Uma pesquisa qualitativa realizada com mulheres jovens adultas das classes A, B e C pela Somos OVUM, empresa de tecnologia voltada para a saúde da mulher (Femtech) que visa ajudar mulheres a cuidarem do futuro reprodutivo, mostra que falta informação para que elas tomem decisões assertivas sobre sua saúde reprodutiva. O levantamento mostra, por exemplo, que o congelamento e a fertilização in vitro são considerados somente quando as mulheres maduras já apresentam baixa fertilidade, após os 35 anos ou em caso de endometriose. “Infelizmente, as jovens que pensam no tema são a exceção”, observa a enfermeira de Reprodução Humana e CEO da Somos OVUM, Fernanda Robin.
A pesquisa também aponta que o câncer ou outras doenças graves são as razões mais comuns do congelamento precoce de óvulos, não a informação de que a possibilidade de engravidar se reduz com a idade. “As mulheres, em geral, não têm conhecimento de sua saúde reprodutiva. Prevenção a gravidez ainda é mais foco que a preservação de fertilidade futura”, lamenta a biomédica e geneticista Marcia Riboldi, founder e presidente da Somos OVUM. A partir das respostas à pesquisa, foi possível observar também que o ato de doar óvulos é visto com bastante empatia entre as mulheres, em especial pelas mais jovens, que têm uma abundância de óvulos descartados por mês. Por sua vez, existem muitos mitos que envolvem o congelamento de óvulos e isso gera uma janela de oportunidade para educação e aumento do awareness sobre o tema da fertilidade feminina. Pensando nisso, a Somos OVUM elenca dez informações importantes que as mulheres precisam saber sobre congelamento, doação e recepção e fertilização in vitro.
1 – O que é e como é feito o congelamento de óvulos?
O congelamento de óvulos, tecnicamente denominado como criopreservação de oócitos, é um processo no qual os óvulos (oócitos) de uma mulher são analisados, extraídos, congelados e armazenados como um método para preservar o potencial reprodutivo em mulheres em idade reprodutiva. O congelamento de óvulos pode ser indicado para todas as mulheres que não podem ou não desejam engravidar no momento ou no futuro. Essa técnica possibilita, dentro de um planejamento pessoal ou familiar, adiar a gravidez, sendo uma boa opção para as mulheres, conhecedoras de sua fertilidade, que entendem que as suas chances de engravidar irão diminuir com o avanço da idade. Vale ressaltar que quanto mais jovem for realizado o congelamento, melhor será a qualidade dos óvulos coletados e maiores serão as chances de sucesso da FIV a partir do embrião implantado. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define idade reprodutiva como sendo a faixa entre 15 e 49 anos, embora a mulher possa engravidar também em outras idades. No processo de congelamento, seguro e não invasivo, as pacientes passam pelos exames de hormônio antimulleriano (AMH) e ultrassom para contagem de folículos antrais, que configuram uma etapa fundamental para entender sobre a saúde reprodutiva, incluindo a reserva ovariana. Na sequência, os ovários são estimulados com medicamentos hormonais para que sejam produzidos vários óvulos. Os óvulos são coletados por meio de uma punção transvaginal. O material é avaliado por um embriologista e os óvulos são resfriados a temperaturas abaixo de zero (mantidos em containers de nitrogênio líquido) para serem descongelados posteriormente.
2 – Qual é o momento ideal para congelar os óvulos?
Cada mulher tem o seu momento ideal para realizar esse tipo de tratamento. É importante que a tomada de decisão leve em conta o fator idade. Entre as consequências da decisão mais tardia por ser mãe está o fato de a probabilidade de gerar um bebê saudável diminuir de 3% a 5% ao ano após os 30 anos e decrescer de maneira exponencial após os 40. Por conta da redução da reserva ovariana como resultado do envelhecimento, a idade “ótima” em termos de fertilidade da mulher é 25 anos. Paralelamente, o momento mais seguro para pensar na preservação da fertilidade, na maioria das vezes, é antes dos 30 anos. Após essa idade, a taxa de perda de óvulos aumenta exponencialmente. Comparativamente, no momento da menarca (primeira menstruação), entre os 12 e 15 anos, as meninas possuem 500 mil folículos (estruturam localizadas nos ovários, que abrigam os óvulos). Os folículos são essenciais para que ocorra uma gravidez. A partir da primeira menstruação até aproximadamente os 30 anos, há 65.000 folículos. Entre os 30 e 40 anos há a perda de mil a 2 mil folículos por ciclo menstrual. Aos 40 anos, a mulher tem 25 mil folículos e, aos 52 anos, cerca de mil folículos.

