Skip to content

A linguagem como ferramenta de exclusão

Design Dolce sob imagem por yanyong em Canva

A linguagem tem o poder de transformar realidades, e é nosso dever utilizá-la de forma responsável e consciente

Os artigos assinados não representam, necessariamente, a opinião do Portal. Sua publicação é no sentido de informar e, quando o caso, estimular o debate de questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

Por André Naves

A linguagem é um dos pilares fundamentais da construção social. Ela não apenas reflete a realidade, mas também a molda, influenciando percepções, comportamentos e relações humanas. Quando utilizada de forma errônea ou mal-intencionada, a linguagem pode se tornar uma ferramenta poderosa para perpetuar desigualdades, aprofundar barreiras sociais e reforçar preconceitos e estereótipos.

Esse fenômeno tem se manifestado de maneira alarmante em diversos contextos políticos, especialmente nos círculos extremistas, onde discursos excludentes e retrógrados ganham espaço, muitas vezes sob o pretexto de “liberdade de expressão” ou “eficiência produtivista”. O governo argentino, liderado por Javier Milei; e figuras como Elon Musk, com suas conexões com o governo Trump, são exemplos de como o uso inadequado da linguagem e a imposição de ideologias produtivistas podem ampliar a exclusão e a desumanização.

O caso do governo argentino, que tentou alterar a denominação das pessoas com deficiência mental para termos pejorativos e arcaicos, é emblemático. Tais termos, há mais de um século em desuso, não apenas ferem individualmente, mas também reforçam estereótipos prejudiciais. Ao associar pessoas com deficiência a ideias de incapacidade e improdutividade, o discurso oficial perpetua um entendimento reducionista que ignora a diversidade e a potencialidade desses indivíduos. Essa prática não é apenas um retrocesso linguístico, mas também um retrocesso social, pois reforça barreiras já existentes e dificulta a inclusão plena dessas pessoas na sociedade.

Design Dolce sob imagem por NiseriN em Canva

Publicidade | Dolce Morumbi®

A linguagem, nesse contexto, funciona como um mecanismo de poder. Ao resgatar termos pejorativos, o governo argentino não apenas desrespeita a dignidade humana, mas também legitima uma visão de mundo que marginaliza e exclui. Esse tipo de discurso, quando adotado por figuras públicas e governos, tem o potencial de normalizar preconceitos, tornando-os parte do senso comum e, consequentemente, dificultando a luta por direitos e igualdade.

Paralelamente, a mentalidade produtivista, defendida por figuras como Elon Musk e amplamente adotada por movimentos radicais, reduz a individualidade humana à mera capacidade de gerar riqueza monetária. Essa perspectiva, que ignora outras dimensões da existência humana, como a criatividade, a solidariedade e a diversidade, é profundamente excludente. Ao valorizar apenas a produtividade econômica, essa ideologia despreza aqueles que, por diversas razões, não se encaixam nesse modelo, sejam eles pessoas com deficiência, idosos, artistas ou quaisquer indivíduos cujas contribuições para a sociedade não possam ser medidas em termos estritamente monetários.

Essa mentalidade pseudo-eficiente, que está na gênese do materialismo, seja ela trumpista, bolsonarista, anarcocapitalista ou representada por partidos políticos como a AfD na Alemanha, o Chega em Portugal ou o Vox na Espanha, têm raízes em uma visão de mundo que prioriza o lucro em detrimento do bem-estar humano. Ao impor uma lógica produtivista, esses movimentos e líderes políticos não apenas reforçam desigualdades, mas também promovem uma cultura de descarte, onde aqueles que não são considerados “úteis” são marginalizados e excluídos.

Não é exagero lembrar que o desdobramento ideológico dessa postura já causou tragédias imensuráveis para a humanidade. O descarte de seres humanos nas câmaras de gás, campos de concentração e massacres em massa durante o regime nazista é um exemplo extremo, mas não isolado, das consequências de uma visão de mundo que desumaniza e exclui. A linguagem desempenhou um papel crucial nesses contextos, sendo utilizada para desumanizar grupos inteiros, justificando atrocidades em nome de uma suposta “eficiência” ou “pureza”.

Design Dolce sob imagem por Mike Chai em Canva

Publicidade | Dolce Morumbi®

Hoje, embora não estejamos enfrentando exatamente os mesmos horrores, o uso errôneo da linguagem e a imposição de ideologias excludentes continuam a ter consequências profundas. A exclusão social, a miséria e o aniquilamento de possibilidades criativas e humanas são resultados diretos dessas práticas. Quando a linguagem é usada para reforçar estereótipos e preconceitos, ela contribui para a construção de uma sociedade mais desigual e menos solidária.

