Entender a arte contemporânea pode ser uma tarefa muito complexa cuja jornada talvez seja por buscar identificar o que ela não é
Projeto Duchamp Revisitado - A Arte se alimentando da Arte
Da Redação
Há quase 43 anos atrás, chegava em São Paulo um jovem chileno trazendo em sua bagagem uma formação acadêmica artística e uma grande vontade de dialogar com outros artistas. Logo se instala na região do Alto da Boa Vista, dividindo uma casa com outros colegas, também artistas. Neste período, nasce a Ateliê Contempoarte, uma escola de arte-educação com o intuito de ser um local para ajudar artistas a criarem seus trabalhos, mas tão importante quanto, fora de dar-lhes uma formação conceitual e técnica para ajudá-los a se desenvolverem como profissionais.
“Desde o início, eu me preocupei em ter um programa, em ter uma proposta pedagógica, para ser abordada e discutida e implementada por seus frequentadores… sempre me preocupei em ter um programa de arte-educação”, relembra Waldo Bravo, o jovem chileno citado no parágrafo anterior.
Dando ênfase na arte contemporânea, se contrapondo em parte à ateliês que se concentram em uma formação mais acadêmica, clássica e tradicional, a Contempoarte incentiva artistas para uma reflexão dos momentos atuais e expressá-los, artisticamente, em formas que tentem, pelo menos, responder a anseios atuais.
Claro que o conhecimento da História da Arte é fundamental para qualquer projeto de arte contemporânea, “e para isso é muito importante o entendimento não apenas do classicismo, mas também da Arte Moderna”, acrescenta Waldo.
Ter repertório é fundamental. Conhecer as diversas escolas artísticas e entender que o que fora feito, em algum momento, fora arte do seu tempo (contemporânea), uma arte que “expressava as inquietações de sua época”, explica o artista.
Para Waldo, pensar a arte é muito importante para a busca da inspiração: “dúvidas são muito mais estimulantes do que as certezas”. Elas que definem o ponto de partida para a jornada artística.
Na proposta de seu método , Waldo cria grupos pequenos, com no máximo 6 integrantes de forma que possa acompanhar cada artista individualmente.
“Grupos menores permite um acompanhamento e uma orientação individualizada, mais pessoal… converso com cada artista, e busco orientá-lo e entender suas necessidades para o desenvolvimento de seu trabalho… e ao mesmo tempo, o grupo permite a convivência de artistas com diferentes níveis de formação, o que estimula a troca de ideias”, relata Waldo.
O ateliê conta com alunos que já estão há mais de 20 anos, desenvolvendo seus trabalhos ao lado de quem está começando.
“As aulas são um lapidar do processo criativo de cada artista, para que ele possa desenvolver uma identidade, uma linguagem pessoal, ou seja, aquilo que podemos entender como “estilo” – isso só se consegue através de uma raiz muito consistente e que só acontece quando há uma busca interior. E é neste processo, de dentro para fora, que se desenvolve o estilo do artista”, pontua Waldo.
“A ideia é que o artista possa expressar suas memórias, sua história, convicções e colocá-las em sintonia com o tempo presente, fazendo uma arte do seu tempo, do hoje, portanto, contemporânea, ou seja, algo que tente achar respostas às suas inquietações”, acrescenta o artista.
Waldo afirma que entender a arte contemporânea é uma tarefa muita complexa. Avisa que talvez seja melhor identificá-la pela exceção, ou seja, buscar identificar com clareza o que ela não é, em primeiro lugar. E talvez uma boa forma de fazer este caminho e compreender o que é Arte Moderna. Não que seja, necessariamente, mais fácil, mas se descobre que assim, pelo menos, fica menos difícil.
O que faz um artista ser relevante está relacionado com o grau de aporte que ele faz para o desenvolvimento da própria história da arte. Algo que traga uma certa originalidade, seja na técnica, na estética ou simplesmente por apresentar um resultado que contrarie ou desafie normas, padrões ou estilo vigentes, apresentando algo novo ou questionador. Confrontar a realidade, dialogar com ela através da arte deve ser a atitude que um o artista deve sempre possuir.
Desde sua abertura, o Ateliê já recebera mais de mil artistas . E muitos deles hoje são profissionais de sucesso com talento reconhecido, expondo em várias galerias, até na bienal internacional da arte representando a cultura brasileira, trabalhos forjados por artistas saídos diretamente do Ateliê Contempoarte.
Não há qualquer restrição à idade de seus alunos. Há convívio entre jovens que estão entrando na adolescência com senhores e senhoras já da altura de seus 80, 90 anos!
