Existe um momento silencioso e particularmente desafiador na maternidade: aquele em que o boletim chega e as notas, mesmo após a recuperação, não são como esperávamos.
Foi o que aconteceu aqui em casa, e a primeira sensação foi a de um baque surdo, seguido por uma onda de questionamentos internos que pareciam não ter fim. A culpa chegou sem pedir licença, instalando-se no peito com seu peso familiar. Ela sussurra perguntas que toda mãe reconhece, interrogando onde foi que falhamos, se não nos empenhamos o suficiente, se poderíamos ter feito mais. É um lugar solitário, esse de carregar a responsabilidade pelo desempenho de outro ser, mesmo sabendo, no fundo, que a história é sempre mais complexa.
A verdade é que a culpa é uma emoção paradoxal. Ela nasce de um amor profundo e incondicional, mas se manifesta como uma crítica severa e impiedosa.
Depois de estudar com ele, de tê-lo visto se dedicar, a frustração da recuperação não atingida me fez olhar para dentro em busca de uma falha que era minha, não dele. Percebi, no entanto, que esse caminho da autocobrança é um labirinto sem saída. Ele não leva a soluções, apenas nos paralisa em um ciclo de autojulgamento. A lição mais urgente, descobri, não era para o meu filho, mas para mim. Era a lição da autocompaixão.

Foi então que recorri ao que sempre acalenta minha alma e que faz parte da essência da forma como vivo a maternidade. A meditação se tornou um porto seguro, não como uma fuga, mas como um espaço para acolher esses sentimentos sem me deixar dominar por eles.
Sentar em silêncio, respirar fundo e simplesmente observar a culpa, reconhecendo sua presença sem alimentá-la, foi um ato de libertação. Aos poucos, fui substituindo os pensamentos de fracasso por uma narrativa mais gentil e verdadeira, lembrando a mim mesma que um resultado isolado não define a mãe que sou, nem o filho que ele é.
A conexão com a espiritualidade também encontrou seu lugar nesse processo, transformando-se de um pedido por resultados em uma busca por sabedoria e serenidade. Passei a pedir clareza para mim, para enxergar além das notas, para compreender o que se passava no coração do meu filho, e para ter a paciência necessária para apoiá-lo de verdade, e não da forma ansiosa e preocupada que eu achava que era apoio.
Foi nesse estado de abertura que um sinal curioso surgiu, um daqueles que a vida nos oferece quando estamos prontas para escutar. Sonhei com uma amiga com quem não conversava há anos, e a sincronicidade me moveu a entrar em contato.

Em nossa conversa, comentei sobre a minha inquietação com as notas do meu filho, e ela partilhou que o filho dela havia recentemente sido diagnosticado com um transtorno de aprendizado e que isso deu mais leveza para algumas questões entre eles. Naquele momento, algo fez clique e ela comentou: “Será que não foi por isso que você sonhou comigo?”.
Aquele sonho poderia ser apenas um acaso, ou talvez um alerta sutil do universo para eu olhar com mais cuidado. Independentemente da explicação, valia a tentativa. Foi o empurrão que precisei para colocar meu filho em avaliação com profissionais especializados, num movimento de unir forças com a escola e os terapeutas para, juntos, observarmos se há algo mais a ser compreendido e acolhido. Enquanto esse processo ainda segue seu curso, algo maior já se clareava para mim…
Percebi o cerne da questão: o desafio não era fazer ele recuperar a nota, mas eu recuperar a conexão e a confiança entre nós. O recomeço, então, não se deu com mais cadernos, livros abertos, cobranças e broncas, mas com uma conversa tranquila. Um diálogo que partiu não do meu desapontamento, mas da minha vontade genuína sobre como ele se sentia, o que tinha sido difícil, o que ele achava que poderia ajudar. Foi quando entendi que a minha função naquele momento não era de professora ou fiscal, mas de base segura, de porto.

A maternidade, nessa hora, mostrou sua face mais holística e menos óbvia. Tratava-se de curar a minha própria ansiedade para poder estar verdadeiramente presente para a dificuldade dele.
Hoje vejo que as notas baixas não foram um fracasso, mas um convite. Um convite para praticar o desapego da perfeição e abraçar a beleza imperfeita e humana da nossa jornada. Foi uma oportunidade de ensinar, pelo meu exemplo, que tropeços fazem parte da vida, mas que o amor incondicional e a capacidade de se reerguer com gentileza são o que verdadeiramente nos sustenta.
A culpa pode até visitar, mas ela não precisa morar aqui. O que fica, no final, é a lição de que estamos aprendendo juntos, e que isso, por si só, já é um grande e bonito aprendizado.