A pausa como oportunidade para as mulheres

Por Maria Barretto

A pausa permite que nos apropriemos de nós mesmas. Muitas mulheres ganharam, nesse período de isolamento social exigido pelo novo coronavírus, mais intimidade com seu corpo e seu ciclo menstrual. Sem tantos compromissos externos, puderam escutar com mais atenção suas necessidades e fazer pausas. Nesse ano de reclusão, recebi inclusive muitas fotos e mensagens de mulheres que começaram a acompanhar o ciclo lunar, algo que não acontecia com tanta frequência. Assim como a Lua, somos cíclicas. Ora brilhantes e cheias, ora reservadas e escuras; navegamos entre luz e sombra, entre vida e morte. Reconhecer essa variação permite descobrir as diversas partes que nos compõem para integrá-las com harmonia e respeito.

Observando tantas mulheres criarem essa conexão, pergunto-me como evoluiremos em um mundo que, aos poucos, começa a reabrir suas portas. Será que as empresas estão prontas para acolher essas mulheres transformadas? Essas que descobriram os benefícios da pausa e do respeito ao próprio corpo, a potência do contato com sua força criadora? Porque muitas de nós estamos voltando diferentes. Nada será como antes, muito menos as nossas demandas.

É comum ouvir das mulheres que acompanho relatos sobre a necessidade de adotar um ritmo de vida mais saudável. O isolamento social nos fez perceber que a roupa que vestíamos na nossa rotina de mães, executivas, empreendedoras, esposas (e tantos outros papéis) ficou apertada. Luiza Ortiz, empresária de moda, contou-me que se sente novamente sugada por um ritmo externo frenético, mas depois de um longo período de resguardo parece que essa cadência apressada não faz mais sentido. Aquela vida sem tempo para nós mesmas, sem pausa, sem momentos de autocuidado já não faz mais sentido para muitas. Então, começa o desafio de descobrir como, vivendo num sistema machista e patriarcal, podemos renovar nosso guarda-roupa e refazer pactos e acordos com a sociedade e conosco.

Eu refiz alguns e acredito que posso fortalecer essa nova corrente compartilhando a minha própria história. Durante a pandemia, me mudei com a família para uma cidade fora do centro urbano e entendi que esse modo de viver é extremamente rico e cheio de sentido para nós. Nossa qualidade de vida e a qualidade das nossas relações cresceram imensamente. Para fazer essa mudança, precisei romper pactos ainda profundos com a cidade grande e tudo o que ela me traz. Estou com coragem de tornar essa mudança definitiva? Confesso que ainda não sei, mas também não me vejo cabendo novamente em um ritmo acelerado de produção e excesso de estímulos.

Sei que muitas de nós estamos nesse lugar desconfortável: já entendemos o que não nos serve mais, mas ainda é difícil, sem uma atitude mais drástica, respeitarmos nossos ritmos internos. Reflexões sobre a quantidade de tempo despendido dentro e fora de casa; sobre o tempo gasto com trabalho e o tempo dedicado ao convívio e lazer com família estão latejando em nossas cabeças, mas ainda parecem ter pouco efeito prático. Nós mudamos, mas a sociedade segue nos acelerando, sem freio, num efeito bola de neve.

Como os espaços áridos dos escritórios, repletos de mesas e cadeiras, sem permissão para a pausa, poderão acolher, por exemplo, a necessidade do descanso que vem durante a TPM? Quando estamos sangrando, a nossa natureza pede menos movimentação: interna e externa. No home office, pudemos desacelerar, ir para um sofá, nem que fosse por cinco minutos. Mas nesse retorno presencial haverá permissão para o recolhimento?

O caminho do autoconhecimento é só, mas não sozinho, como canta Ceumar na música “Silencia”. Penso que a transformação do mercado de trabalho seguirá um caminho parecido. Precisará de um empenho coletivo, mas também dependerá do esforço individual.

Vamos colocar sobre a mesa nossas necessidades? Falar mais sobre nossos ciclos entre nós e nas empresas em que trabalhamos fará com que a singularidade feminina seja respeitada e valorizada nas dinâmicas de trabalho. Vamos pensar sobre o que continuaremos fazendo para respeitar as necessidades do nosso corpo? Pequenas ações são importantes e podem faz toda a diferença. Somos feitas de células que vibram; basta uma pausa atenta para entendermos o que o nosso corpo está tentando comunicar.

Compartilho aqui algumas sugestões que têm me ajudado nessa escuta do corpo: desligar o celular uma hora antes de dormir. Não percebemos, mas as vibrações eletromagnéticas do aparelho inibem o nosso sistema límbico, que está diretamente envolvido com a natureza afetiva de nossas percepções sensoriais. Com isso, nos desconectamos de nossas capacidades sensitivas, o que atrapalha profundamente a qualidade do sono. Ao desligarmos o celular, abrimos espaço para nossa intuição e nossos sonhos. Outro caminho muito saudável, e com rápidos resultados, é ganhar consciência sobre a nossa alimentação: o que – e como – comemos está diretamente relacionado ao nosso bem-estar físico e mental. Além disso, tente escutar as necessidades do seu corpo quando ele está sangrando e, se ele te pedir menos, experimente se recolher por alguns minutos nesse dia. Respirar, meditar e pedir ajuda para dar conta de todas as tarefas também são dicas valiosas para um encontro consciente consigo mesma. Nem que seja por cinco minutos: pare, respire, inspire e escute o seu corpo.

O que você tem feito para si tem a ver com o que desejamos para todas nós! Vamos juntas?

Maria Barretto é, antes de tudo, uma curiosa pelos mistérios do corpo, da alma e dos ciclos da mulher. Mãe de Tereza, José e Ana, tem se dedicado profissionalmente ao trabalho com mulheres há mais de dez anos. Contribui para que todas as mulheres mergulhem em uma jornada de autoconhecimento, reconectando-se com o Ser Mulher, trabalhando com o feminino e masculino, e conhecendo mais o próprio corpo, a sexualidade, a natureza cíclica, a criatividade e a capacidade de gerar vida. Usa diversas ferramentas e técnicas como Coaching, ThetaHealing, Cura e Bênção do Útero, Escuta Empática, Sabedoria das Avós da Tribo da Lua, Toque, Anatomia Emocional, Massagem, Oráculos e o uso de Ervas Medicinais. www.naturezaintima.com.br | @mariabarretto._

A Primavera Editorial é uma editora que busca apresentar obras inteligentes, instigantes e acalentadoras para a mulher que busca emancipação social e poder sobre suas escolhas.

Colaboração da pauta:
Frida Luna Boutique de Comunicação
Betânia Lins

betania.lins@gmail.com
(+55 11) 97338-3879

Imagem destacada da Publicação

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