A “kiss cam” do show do Coldplay em Los Angeles capturou mais do que um momento romântico, ela escancarou uma traição. O vídeo de Andy Byron, CEO da Astronomer, ao lado da chefe de RH da empresa, Kristin Cabot, viralizou nas redes após o casal ser flagrado sorrindo e de mãos dadas antes de esconder o rosto diante do telão. A cena provocou a reação bem-humorada de Chris Martin, vocalista da banda, que disse: “Ou eles estão tendo um caso, ou são muito tímidos”.
Mas para a psicanalista Ana Lisboa, fundadora do Grupo Altis e referência internacional em saúde mental feminina, a situação revela algo muito mais profundo do que um momento embaraçoso. “Quem não quer ser visto não sai para a rua, muito menos para um show. Será mesmo que eles queriam manter isso em segredo? Na psicanálise, chamamos de ato falho quando o inconsciente se revela mesmo que a consciência tente esconder”.
Segundo Ana, existe uma pulsão inconsciente em toda traição. “No fundo, quem trai já não está mais emocionalmente na relação e ainda que diga que não quer ser descoberto, inconscientemente quer, sim. Quer ser visto, quer encerrar o ciclo, quer se libertar, mas não tem coragem de fazê-lo de forma direta. É o desejo disfarçado de acidente”.

O caso chamou atenção justamente pela tranquilidade do casal antes do flagra. Nada ali parecia esconder algo. Estavam sorrindo, próximos, aparentemente apaixonados. “Esse é o ponto. Mesmo com a vergonha depois, havia prazer na exposição. O inconsciente não mente. Quando há desejo de sair da relação, a traição muitas vezes aparece como uma saída simbólica. Mas também pode ser uma forma de compensação por dores internas, como traumas de rejeição, sensação de inferioridade ou até vingança”, afirma Lisboa.
A reação pública foi imediata com memes, manchetes e uma avalanche de comentários online. Mas o impacto vai além da fofoca. “O que esse caso escancara é a dificuldade que muitos têm de encerrar relações de forma consciente. A traição vira uma tentativa de provocar o fim, uma forma de forçar o outro a tomar a decisão. O problema é que isso machuca e não resolve o que está por trás”, explica a psicanalista.
Ana também chama atenção para o contexto de poder envolvido. Estamos falando de um CEO e de uma chefe de RH. “Existe uma dinâmica ali que mistura hierarquia, desejo e fuga da realidade. A exposição pública só tornou visível aquilo que já era um rompimento interno.” No fim das contas, Ana Lisboa provoca: “Quem trai, mesmo sem admitir, quer ser visto. Não é sobre o flagra. É sobre o desejo de mudança, vingança, reconhecimento e validação, entre outros envolvidos que já estava gritando lá dentro”.

Ana Lisboa é psicanalista, professora e CEO do Grupo Altis, e referência em saúde mental feminina, liderança com propósito e terapias sistêmicas. Fundadora da UniAltis, universidade reconhecida pelo MEC e dedicada à saúde emocional nas empresas, já impactou mais de 100 mil alunas em 72 países. Advogada, mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Autónoma de Lisboa, pós-graduada em Neurociências, Psicologia Positiva, Direito do Trabalho e especialista em Terapia de Casais. Lidera o Movimento Feminino Moderno, maior comunidade de transformação emocional para mulheres.
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