Nos últimos anos, a ideia de luxo mudou bastante. Antes muito ligada à ostentação, brilho e excesso, quando se viam lustres suntuosos em salas com diversos objetos à mostra para atestar status, atualmente se apresenta de uma forma muito mais sutil, porém não menos marcante.
Na arquitetura, essa filosofia ganhou o nome de quiet luxury ou luxo silencioso, na tradução literal em português, que mostra como a verdadeira sofisticação não precisa de exageros para existir.
Para os arquitetos Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto, à frente da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura, esse olhar se manifesta em uma nova forma de pensar o morar. “Silence Luxury, como também é conhecido, é um convite a ressignificar o luxo. Ele deixa de lado os excessos e a ostentação para valorizar aquilo que realmente importa como o bem-estar, a essência e a experiência de habitar um espaço”, ressaltam.
Minimalismo como condutor
De acordo com Mariana, a ascensão do quiet luxury tem raízes culturais e sociais recentes e é muito relacionado ao período da pandemia, quando o lar deixou de ser apenas cenário de habitação para se tornar morada e conexão pessoal. Foi nesse contexto que a necessidade de ambientes mais acolhedores ficou mais evidente e a estética do luxo silencioso surgiu como resposta natural aos estímulos excedentes do mundo externo.

Assim, o quiet luxury dialoga com o minimalismo, mas isso não significa reduzir o décor a tons de branco ou mitigar os demais elementos. Pautada em sua experiência, a profissional sugere adotar um minimalismo mais sensorial com paletas neutras e terrosas, além de linhas limpas e volumes simples enriquecidos pelo sensorial com texturas, aromas e peças marcantes.
“Na arquitetura, isso se traduz em ambientes que falam baixo, mas dizem muito. Linhas suaves, paletas neutras, materiais nobres e táteis que convidam ao toque e à contemplação. Nada está ali por acaso”, reflete.
Aplicações práticas: o luxo implícito
Na prática, o quiet luxury aparece em soluções como cozinhas ocultas, marcenaria contínua sem puxadores, eletrodomésticos embutidos e mobiliário com linhas clássicas que parecem crescer com a casa. A escolha por elementos integrados e por esquemas cromáticos discretos faz com que os ambientes pareçam mais atemporais e menos sujeitos ao desgaste das tendências rápidas.

Mariana acrescenta que essa curadoria de escolhas é essencial para conceber atmosferas que realmente acolhem e onde cada detalhe é escolhido com intenção, criando ambientes que acalmam, acolhem e permanecem no tempo.
Ela também separou dicas de execução para cada ambiente:
– Sala de estar: luxo silencioso aparece em sofás de linhas retas e generosas, tecidos naturais como linho e algodão e mesas de centro em madeira maciça ou pedra bruta com acabamento fosco. Além disso, a inserção de tapetes de fibras naturais e iluminação indireta em pontos estratégicos entregam acolhimento sem precisar de excesso decorativo.
– Cozinha: o espaço se beneficia da marcenaria contínua com eletrodomésticos embutidos e bancadas em pedras claras. A iluminação difusa, pensada para valorizar a preparação dos alimentos, ajuda a reforçar a atmosfera funcional e, ao mesmo tempo, refinada.
– Quarto: para o descanso, o emprego de uma paleta neutra que acolhe, cortinas de tecidos leves que filtram a luz natural e uma cama bem composta com enxoval em algodão de alta qualidade compõem a proposta. O mobiliário acompanha a referência de linhas suaves, cabeceiras estofadas e mesas de apoio discretas.
– Banheiro: pedras claras ou cimentícias, metais discretos em acabamentos como o escovado ou o acetinado e iluminação quente trazem o bem-estar almejado. Plantas adaptadas à umidade reforçam a sensação de frescor, enquanto o uso de nichos embutidos mantém a ordem e a leveza visual.
– Espaços de circulação: mesmo em áreas como corredores, paredes em tons neutros, iluminação linear e obras de arte pontuais podem valorizar o trajeto.




