Dolce Justiça
Dra. Rita de Cássia Biondo
É fundamental ter disciplina em relação aos cuidados a serem tomados quando do acesso à internet
Eu não sei quanto a vocês, mas eu, particularmente, vejo todas as semanas memes satirizando incansavelmente a geração atual. A maioria enaltecendo a fragilidade do caráter que foi alimentado na infância e adolescência pela superproteção, o chamado mimimi.
Profissionalmente, por atendermos aqui alguns condomínios, ouço relatos de moradores que, apesar do meu amadurecimento pessoal e profissional, ainda me estarrecem. Exemplos como o caso da mercearia que foi montada dentro do condomínio, monitorada por câmeras 24 horas e que no dia seguinte à sua inauguração, já teve uma lista grande produtos furtados por filhos de moradores.
Sobre o vaso de um artista renomado que compunha o salão de festas e que foi quebrado por um adolescente e colado pelo seu próprio pai, cuja descoberta se deu pelas imagens das câmeras vigilantes, entre outros tantos tristes exemplos que vem recheando o judiciário de demandas, cujos pais figuram no polo passivo da ação na melhor hipótese.
A delinquência, a irresponsabilidade e a falta de sororidade teria surgido em função de uma vida mais fácil do que aquela experimentada há trinta ou quarenta anos atrás? Sou muito suspeita pois faço parte dessa Old Scholl, na qual bastava chegar com uma borracha diferente em casa para a mãe te encher de perguntas e ir averiguar junto a escola a “sua verdade” …
Mas até que ponto a insana correria de nossa vida contemporânea tem relação com “essa vida mais fácil que a nossa”, que essa geração nova vem experimentando e que tem causado tantos transtornos?
Nossa vida é corrida? Sim, demasiadamente. A falta de tempo, a compensação dele por coisas e a substituição do grande vazio causado por tudo isso e pela tecnologia. Afinal de contas é bem mais prático largar um celular ou um tablet na mão de uma criança ou adolescente, não é mesmo? Então vamos falar do quão preparados eles estão para utilizar a internet? Até onde vai a maturidade, pertinente para a idade? Qual o grau de discernimento entre o certo e o errado?
Recentemente vimos a menina que durante um tempo longo se relacionou com um homem via internet, que foi sequestrada e levada para outro estado e que por pura sorte conseguiu uma senha de wi-fi mandou mensagem à família culminando no seu encontro e desfecho feliz para ambos, quando a minoria esmagadora não tem a mesma sorte!
É inegável que crianças e adolescentes utilizam e vivenciam diariamente o mundo virtual e esse universo traz consigo a falsa sensação de anonimato e impunidade, expondo-os à pornografia e pedofilia, à divulgação indevida da imagem e dados pessoais, à divulgação de boatos ou mesmo a usos que estimulam a violência.
E com certeza um dos problemas mais sérios é a falta responsabilidade no controle do uso da ferramenta eletrônica, a supervisão de um adulto, por exemplo. Aquela velha história da criança ou do adolescente horas e horas no quarto sozinho…
É fundamental ter disciplina em relação aos cuidados a serem tomados quando do acesso à internet, além de todos os perigos mencionados, o mau uso da internet pode causar nas crianças e adolescentes dificuldade de relacionamento, além de causar problemas de ansiedade, agitação, perda ou alteração do sono, obesidade, entre tantos outros.
Proibir o uso de dispositivos, apps ou até mesmo redes sociais, a meu ver, não é o caminho. A não ser que você crie seu filho em uma ilha deserta, óbvio, mas sim tirar do uso da internet a parte boa, a que propicia e auxilia o desenvolvimento cognitivo por exemplo, afinal é inegável a riqueza de conteúdos de diversas áreas.
A intenção neste artigo é criar uma disciplina, com dicas para que você possa proteger o seu filho sem que para isso ele seja proibido de vivenciar as mesmas coisas que as pessoas da idade dele vivenciam, porém com responsabilidade.
Estabelecer um momento para que a internet possa ser usada é um bom começo, de preferência em horário que não interfira no sono que tem sido um dos grandes problemas do uso indiscriminado dos dispositivos eletrônicos.
Sempre, para ser bem exata, todos os dias, verifique o histórico dos acessos na internet que foram feitos, essa é a única forma de você perceber a tempo se o conteúdo acessado é indevido ou não, se pode ser acessado pela faixa etária dele e ainda, saber com quem ele vem se relacionando.
Outra dica muito importante é sempre se manter atualizado quanto as novidades do momento. Geralmente a modinha que está em alta beira a questão do proibido e que por isso desperta tanto a atenção.
E para finalizar, ressalto a importância do diálogo com seus filhos. A importância do diálogo não muda de geração para geração, acredite. Converse abertamente sobre os benefícios e perigos da internet, navegue com ele, demonstre o que está dizendo com a realidade dos fatos, sem poupá-lo de nada, e incentive o uso da ferramenta em ambientes de convivência familiar. Isto por si só, já limita a possibilidade de conteúdos indevidos.
Rita de Cassia Biondo Ferreira é advogada graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Cidade de São Paulo, Pós-graduada em Direito do Trabalho e Processual do Trabalho pela Escola Superior de Advocacia e Pós-graduanda em Direito Coorporativo e Compliance na Escola Paulista de Direito. Especialista em Direito do Trabalho, Due Diligence Trabalhista, Direito Imobiliário, Direito das Sucessões e Prática Contratual atua como sócia-fundadora do escritório de advocacia D&B Advogados Associados e da empresa DBCOB Gestão de Créditos e Débitos.
Os artigos assinados não traduzem ou representam, necessariamente, a opinião ou posição do Portal. Sua publicação é no sentido de estimular o debate de problemas e questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
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