Estava eu radiante ao descobrir que no meu ventre crescia o fruto mais lindo de todos os tempos: o fruto do meu amor, a minha estrela Elizabeth. Meu Deus, que felicidade!
Os meses passavam, e o meu brilho aumentava a cada semana. Tu crescias com cada colherada daquele alimento que me fazias desejar com tanta força — a maionese às sete da manhã, o bolo de chocolate daquela tia gentil, os sorvetes e iogurtes… Nossa, a Parmalat certamente recebeu uma fortuna do papá.
Até que, de repente, comecei a inchar como um balão.
Tentei não me assustar. Todos diziam para ficar calma, que era normal pelo peso e pela pressão que fazias no meu útero a cada grama que aumentavas. E eu, acreditava. Mas o medo cresceu quando notei que até as minhas mãos pareciam balões. Ainda assim, insistiam: “É normal, é só retenção de líquidos”.

O meu coração, porém, já não estava tranquilo. Decidi correr ao hospital, sorridente, porque, se Deus me havia enviado a ti, nada de errado poderia acontecer. Como me enganei.
Tudo mudou quando vi o olhar da médica — olhos vermelhos, hesitantes, sem saber como me contar. Por fim, disse-me de uma vez:
— Olha, estás com pré-eclâmpsia. Precisamos fazer uma cesariana agora. As vossas vidas estão em risco.
O quê? Que risco? Pré… o quê?
Enquanto eu tentava entender, as enfermeiras chegaram. Começou o corre-corre: tirar sangue, fazer exames, despir-me, “vamos internar-te”, “deixe o celular com a família”, “depois falamos com eles”, “tens de subir agora”.
Meu Jesus, o que está a acontecer? Nem tempo tive para processar. Mas tudo bem… a doutora disse que, se corressem, tu ficarias bem. Que eu não precisava de me preocupar.
Num piscar de olhos, estava eu anestesiada… e esperançosa.
Nasceste tão pequenina, minha Elizabeth, que nem as incubadoras te conseguiram salvar. Tudo por culpa dessa tal pré-eclâmpsia.
Agora estou aqui, nesta sala fria, a observar outras mulheres com os seus bebés, enquanto eu reprimo a dor que me consome.

Elizabeth, minha filha… a mamãe chora. Por quê?
E sabes o que mais? Descobri que, na verdade, eras o Rei Charles — mas que diferença fazia? Porque é que essa tal eclâmpsia não avisou? A doutora não viu?
E esta dor, meu Deus, o que faço com ela? Como pode o fruto do amor cair e desaparecer assim?
Será que a minha árvore está podre? Ou não recebeu nutrientes suficientes?
Haverá forma de falar com essa tal pré-eclâmpsia?
Meu Deus, por que permitiste que a eclâmpsia entrasse na minha casa?
Hoje encontro-me aqui, com esta cicatriz no baixo ventre… e outra ainda maior no coração.
Rogo a Deus que me guie, porque sozinha não consigo. Dói demasiado.
A vida vai continuar…
Mas maldita sejas, pré-eclâmpsia. Que os ventos te arrastem para os infernos e nunca mais encontres espaço para invadir outro ventre.
Uma prosa em homenagem a todas as mulheres que perderam os seus filhos por causa da pré-eclâmpsia.
Nota do Editor: A pré-eclâmpsia é uma condição séria que afeta algumas gestantes, caracterizada pelo surgimento de hipertensão arterial após a 20ª semana de gestação, ou o agravamento de uma hipertensão já existente





























