Dolce Selfcare
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O Rio de Janeiro, então capital do país, foi o cenário escolhido para uma revolução silenciosa e poderosa que se preparava para transformar a vida urbana no Brasil. Às 20 horas do dia 1º de setembro de 1889, as primeiras lâmpadas elétricas acenderam-se, iluminando não apenas as ruas, mas também os anseios de um povo que aspirava por progresso.
Naquela noite, os cariocas habituados à tênue luz das lamparinas, sentiram o arrebatamento de uma nova era. Os murmúrios de expectativa se espalharam pelas ruas, enquanto os moradores buscaram compreender a magnitude daquele evento inédito.
Deve ter sido incrível, não bonitas iluminadas?
Mas, como toda moeda tem dois lados, o upgrade para as vistas cansadas veio acompanhado de um fato inexorável: a claridade colossal expôs todas as mulheres, até então protegidas pela meia-luz das lamparinas e velas.
Mas, protegidas de quê? Ah, bonitas…
Imaginemos o primeiro baile pós-Edison, a grandiosidade do evento esmeradamente aguardado pela elite carioca, agora com cada canto do salão esplêndido iluminado.
As mulheres trajando os mais requintados vestidos de seda e rendas, farfalhando de um lado para o outro e abanando leques de madrepérola. Já os penteados, bonitezas, eram uma obra de arte: elegantes e complexos, com coques altos enfeitados por tranças e mechas soltas que emolduravam o rosto. Acessórios como flores, laços, grampos e penas também eram bem-vindos.
E toda essa produção foi ladeira abaixo quando os holofotes do baile, que era um espetáculo de glamour e sofisticação, tornou-se, para elas, um palco de estranha vulnerabilidade.
Enquanto os flertes e as danças giraram ao som das valsas, olhares de descontentamento se cruzaram em meio ao brilho. O ambiente não apenas valorizou a jovialidade, como também exibiu escancaradamente as marcas do tempo que antes se ocultaram sob camadas artifícios e o quê mais?
Pouca iluminação! Mil vaias para Edison!
As rugas, mechas grisalhas que insistiam em emergir, manchas que assinalavam a passagem do tempo, tornaram-se protagonistas indesejadas diante do progresso. E do pretendente…
O que antes havia sido um inegável encanto, agora se converteu em um fardo de horror e vergonha para aquelas que tinham sonhado em serem veneradas como musas.
Já a ala masculina não estava imune à essa revelação. De início, levaram um susto daqueles. Foi como marcar um primeiro encontro conhecendo a pessoa somente pela imagem das redes sociais e descobrir que a foto estava repleta de photoshop!
Que mico! E tem mais, o fenômeno aconteceu em âmbito mundial, ou seja, nenhuma mulher estava salva da tal odiosa luz elétrica.
Mas aos poucos, as manchetes mudaram, o mundo deu outra volta e novos hábitos se encaixaram na rotina do término da Era Vitoriana.
Digamos que uma epifania coletiva dominou a mente dos homens, fazendo-os perceber que, por detrás das fantasias de beleza idealizada, estavam mulheres repletas de histórias, de vidas pulsantes que contavam e gritavam para serem reconhecidas.
Os rostos, antes emoldurados por sorrisos encantadores, agora se mostraram marcados por experiências dolorosas e alegres, revelando a fragilidade da condição humana.
A descoberta de que as musas, originalmente elevadas a um pedestal irreal, eram, na verdade, tão humanas quanto eles, dissolveu a aura de idealização que cercava aquelas figuras femininas.
Assim, aquela noite foi a inauguração de tantas outras, onde homens e mulheres se enxergaram de verdade, ainda que no mais profundo silêncio da compreensão mútua, abraçaram a vulnerabilidade que faz parte da nossa natureza. Foi um baile, sim, mas um baile que reescreveu as regras da percepção: uma dança de certezas e aceitação sob a luz que tudo revela.
E Thomas Edison? Deve ter sido o homem mais execrado do ano de 1889!
Até a próxima e apaguem a luz porque o planeta agradece!
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