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O que Afrodite diria de nós se ela visse o mundo hoje?

Design Dolce sob imagem por Marinos Karafyllidis em Canva

O mito de Afrodite não é apenas lembrança de sua beleza, mas sim um guia através das dificuldades quixotescas de ter uma vida mortal num corpo cheio de emoções e desejos

Os artigos assinados não representam, necessariamente, a opinião do Portal. Sua publicação é no sentido de informar e, quando o caso, estimular o debate de questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

Por Patrícia de Luna

Vamos começar essa jornada por uma viagem no tempo até o Banquete de Platão. A única mulher citada na história é Diotima, um codinome para Aspásia, a sacerdotisa de Afrodite, que, segundo Sócrates, teria ensinado a ele tudo sobre o amor. Na ocasião, ela diz que Afrodite impulsionou Eros a buscar o belo e que o desejo seria uma busca por esse belo, seja lá o que ele significa para cada um de nós.

Freud também caiu nos encantos de Afrodite. Na sua sala em Londres, havia uma abundância de imagens e estátuas da deusa. Ele usava um anel com a deusa esculpida, inclusive sua paciente, a Princesa Maria Bonaparte, presenteou-lhe com uma Afrodite de bronze. Apesar de causar fascínio nele, foi Eros que dominou seu trabalho.

As linhas gerias da psicanálise foram amplamente usadas pela mídia como gatilhos para o inconsciente. Assim surgiu uma miríade de produtos usando esse arquétipo – pouco a pouco, a deusa foi sendo reduzida à beleza e ao desejo no sentido de satisfação pessoal. Os dons simbolizados por Afrodite em nosso mundo foram evanescendo e não uniam mais comunidades, mas serviam ao autoprazer.

Design Dolce sob imagem por Paolo Gallo Photo em Canva

Na antiguidade era diferente, consideravam-na a deusa que mistura tudo, para qual o amor não é gratificação, mas simbiose da troca. O que nos sobrou após anos de patriarcado, propaganda e um amor romântico reeditado por Hollywood foi a distorção da beleza, do amor, do sexo e dos relacionamentos amorosos. As relações ficaram líquidas, o ghosting virou o ato heroico da falta de compromisso. Imperou a falta de trocas reais e em todos os níveis.

Num sentido afrodisíaco, a beleza vinha de um sentir-se bem na própria pele, de um prazer de estar em si. Porém, já não é mais assim. O que seria hoje de Helena Fourment, representando uma Vênus roliça e com leve papada para Rubens? Talvez mais uma na fila da plástica e da harmonização facial a buscar o mesmo perfil padronizado por uma indústria universal.

Até o erótico foi banalizado. Onde está a imaginação tão necessária ao erótico? Proust dizia que as mulheres bonitas, ele deixava para os homens sem imaginação. Fico pensando que se ele precisasse de imaginação para o sexo, hoje, ele seria celibatário, pois a massificação das referências sexuais tira o espaço da criatividade. O erotismo perdeu sua necessária brisa de mistério.

Design Dolce sob imagem por LUke1138 em Canva

Afrodite enfrentou uma longa jornada desde o nascimento do seu mito como deidade no Oriente Médio até se tornar o ícone de garota glamourosa dos anos 1920, à mulher plastificada dos anos 2000. Mas já é chegada a hora de um resgate do feminino: precisamos saber respeitar nosso corpo e vê-lo como um grande manancial de conexão entre a vulva, a mente e o coração, como também devemos retomar a sedução a partir de um prazer de estar na nossa própria pele sem importar o que a mídia determinou como belo.

O mito de Afrodite não é apenas lembrança de sua beleza, mas sim um guia através das dificuldades quixotescas de ter uma vida mortal num corpo cheio de emoções e desejos.

Patrícia de Luna é escritora de romances inspirados em história mítica, analista junguiana e autora do livro “Rio de Vênus”

Colaboração da pauta:

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