Cornélias de maio

Dolce Selfcare

Cecília Trigueiros

A proximidade do Dia das Mães me remeteu à espetacular história de uma notável matriarca romana, Cornélia

Os artigos assinados não traduzem ou representam, necessariamente, a opinião ou posição do Portal. Sua publicação é no sentido de informar e, quando o caso, estimular o debate de problemas e questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

Cornélia Africana, mãe dos Gracos por Angelica Kauffmann, Public domain, via Wikimedia Commons

No século II A.C. viveu a filha de um dos maiores generais romanos da época, Cipião Africano. Ela cresceu em um ambiente de importância político-militar e rodeada pela nata da sociedade. Sua educação foi privilegiada, sendo instruída em literatura, filosofia e política, crescendo inteligente e culta. Como se não bastasse, a filha do general passou na fila da beleza 10 vezes!

Bonitas, as mulheres não recebiam esse tipo de formação, nem A.C., nem muito após D.C. e, infelizmente, até os dias de hoje em diversos países.

Continuando, Cornélia casou-se com Tibério, um político romano influente e popular, que também era conhecido por sua dedicação ao povo e reformas sociais. Juntos, tiveram doze filhos. O casal compartilhava ideais políticos e lutava por uma Roma mais justa.

Agora vamos às lendas urbanas romanas:

Certa noite, Tibério encontrou um casal de serpentes no seu quarto e os adivinhos da época interpretaram o significado do presságio da seguinte maneira: proibiram-no de matá-las e mandaram que ele deixasse escapar apenas uma. Os videntes afirmaram que se ele matasse o macho, seria como trazer a morte a si mesmo, se a fêmea, morreria Cornélia.

Que enrascada! Se ficar o bicho pega, se correr…

Apaixonado pela mulher, deu cabo do macho. Pouco depois morreu assassinado pelos opositores do senado.

Estátua por Jules Cavelier (francês, 1814-1894): Cornélie, mãe dos Gracchi (Cornelia Africana), grupo de mármore, altura: aproximadamente 1,60 m - conforme gesso exposto na exposição universal de 1855, salão de 1861, adquirido em 1861, depósito do Museu do Louvre - n° Inv RF 164
Imagem por Rama, CC BY-SA 2.0 FR, via Wikimedia Commons

E a viúva? Não se deu por vencida! Tomou toda a responsabilidade pela casa e, como mãe dedicada que não apenas alimentava e cuidava dos filhos, ela também se empenhava em educá-los da melhor maneira possível.

A educação era baseada em valores sólidos, como integridade e respeito. Ela acreditava que a verdadeira riqueza de uma pessoa estava em sua virtude e caráter e não meramente em bens materiais.

A romana ensinou a importância de serem corretos em todas as suas ações e palavras. Ela os encorajava a serem sinceros e transparentes em seus relacionamentos, sempre agindo com integridade e honra.

Pausa para um lembrete: nessa época existia o peso colossal da palavra “honra”.

Além disso, ela reforçava a importância de não somente estudar, como também a dedicação aos estudos. A matriarca acreditava que o conhecimento era a chave para o sucesso e realização pessoal, por isso queria que fossem bem instruídos e preparados para enfrentar os desafios da vida.

Estou ficando um pouco incomodada com a supermãe Cornélia, alguém mais?

Virando a página, a bela filha do general que derrotou a maior pedra na “sandália” romana, Aníbal, o Cartaginês, iluminou a cria de maneira formidável. Os filhos de Tibério eram cultos, adquiriram pensamento crítico e se preocupavam com questões sociais e políticas do Estado.

Resumindo, ela foi totalmente “fora da curva” para a época e, vou mais longe, até para os dias de hoje!

Cornélia Africana, mãe dos Gracos
Imagem por Noël Hallé, Public domain, via Wikimedia Commons

Nova pausa para fofoca quente diretamente das arquibancadas do Coliseu:

Certa noite, Cornélia recebeu uma socialite coberta de joias e oca por dentro, vocês conhecem o tipo…Bom a tal “perua” A.C., notou a falta de ouro enfeitando o corpo da anfitriã e mais do que depressa, perguntou:

“Mas onde estão as suas joias?”

Foi então que a progenitora e futura mãe de dois célebres senadores romanos trouxe seus filhos e respondeu:

“Estas são as minhas joias.”

Que tapa com luva de pelica, não bonitas? Essa entrou para a história. Literalmente!

Os louros de todo seu esforço foram colhidos quando seus dois filhos, Tibério e Caio Graco seguiram o exemplo assertivo materno. Os irmãos Graco desempenharam um papel crucial na história política da República Romana. Suas ações e ideais reformistas marcaram profundamente a sociedade da época e tiveram consequências de longo alcance. Graças a eles (e ela), o curso da história da república foi modificado, abrindo caminho para transformações futuras no sistema político e social.

A figura da protetora e mulher virtuosa está imortalizada em estátuas, pinturas e livros.

Na antiguidade, Cornélia deu a amostra suprema de maternidade exemplar. Sua vida serve como um ponto de referência para as mães de hoje, que enfrentam desafios diferentes, mas compartilham do mesmo desejo de dedicação aos filhos.

Algumas qualidades fundamentais continuam sendo essenciais, como o amor incondicional, paciência (nem sempre…), compreensão (ah, a adolescência…) e a capacidade de educar para um mundo cada vez mais complexo.

Por fim, eu diria que, tanto a mãe dos Gracos, quanto as mães contemporâneas, compartilham o mesmo objetivo: criar filhos amorosos, responsáveis e felizes. Embora as circunstâncias e os desafios sejam diferentes, a essência da maternidade permanece inalterada.

Não é novidade que as progenitoras têm um papel fundamental na formação e educação e é através do amor, dedicação e sabedoria que conseguem moldar o futuro das próximas gerações. Nem sempre conseguimos fazer tudo tão perfeitamente e podem ter certeza que ela também não! Mas essa parte ninguém conta…(sic!)

Pronto, agora nem eu, nem nenhuma bonita mamãe está se sentindo a “primeira bolacha do pacote” depois de ler a estória da supermãe!

À propósito, bonitas Cornélias de maio, Feliz Dia das Mães antecipado!

Cornelia mãe dos Gracos de Alessandro Varotari, Ca' Rezzonico - Pinacoteca Egidio Martini Veneza
Alessandro Varotari, Public domain, via Wikimedia Commons
Imagem por Lalupa, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

Roma, Tabularium. Pedestal da estátua de Cornélia Africana, mãe dos Gracos. A base foi encontrada em 1878 perto da igreja de S. Angelo em Pescheria. Tendo em conta a inscrição superior (mas mais recente), é possível que tenha sido utilizada para duas obras diferentes, e que a inscrição inferior (mais antiga) seja a relativa à estátua citada por Plínio e Plutarco

Cecília Trigueiros é formada em Marketing e maquiadora profissional e especialista em autocuidado e beleza. 

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