Todas as mulheres do mundo versus Thomas Edison

Dolce Selfcare

Cecília Trigueiros

Naquela noite, os cariocas habituados à tênue luz das lamparinas, sentiram o arrebatamento de uma nova era

Os artigos assinados não traduzem ou representam, necessariamente, a opinião ou posição do Portal. Sua publicação é no sentido de informar e, quando o caso, estimular o debate de problemas e questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

Fonte da imagem: Página Brazil Imperial (Facebook)

O Rio de Janeiro, então capital do país, foi o cenário escolhido para uma revolução silenciosa e poderosa que se preparava para transformar a vida urbana no Brasil. Às 20 horas do dia 1º de setembro de 1889, as primeiras lâmpadas elétricas acenderam-se, iluminando não apenas as ruas, mas também os anseios de um povo que aspirava por progresso.

Naquela noite, os cariocas habituados à tênue luz das lamparinas, sentiram o arrebatamento de uma nova era. Os murmúrios de expectativa se espalharam pelas ruas, enquanto os moradores buscaram compreender a magnitude daquele evento inédito.

Deve ter sido incrível, não bonitas iluminadas?

Mas, como toda moeda tem dois lados, o upgrade para as vistas cansadas veio acompanhado de um fato inexorável: a claridade colossal expôs todas as mulheres, até então protegidas pela meia-luz das lamparinas e velas.

Mas, protegidas de quê? Ah, bonitas…

Imaginemos o primeiro baile pós-Edison, a grandiosidade do evento esmeradamente aguardado pela elite carioca, agora com cada canto do salão esplêndido iluminado.

Fonte da imagem: Página Brazil Imperial (Facebook)

As mulheres trajando os mais requintados vestidos de seda e rendas, farfalhando de um lado para o outro e abanando leques de madrepérola. Já os penteados, bonitezas, eram uma obra de arte: elegantes e complexos, com coques altos enfeitados por tranças e mechas soltas que emolduravam o rosto. Acessórios como flores, laços, grampos e penas também eram bem-vindos.

E toda essa produção foi ladeira abaixo quando os holofotes do baile, que era um espetáculo de glamour e sofisticação, tornou-se, para elas, um palco de estranha vulnerabilidade.

Enquanto os flertes e as danças giraram ao som das valsas, olhares de descontentamento se cruzaram em meio ao brilho. O ambiente não apenas valorizou a jovialidade, como também exibiu escancaradamente as marcas do tempo que antes se ocultaram sob camadas artifícios e o quê mais?

Pouca iluminação! Mil vaias para Edison!

As rugas, mechas grisalhas que insistiam em emergir, manchas que assinalavam a passagem do tempo, tornaram-se protagonistas indesejadas diante do progresso. E do pretendente…

O que antes havia sido um inegável encanto, agora se converteu em um fardo de horror e vergonha para aquelas que tinham sonhado em serem veneradas como musas.

Já a ala masculina não estava imune à essa revelação. De início, levaram um susto daqueles. Foi como marcar um primeiro encontro conhecendo a pessoa somente pela imagem das redes sociais e descobrir que a foto estava repleta de photoshop!

Que mico! E tem mais, o fenômeno aconteceu em âmbito mundial, ou seja, nenhuma mulher estava salva da tal odiosa luz elétrica.

Mas aos poucos, as manchetes mudaram, o mundo deu outra volta e novos hábitos se encaixaram na rotina do término da Era Vitoriana.

Digamos que uma epifania coletiva dominou a mente dos homens, fazendo-os perceber que, por detrás das fantasias de beleza idealizada, estavam mulheres repletas de histórias, de vidas pulsantes que contavam e gritavam para serem reconhecidas.

Os rostos, antes emoldurados por sorrisos encantadores, agora se mostraram marcados por experiências dolorosas e alegres, revelando a fragilidade da condição humana.

A descoberta de que as musas, originalmente elevadas a um pedestal irreal, eram, na verdade, tão humanas quanto eles, dissolveu a aura de idealização que cercava aquelas figuras femininas.

Assim, aquela noite foi a inauguração de tantas outras, onde homens e mulheres se enxergaram de verdade, ainda que no mais profundo silêncio da compreensão mútua, abraçaram a vulnerabilidade que faz parte da nossa natureza. Foi um baile, sim, mas um baile que reescreveu as regras da percepção: uma dança de certezas e aceitação sob a luz que tudo revela.

E Thomas Edison? Deve ter sido o homem mais execrado do ano de 1889!

Até a próxima e apaguem a luz porque o planeta agradece!

Thomas Edison com lanterna de segurança para mineiros alimentada por bateria de armazenamento
Imagem de English: Lueder, Public domain, via Wikimedia Commons

Cecília Trigueiros é maquiadora profissional, especialista em autocuidado, beleza e promove cursos de automake e ginástica facial.
“Ajudo a fazer as pazes com o espelho” 

Siga Cecília no Instagram!

Publicidade Dolce Morumbi

Assine nossa Newsletter

Inscreva-se para receber nossos últimos artigos.

Conheça nossa política de privacidade

Garanta a entrega de nossa Newsletter em sua Caixa de Entrada indicando o domínio
@dolcemorumbi.com em sua lista de contatos, evitando o Spam

Artigos recomendados

Ainda não há comentários. Deixe o seu abaixo!


Deixe uma resposta