Por Renata Freitas
Quase um século após a conquista do direito ao voto pelas mulheres no Brasil, em 1932, muitos voos foram alcançados. A presença feminina cresceu na política, no mercado de trabalho e na alta liderança. Há uma evolução clara, mas os desafios ainda permanecem, principalmente no ambiente corporativo. Atualmente, 37% dos cargos de liderança sênior no Brasil são ocupados por executivas, segundo a 20ª edição do estudo “Women in Business: Pathways to Parity“, da consultoria Grant Thornton, divulgado em março do ano passado. Esse índice, porém, sofreu uma leve redução em relação a 2023, quando era de 39%. O que mostra que, apesar do crescimento, ainda há barreiras a serem superadas. Demos um primeiro passo, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Apesar desse cenário, o mercado de trabalho apresenta avanços. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, revelou que entre janeiro e agosto de 2024, o saldo de empregos formais para mulheres cresceu 45,18% em relação ao mesmo intervalo de 2023. O dado indica que mais empresas estão contratando mulheres, mas a questão salarial ainda persiste: a remuneração média de admissão feminina continua 10%, a 11% menor do que a masculina. Meio óbvio, não é? No fim das contas, os homens ainda saem ganhando, mesmo quando as estatísticas mostram avanços na inclusão feminina no espaço profissional.
Faz sentido. Um relatório recente do ManpowerGroup, destaca que quase metade das empresas globalmente, 48% reconhecem que suas iniciativas de igualdade de gênero estão atrasadas ou não foram definidas. Em Portugal, esse percentual é de 46%. Além disso, o estudo revela que políticas de trabalho flexível são consideradas eficazes por 37% dos empregadores mundiais para garantir a diversidade de talentos. Esses dados reforçam a necessidade de políticas corporativas que promovam a equidade de gênero e criem ambientes mais inclusivos.

Apesar das conquistas obtidas, um dos maiores desafios para as mulheres no mercado corporativo continua sendo a ascensão para cargos de alta gestão. Um estudo da Lean In e McKinsey aponta que, para cada 100 homens promovidos a cargos de gerente, apenas 65 mulheres recebem a mesma oportunidade. Essa diferença estrutural ao longo da carreira contribui para a menor representatividade feminina no topo das organizações. Além disso, um estudo do Boston Consulting Group, revelou que empresas com maior diversidade de gênero em posições de liderança são 19% mais inovadoras e obtêm receitas 9% superiores às concorrentes com menor representatividade feminina. Esses números reforçam o impacto positivo da inclusão de mulheres em cargos estratégicos para o crescimento sustentável das organizações.
O acesso à educação também é um fator essencial para ampliar as oportunidades das mulheres no mercado. Em 2024, elas representaram 60,59% dos inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), reafirmando sua busca por qualificação e desenvolvimento de carreira. Mas não se trata apenas de presença, e sim de resultados: em 2023, 76% dos candidatos que alcançaram a nota máxima na redação eram mulheres. Esse desempenho evidencia a capacidade feminina, ao mesmo tempo em que reforça a importância de iniciativas que incentivem sua participação em todas as áreas do conhecimento, especialmente naquelas onde ainda enfrentam barreiras, como as ciências exatas.
A transformação desse cenário exige um esforço conjunto. Corporações que investem em programas de mentoria e desenvolvimento profissional para mulheres criam ambientes mais diversos e produtivos. É preciso garantir que a representatividade feminina vá além das cotas e impacte verdadeiramente as estruturas de poder, como foi na luta pelo voto feminino.

Mais do que uma questão de justiça social, a presença feminina no comando tem um impacto direto no crescimento econômico e no desenvolvimento sustentável. O debate sobre diversidade não pode ser apenas uma tendência: ele precisa se consolidar como um compromisso real de toda a sociedade.
Afinal, promover a equidade de gênero não é apenas uma pauta corporativa, mas um pilar essencial para a construção de mudanças estruturais que vão além do discurso. As empresas precisam rever seus processos internos, eliminar barreiras invisíveis e adotar práticas que incentivem em todas as áreas. Apenas assim será possível construir um mercado de trabalho mais justo e equilibrado para todos. Se perguntarmos a alguém onde gostaria de trabalhar, as respostas provavelmente girariam em torno de lugares acolhedores, que proporcionam crescimento e valorizam cada profissional pelo seu talento — independentemente de gênero, etnia ou orientação sexual.
Assim como a conquista do voto feminino há quase um século representou uma virada histórica, a equidade no mercado de trabalho deve ser encarada com a mesma urgência. A luta por direitos não terminou e, assim como foi necessário mobilização para garantir o sufrágio feminino, alcançar a igualdade profissional exige mudanças estruturais e esforços contínuos.
Por fim, é essencial que a luta pela igualdade continue sendo pautada por dados e ações concretas. O compromisso com a equidade de gênero deve ser contínuo, e não apenas lembrado em datas comemorativas. Somente com esforços consistentes poderemos alcançar um cenário verdadeiramente igualitário, transformar o futuro das próximas gerações e honrar o legado daquelas que lutaram antes de nós.
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