Diante desse cenário, é fundamental estar atento e resistir à onda retrógrada que avança em diversos países. A luta social contra o uso errôneo da linguagem e as ideologias excludentes é uma luta pela dignidade humana e pela construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Isso implica não apenas denunciar práticas e discursos prejudiciais, mas também promover uma cultura de respeito e valorização da diversidade.

A linguagem tem o poder de transformar realidades, e é nosso dever utilizá-la de forma responsável e consciente. Só assim poderemos barrar o retrocesso baseado no ódio e no egoísmo, e construir um futuro em que todas as pessoas, independentemente de suas características individuais, sejam valorizadas e respeitadas. A luta contra o extremismo radical e suas práticas excludentes é, portanto, uma luta pela própria Humanidade.

Publicidade | Dolce Morumbi®

André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Escritor e professor.

Colaboração da pauta:

Demais Publicações

Abrigos de Areia

Palavras doces soam como flautas

Papa Francisco: o serviço pela escuta

Francisco não ensinava por imposição, mas por convivência, com uma escuta ativa, comprometida, visceral

Como a geração de imagens por IA pode impactar o nosso dia a dia?

O uso de Inteligência Artificial nas redes sociais já virou uma febre

Temporada taurina e as pequenas sutilezas da vida

Eu escolho valorizar mais pequenos prazeres diários que tragam leveza para a minha rotina

Mudanças na estação e o impacto na pele e cabelos

Alterações no clima pedem atenção no cuidado diário

O que é alienação parental?

Entenda o drama por trás da lei que muitos querem derrubar

Painel Dolce Morumbi

Free Play de Dança inédito no Top Center Shopping agita a Avenida Paulista

A primeira edição de free play com o famoso jogo de dança interativo acontece no dia 27 de abril, é gratuito e promete um dia de diversão, música e prêmios

Butantã Shopping inaugura sala de descompressão sensorial no Dia Mundial da Conscientização do Autismo

Abafadores de ruído, cordões de identificação e vaga exclusiva integram conjunto de iniciativas que promovem conforto, autonomia e acolhimento de pessoas com TEA

Vivência de pintura e vinho: Recriando Monet

Uma experiência única te espera no Ateliê Contempoarte!

As Mais lidas da Semana

Publicidade Dolce Morumbi

espaco-bela-morumbi-publ-25.04.2025_11zon
bingo-dia-das-maes-auroras-brasil-25.04.2025_11zon
jornada-amor-com-prazer-banner-square-20.03.2025_11zon
samsonite-12.03.25_11zon
publ-libresse-28.02.25_11zon
m.pozenato-publ-27.02.25_11zon
birden-publ-27-02-25_11zon
publ-neo-seguradora-24.02.25_11zon
publ-consultoria-de-beleza-24.02.25_11zon
gisele-marketing-banner_11zon
pulicidade-recanto-sta-rita-post_11zon
mentoria-juliana-2024.11.05-post_11zon
mentoria-beleza-juliana-souza-pires-banner-(4)_4_11zon
touchedigital-presenca-on-line-em-qualquer-lugar_11zon
espaco-bela-morumbi-publ-28-03-2025_11zon
PlayPause
previous arrow
next arrow
espaco-bela-morumbi-to-velha-na-moda-publi-24.03.2025_11zon
arte-painel-dolce-abtours_1_11zon
arte-painel-dolce-amanda-sanzi-arts_2_11zon
arte-painel-dolce-butanta-shop_4_11zon
arte-painel-dolce-butia-fotografia_11zon
arte-painel-dolce-cantiga-crianca_11zon
arte-painel-dolce-casablanca_5_11zon
arte-painel-dolce-chef-bruna_7_11zon
arte-painel-dolce-crescendo-e-acontecendo_8_11zon
arte-painel-dolce-ctrigueiros_11zon
arte-painel-dolce-dennyfotografia_11zon
arte-painel-dolce-espaco-bela-morumbi_9_11zon
arte-painel-dolce-paulodimello_12_11zon
arte-painel-dolce-preziatu_11zon
arte-painel-dolce-touchedigital_16_11zon
PlayPause
previous arrow
next arrow

Ainda não há comentários para esta publicação


Deixe seu comentário!

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Imagem por Marcos Kulenkampff em Canva Fotos

Seções