Uma das propostas também do ateliê, é a de ajudar artistas a ingressar no mercado de trabalho, apontando quais caminhos mais adequados para que possam adentrá-lo de uma forma mais consistente e profissional.
Uma destas formas é orientar o artista em como expor seu trabalho. A Contempoarte organiza exposições desde sua fundação. São, basicamente, duas exposições por ano. Em 2024, o Ateliê deve chegar a 40 exposições em sua história! Uma, a 39ª será agora em fevereiro e a 40ª, no segundo semestre.
Para a formação do artista, participar de uma exposição não é apenas colocar seu trabalho para ser apreciado em uma visita (e, possivelmente adquirido), mas se trata de uma experiência que atravessa um tema proposto pelo curador e um constante diálogo com os demais artistas da exposição, de forma que cada trabalho em conjunto com os demais formem uma leitura consistente pela observação do visitante.
No final, para o artista, é fundamental o conhecimento desses bastidores, de forma que ele possa amadurecer seu profissionalismo e entenda o que é, na prática, a montagem de uma exposição.
Waldo incentiva a troca de ideias entre artistas, considerando que, por vezes, o trabalho de um artista é bastante solitário, e ao dialogar com seus contemporâneos, o fazem entender melhor suas inclinações e canalizar melhor suas inspirações.
Para a exposição que estreia em fevereiro, a Contempoarte quer trazer à reflexão qual o papel da arte contemporânea em sua tratativa estética, considerando o relativismo atual do belo.
Tendo como uma grande referência o pintor e escultor francês Marcel Duchamp (1887-1968), Waldo Bravo incentiva a reflexão profunda sobre a arte e o que ela representa na cultura. Ele entende que é a busca de novas respostas que move o artista, fazendo-o liberar seu talento, que por vezes, pode sugerir a desconstrução de algo aparentemente óbvio para sugerir algo novo em seu lugar.
Segundo Waldo, talvez Duchamp possa ter sido um dos grandes nomes de toda a história da arte, justamente por ter questionado a função estética da arte, propondo uma outra forma de expressar sua relação com a racionalidade, demonstrando ser ela, a arte, capaz de alcançar domínios inacessíveis à simplificação racional, ou seja, há algo nos objetos que estão para além de sua mera funcionalidade.
Waldo Bravo trabalhando em sua obra para o “Projeto Duchamp Revisitado – A Arte se alimentando da Arte”
As atividades desenvolvidas no Ateliê Contempoarte buscam traçar uma relação ampla com a arte atual, através do estudo de manifestações multidisciplinares, estimulando o desenvolvimento de expressões e linguagens de identidade pessoal.
Arte sempre fora fundamental na relação do ser humano com o mundo e com as coisas, dando significado à vida através das expressões de nossos anseios e receios diante da realidade.
O Ateliê Contempoarte promove a arte dando espaço, conhecimento, técnica e oportunidades àqueles que desejam e buscam expressar suas ideias e reflexões sobre a vida e o mundo em uma linguagem que produz sentimentos e sensações ao nível da nossa capacidade de apreender tais manifestações humanas de forma a relacioná-las com o nosso dia a dia.
Conheça mais sobre o Ateliê Contempoarte:
https://www.contempoarte.com.br/
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Ateliê Contempoarte ajuda a alcançar sonhos e revela talentos
Waldo Bravo é um artista curador e arte-educador com larga experiência em análise e seleção de arte contemporânea, tendo organizado muitas exposições, tanto para instituições, galerias e para artistas independentes. Tem participado como jurado em diversos salões de arte no estado de São Paulo e também em bancas examinadoras de arte contemporânea. No setor de arte-educação, tem desempenhado um papel fundamental na formação de muitos artistas brasileiros. Alguns dos seus artistas alunos têm participado de importantes eventos artísticos, nacionais e internacionais, inclusive da Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Como artista interdisciplinar, Bravo trabalha com artes integradas. Tem obras expostas em galerias e museus de diversos países e já esteve presente em mostras de grande prestígio, tais como Panorama da Arte Atual Brasileira no MAM, III Bienal Nacional de Santos, X Bienal Internacional de Arte de Valparaiso no Chile, Bienal de Vilnius na Lithuania, 1a Bienal de Gravura de Santo André, IV Bienal do Sertão de Artes Visuais, entre outros. Atualmente é orientador e curador do Ateliê Contempoarte em São Paulo.
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Comentários
Maravilhoso espaço! As aulas no ateliê são um respiro de arte em meio ao caos da cidade de pedra!