3 – O envelhecimento é a única causa da baixa ou diminuição de reserva ovariana?
Embora o envelhecimento seja a principal causa de baixa reserva ovariana, há outras importantes causas, que vão de alterações genéticas até efeitos colaterais de tratamentos médicos. As causas de perda de reserva ovariana, além do fator idade, são os distúrbios genéticos que afetam o cromossomo X e mutações em genes como o BRCA, associado a maior predisposição ao desenvolvimento de câncer de mama e ovário; exposição à radiação ou quimioterapia (tratamento do câncer), realização de cirurgia nos ovários; perda de um ou ambos os ovários e condições autoimunes. Na presença destes fatores de risco de perda ovariana, antes de realizar o congelamento de óvulos, é realizado o exame de hormônio antimulleriano (AMH). Esse exame, responsável por estimar a atual reserva ovariana, é feito de forma não invasiva, com uma coleta de sangue, sendo importante para auxiliar o planejamento de tratamentos futuros de fertilização in vitro (FIV), além de ajudar a diagnosticar condições como a síndrome dos ovários policísticos (SOP).
4 – O congelamento e a fertilização in vitro (FIV) são processos caros? Doar óvulos pode baratear?
Os custos variam entre 10 mil e 30 mil reais, podendo ser reduzidos caso parte dos óvulos coletados sejam compartilhados com a clínica. Além do custo, outro desafio é a limitação por conta da legislação brasileira, que não permite a remuneração das doadoras de óvulos. Apesar dos percalços, somente em 2022 foram realizados mais de 42 mil ciclos de fertilização, o que representa o dobro do total registrado no ano de 2012. Por meio de campanhas de awareness sobre doação de óvulos (conhecimento/conscientização) e facilidades de financiamento, o Brasil tem o potencial de triplicar o número de tratamentos de congelamento de óvulos, ovorecepção e fertilização in vitro até 2030. Sobre a possibilidade de baratear por meio da doação, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autoriza que seja feita uma redução de custos de tratamentos reprodutivos para as mulheres que são doadoras e precisarão passar por uma FIV. Para tanto, a mulher que quer fazer uma fertilização in vitro para ter filhos pode doar alguns de seus óvulos para outra mulher que vai passar pelo mesmo procedimento e não tem óvulos próprios. A receptora, que recebe os óvulos doados, arca com parte dos custos do tratamento da doadora, que tem assim seu tratamento financeiramente viabilizado. Essa prática não é caracterizada como comercial.
5 – Quem pode doar ou receber óvulos?
A doação e a recepção de óvulos são regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) pela resolução 2.320 de 2022. Para estar de acordo com a lei, a doação deve ser sempre voluntária e não pode envolver pagamento, ou seja, ela não pode ter caráter lucrativo ou comercial.
6 – Como é o processo para doar óvulos?
A pessoa interessada em doar os seus óvulos, na faixa de 18 a 37 anos, deve procurar uma clínica especializada em reprodução assistida ou um hospital com serviço voltado ao tratamento com óvulos doados. São realizados exames, que visam descartar doenças genéticas, infecções ou problemas ginecológicos. Além disso, a doadora não pode ter doenças como diabetes e hipertensão, já que essas comorbidades podem ter alguma predisposição genética. A avaliação inclui o histórico médico da família. Se a candidata for considerada apta para doação, ela é preparada para o processo de coleta, recebendo – por um período de 10 a 14 dias – injeções que estimulam a produção dos óvulos. Nesse intervalo, são realizados cinco ultrassons, pelos quais o processo é acompanhado. É, então, agendado o dia da coleta e, sob efeito de sedação, os óvulos são coletados. Os embriões extras podem ser congelados e armazenados para uso futuro por muitos anos. Nem todos eles sobreviverão ao processo de congelamento e descongelamento, mas isso ocorre na maioria dos casos. Ter embriões congelados pode tornar os ciclos futuros de fertilização in vitro menos dispendiosos e menos invasivos. É importante se sentir confortável para tomar decisões sobre embriões extras antes de eles serem criados.

7 – O que é e como é realizada a fertilização in vitro?
