A mente pode ser nossa maior amiga ou a pior inimiga” já dizia o mestre. Observar e estudar a própria mente é um dos fundamentos da prática de Yoga, estamos sempre enfrentando problemas na vida e nem sempre o que enxergamos como problemas de fato são. A nossa mente, por vezes, enxerga as coisas de forma distorcida e se soubermos como criamos nossos problemas também saberemos como viver livre deles. Escrevo esse artigo com base no Yoga Sutra de Patanjali, um sábio que há aproximadamente 2 mil anos atrás, sistematizou o Yoga numa obra universal e tão atual hoje como na época em que foi escrito. Patanjali descreve o funcionamento da mente e o modo como ela interfere em nossas ações e emoções.
Quando eu falei sobre os problemas que criamos estava me referindo ao estado de Ávidyā ou compreensão incorreta, traduzido também como ignorância. Ávidyā se manifesta em nós de forma que se torna difícil reconhecê-la, e essa compreensão equivocada sobre as coisas, sobre o que realmente somos, sobre o mundo ao nosso redor nos faz tomar atitudes incorretas gerando infelicidade para nós e para os outros. Tão complicado quanto essa percepção equivocada é deixar de fazer algo ou evitar alguma situação pela dúvida ou por medo, mesmo que essa seja benéfica. Ávidyā é como uma névoa que encobre a mente de enxergar com clareza a realidade de todas as coisas. Patanjali descreve Ávidyā em 4 aspectos que são mais fáceis de identificar quando assim caracterizadas.
Temos a tendência em querer executar sempre as mesmas coisas que nos trouxeram bons resultados, as sensações de alegria, prazer e conforto, mas nem sempre o que fizemos em um determinado dia trará o mesmo resultado no dia seguinte. Isso vale tanto para a nossa alimentação como até mesmo na prática física do yoga; a prática que me fez bem num dia pode não ser exatamente a que eu preciso hoje e as sensações não serão as mesmas; um alimento que me tenha caído bem no dia anterior pode não me fazer bem hoje e assim por diante. A isso damos o nome de Rāga ou apego. Queremos repetir algo que foi bom ontem, mas que hoje não precisamos; queremos guardar o que devemos dar; queremos coisas que não temos, na ilusão de que aquilo trará felicidade e não apenas uma satisfação momentânea.
Os nossos hábitos condicionados nos fazem viver numa repetição infinita pela busca de prazer e satisfação com aversão àquilo que nos desagrada. Ora, se temos Rāga, apego temos também o seu oposto: Dveṣa, que significa rejeição ou aversão pelas coisas que desconhecemos, que não temos familiaridade, independente se são positivas ou negativas. Tendemos a rejeitar pessoas, pensamentos, ambientes, situações que nos remetem a experiências que trouxeram dor e frustrações.
Juntamente com Rāga e Dveṣa temos outro aspecto da mente que é o ego Asmitā. O ego tem uma função e é através dela que vivemos neste mundo. É a nossa referência como individuo em quem estamos, porém o ego quer impor suas verdades acima de todos. Ele quer sempre estar certo, quer ser sempre o melhor, o maior! Na busca pela aceitação e autoafirmação, quando o ego domina e é contrariado, pode deixar a vida como um grande pesadelo.
O último aspecto de Ávidyā é o medo; Abhiniveśāḥ ou insegurança. Deriva também do apego ao corpo e da vida, ou seja, o medo da morte. Sentimos dúvidas sobre a nossa posição na vida; temos medo de sermos julgados negativamente; não queremos envelhecer e ficamos inseguros quanto ao nosso estilo de vida quando as coisas não dão certo.
Esses 4 aspectos de Ávidyā ativas obscurecem as nossas percepções e por meio delas, em conjunto ou separadamente, atuando na nossa mente subconsciente resultam em insatisfação.
Se tudo está em constante movimento, em estado de mudança, inclusive nossos pensamentos, significa que o desejo por algo ou a repulsa, e assim como o medo, são inconstantes e no momento em que nos deixamos levar para um lado ou para o outro, acabamos perdendo alguma coisa. Se nos distanciarmos e aceitarmos tudo o que é sem essa lente de gosto ou desgosto e de querer ter razão, daremos a nós mesmos a oportunidade de novas descobertas. Yoga é estar em equilíbrio. Nem lá, nem cá, mas no caminho do meio.
Por meio da prática de Yoga melhoramos nossa habilidade de concentração, nos tornamos mais independentes, limpamos as impurezas do corpo e aprendemos a estar presentes em cada momento. Melhoramos nossa saúde, nossos relacionamentos e quando estamos presentes, a mente está calma, podemos ter clareza, não sentimos tensão nem inquietação e ficamos em um estado de paz, podendo assim reduzir os efeitos de Ávidyā. Então a aceitação pelas coisas como são, torna-se mais tranquila e o verdadeiro entendimento se dá naturalmente. Yoga é como aquecer o ouro para purificá-lo.
Nunca teremos certeza do fruto de nossas ações, por isso vale mais viver levemente desapegado das expectativas. É querer sem depender de nada para estar de um jeito ou de outro e estar presente observando as nossas ações com mais atenção em estado de Yoga, em estado de confiança. Você merece estar em paz e em contentamento sem se deixar dominar pelas coisas que deseja, pelo medo, por aquilo que sente repulsa ou querer estar sempre certo.
Namastê!
Assine
Nossa Newsletter
Inscreva-se para receber nossos últimos artigos.
Conheça nossa política de privacidade
Compartilhe:
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)
No comment yet, add your voice below!