Sustentabilidade: menos é melhor?
Uma das promessas do quiet luxury é a compatibilidade com práticas sustentáveis, já que ao privilegiar peças duráveis e atemporais, o movimento reduz o consumo impulsivo e o descarte rápido. No entanto, a simples aparência ‘quiet’ não garante sustentabilidade.
Na visão de Alexandre Pasquotto, esse novo luxo também é íntimo e humano. “Hoje, o verdadeiro luxo é interior e silencioso. Nossa busca como seres humanos é estar em casa e encontrar equilíbrio entre beleza, praticidade e paz interior”.
Para ele, essa configuração só cumpre esse papel sustentável quando escolhas de produção, materiais e cadeia de suprimentos também são responsáveis. Ou seja, comprar menos e comprar melhor é o cerne da relação entre quiet luxury e sustentabilidade, desde que o melhor implique transparência e longevidade.
Em termos de neuroarquitetura
Parte da formação de Mariana Meneghisso, a neuroarquitetura — campo que investiga como o ambiente construído afeta processos cognitivos e emocionais –, ajuda a explicar por que a estética está diretamente ligada à felicidade.

Estudos apontam que formas, iluminação, escala e ordem ambiental modulam atenção, reduzem níveis de estresse e promovem estados de calma e concentração. “Projetar com silêncio visual é também projetar para a mente. Mais do que espaços bonitos, tudo se conecta com o princípio de conciliar equilíbrio e qualidade para a vida cotidiana”, observa a arquiteta.
Do ponto de vista psicológico, habitar em um espaço sem ruídos e equilibrado reduz a sobrecarga sensorial que enfrentamos diariamente. “Trata-se da arquitetura do autocuidado”, define. Paletas neutras ajudam a desacelerar os pensamentos, enquanto texturas naturais despertam memórias afetivas e entregam conforto emocional.
Luxo sem gritos
Por fim, o quiet luxury é, antes de tudo, uma atitude: entender que comodidade, qualidade e significado valem mais que sinais de status visíveis. Ele se sustenta em pilares que vão do contexto histórico e social às descobertas da neuroarquitetura, passando pela sustentabilidade e por escolhas de design que privilegiam a experiência humana.
“Não é preciso ser estrondoso para ser percebido. O verdadeiro luxo é sentir-se bem, estar rodeado por elementos que fazem sentido e encontrar beleza naquilo que é simples, mas eterno”, finalizam o casal Alexandre Pasquotto e Mariana Meneghisso.

Mariana Meneghisso é arquiteta urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, designer de interiores pela Escola Panamericana de Artes; pós-graduada em Responsabilidade Civil pela Fecaf, pós-graduada Neuroarquitetura pela Ipog; especialista em Perceptual Design pelo Instituto Politécnico de Milão; membro da Academy of Neuroscience for Architecture Brasil e sócia da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura desde 2005.
Alexandre Pasquotto é arquiteto urbanista pela Universidade Bandeirantes de São Paulo; técnico em edificações pela E.T.E. Júlio de Mesquita; pós-graduado em Cálculo Estrutural pela Ipog, atua na construção civil residencial, industrial e corporativa desde 1992; consultor em dimensionamento, viabilidade e custos no ramo civil e sócio desde 2004 da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura.
Meneghisso & Pasquotto Arquitetura: com referências importantes na viabilidade executiva do projeto, somado a formação afinada em forma e estética, a dupla de arquitetos se completa na criação e concepção dos trabalhos. O escritório atua em projetos residenciais, comerciais e corporativos. Tendo como premissa produzir soluções, através de projetos autorais funcionais, atemporais, nos diversos vieses estéticos e de estilo, que traduzam boa arquitetura e a personalidade do cliente. Em 2025, o escritório fez sua estreia na CASACOR São Paulo, o maior evento de design, arquitetura e decoração das Américas, com o banheiro Natureza em Essência.