos em cheio: cuidamos de nós, nos sentimos interessantes, seguras, inteiras. E há outros em que tudo parece desmoronar — e a autoestima depende de um milhão de likes ou de um olhar externo que nos valide.

Manter uma relação saudável vai muito além de cuidar do outro ou ser cuidada. É sobre cuidar de si. É sobre lembrar que somos interessantes mesmo nos dias pesados — e confiar que o outro também será capaz de enxergar isso. É sobre ampliar repertórios, flexibilizar expectativas e se ajustar às adversidades que todos enfrentam.
Autoestima não é se achar linda e perfeita todos os dias. É se perceber capaz de atravessar tempestades, mesmo quando não se gosta do que vê no espelho. É aceitar que se amar é uma tentativa constante — e que podemos ser gentis conosco quando tudo o que queremos é um colo. E mais: saber pedir esse colo sem esperar que o outro adivinhe, como se amor verdadeiro viesse com bola de cristal.

É reconhecer as próprias fraquezas e entender que é justamente nelas que reside nossa humanidade. É preservar nossas individualidades, revisitar necessidades, e não se perder no “nós” a ponto de esquecer o “eu”.
Quando essa responsabilidade é assumida, os efeitos são transformadores:
- Menos insegurança.
- Menos dependência emocional.
- Menos sensação de improdutividade.
- Mais tolerância às pequenas falhas do cotidiano.
- Mais consciência sobre o que realmente importa — e o que vale a pena permanecer.
Se amar é a base. É o ponto de partida. E, talvez, o maior gesto de amor que podemos oferecer a qualquer relação.