A fertilização in vitro (FIV) é uma série complexa de procedimentos que podem levar à gravidez. É um tratamento para a infertilidade, uma condição na qual a mulher não consegue engravidar depois de pelo menos um ano de tentativas de concepção natural. A FIV também pode ser usada para evitar a transmissão de problemas genéticos a uma criança. Durante a fertilização in vitro, os óvulos maduros são coletados dos ovários e fertilizados pelos espermatozoides em laboratório. Em seguida, é realizado um procedimento para colocar um ou mais óvulos fertilizados, chamados embriões, no útero, onde os bebês se desenvolvem. Um ciclo completo de fertilização in vitro leva cerca de 2 a 3 semanas. Às vezes, essas etapas são divididas em partes diferentes e o processo pode demorar mais.
8 – Como são selecionados os embriões que serão implantados?
Para se evitar gestações múltiplas, é indicado que as unidades de reprodução assistida transferiram um único embrião por ciclo de fertilização in vitro. Os embriologistas devem selecionar o embrião a ser transferido de uma coorte produzida por um casal durante um ciclo, um processo de seleção que, cada vez mais, está se mostrando preciso, não invasivo, barato, reprodutível e disponível em todo o mundo. Nos últimos anos, a seleção de embriões evoluiu em seus processos, incluindo sistemas de lapso de tempo (time lapse) e inteligência artificial. A seleção de embriões inclui testes genéticos, entre eles o teste genético invasivo pré-implantacional para aneuploidias (PGT-A) e o não invasivo (niPGT-A). No entanto, apesar destes avanços nos métodos de seleção de embriões, segundo estudo publicado em dezembro de 2024 na revista Archives of Medical Research, a taxa global de sucesso das técnicas de fertilização in vitro é de 25% a 30%. A expectativa é que tecnologias futuras possam, em breve, melhorar ainda mais os resultados, aumentando as chances de implantação bem-sucedida em mulheres inférteis, com maior prevalência de gravidez sem intercorrência (incluindo abortos espontâneos) e nascimento de bebê saudável.
9 – Por que a fertilização in vitro é um tratamento indicado para pessoas inférteis? Há outras opções?
A fertilização in vitro é um eficaz tratamento indicado para infertilidade ou problemas genéticos. Porém, antes de fazer a fertilização in vitro para tratar a infertilidade, a pessoa tentante (que deseja engravidar) pode também tentar outras opções de tratamento que envolvam menos ou nenhum procedimento que entre em seu corpo. Por exemplo, medicamentos para fertilidade podem ajudar os ovários a produzirem mais óvulos. Há também um procedimento chamado inseminação intrauterina, no qual se coloca os espermatozoides diretamente no útero, perto do momento em que o ovário libera um óvulo, chamado ovulação. Outro opção é o coito programado, um método de reprodução assistida no qual se monitora o ciclo menstrual da mulher para determinar o momento da ovulação e, assim, direcionar o melhor momento para se ter relações sexuais com mais chances de gravidez. Em geral, a fertilização in vitro é oferecida como tratamento principal para a infertilidade em pessoas com mais de 40 anos. A FIV também pode ser feita se a pessoa tiver certos problemas de saúde como danos ou bloqueio da trompa de Falópio, distúrbios da ovulação, endometriose, miomas uterinos, baixo número de espermatozoides, infertilidade inexplicável ou doença genética. A FIV também é uma opção para quem deseja engravidar após ter se submetido a uma laqueadura tubária.
10 – A jornada de reprodução assistida pode preservar a fertilidade? Algumas condições de saúde, como o câncer, podem demandar tratamentos que afetam a fertilidade. Para esses casos, a fertilização in vitro pode ser uma forma de preservar a fertilidade e ter um bebê no futuro. Os óvulos podem ser colhidos dos ovários e congelados para uso posterior, antes de realizar quimioterapia ou radioterapia, por exemplo. Além disso, os óvulos podem ser fertilizados e congelados como embriões para uso futuro. Pessoas que não têm um útero funcional ou para quem a gravidez representa um sério risco à saúde podem também escolher a FIV usando outra pessoa para realizar a gravidez. A pessoa é chamada de cedente temporária do útero. Nesse caso, seus óvulos são fertilizados com espermatozoides, mas os embriões resultantes são colocados no útero da portadora gestacional.
Criada em 14 de janeiro de 2025, a Somos OVUM é uma empresa de tecnologia voltada para a saúde da mulher (Femtech) que visa ajudar mulheres a cuidarem do futuro reprodutivo por meio de acesso facilitado a educação em saúde, congelamento de óvulos e estímulo a prática de doação de óvulos, assim como, a realização do matching entre receptora e doadora. A empresa é liderada por mulheres fortes e empoderadas, com mais de 25 anos de expertise profissional em reprodução assistida.
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