Não me era estranho o nome nem a origem, mas precisei dar um par de telefonemas para amigos me contarem um pouco da história desta vinícola situada no meio da Serra da Estrela
Um dia estava no meu restaurante em SP e a nossa querida Marilia Rocha me trouxe duas garrafas de vinho com um sorriso malandro, típico de quem é do Norte de Portugal, e disse: “Chef, você precisa provar esses vinhos da Serra da Estrela”. Um se chamava Naco e o outro 625, ambos assinados pela Casa Américo.
Não me era estranho o nome nem a origem, mas precisei dar um par de telefonemas para amigos me contarem um pouco da história desta vinícola situada no meio da Serra da Estrela.
Gostei muito da degustação. E no dia seguinte apareceu em minha vida Beatriz Caseiro, diretora de exportação da casa, da qual vamos falar muito ainda nesta crônica.
E aqui temos que sair rapidamente do mundo dos vinhos para falarmos do queijo mais famoso de Portugal: Serra da Estrela DOC. Este queijo – ao longo dos últimos anos e sobretudo após a entrada de Portugal na comunidade europeia, provocou paixões e controvérsias nos países habituais de queijos cremosos como a França e a Suíça. Feito com leite de ovelha, o queijo da Serra remonta ao século XII sendo o mais antigo dos queijos DOC de Portugal. Encontramos ele fresco, semicurado e curado.
Mas vamos voltar à Casa Américo.
Estava eu com a d. Lurdes tomando um café no Pipo, em Alfândega, quando chegou Beatriz e a sua irmã Dora, que vieram me buscar para passar um dia memorável nas adegas da Casa Américo e na sua sede de turismo Quinta do Paço. A Beatriz é daquelas mulheres tipicamente portuguesas: afáveis, com conhecimento enorme de vinhos, mercados internacionais e canais de distribuição no mundo inteiro. Durante a viagem, falamos do Brasil, da sua recente presença na feira ProWine em São Paulo e no jantar de degustação que fizemos no nosso restaurante.
Fomos subindo a Serra e, de repente, aquilo que eu esperava: a adega. Nos domínios da família Seabra, fomos recebidos pelo enólogo Pedro Pereira, o administrador David Lopes, e a engenheira Felipa. Depois da visita pelas caves, nos reunimos na sala de provas para degustar uma parte do portfólio da empresa.
Aqui e antes de ir para o almoço na Quinta do Paço, fiquei apaixonado pela “Casa Américo Encruzado 2019”. Para os leitores que tiveram paciência de chegar até este momento, tive um almoço tradicionalmente português, que me levou a pensar que o terroir da Serra da Estrela é magnifico, cheio de nuances, de características absolutamente sui generis e territórios ainda quase inexplorados.
Após ter provado 14 vinhos, voltei para Alfândega da Fé com as duas irmãs Caseiro. Pela noite, decidi ter uma missão: o mercado brasileiro merece conhecer a Serra da Estrela, merece harmonizar o melhor queijo de Portugal com algum dos melhores vinhos da região do Dão, hoje apelidado de Sub-região da Serra da Estrela. A família Seabra nasceu do sonho do sr. Américo, que emigrou para os EUA em 1967. Como quase todos os portugueses, o sonho da volta à terra Natal é a luz que ajuda no dia a dia a enfrentar as dificuldades de viver numa terra estranha.
Hoje, 150 hectares de vinhas e um chapéu representam uma história de excelência, de amor por um território e de vontade de vencer no mesmo mundo que deu oportunidade para aqueles que saíram de Portugal conquistarem a independência de suas vidas e o patrimônio de suas origens.
Um beijo, até a próxima.
Vale conhecer: https://www.casaamerico.pt/
Vinhos recomendados:
- 625 mts branco
- Encruzado 2019
- Casa Américo reserva tinto
- Casa Américo Touriga nacional
(vinhos que estarão disponíveis no Brasil no primeiro trimestre de 2024)
Chef Eduardo de Castro é jornalista de formação, mas foi na gastronomia que ele percebeu que o seu amor pelas panelas era maior do que pela escrita, mas mesmo assim trará seus contos quinzenalmente na Dolce Morumbi
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