A habilidade criativa é uma soft skills necessária em tempos de forte desenvolvimento tecnológico. A economia laranja carrega na cor a representação da criatividade, da cultura, da tecnologia, da inovação e das diferentes habilidades plurais. O termo surgiu em 2001 por John Howkins
A economia laranja é constituída pela criatividade. E a criatividade é desenvolvida de diversas maneiras e, assim como músculos, poderá ser exercitada. Para Young, a criatividade não é medida pela velocidade de apresentar uma nova ideia, mas pela habilidade de conectar ideias com o que já está disponível.
A criatividade possui elementos, como a capacidade de associação, a partir de questionamentos e observação da realidade. A pessoa criativa é capaz de inventar e produzir de maneira mais assertiva além de encontrar soluções diferenciadas. A criatividade é estimulada pelas experiências, informações, novos olhares e realidades, acesso à arte como filmes e documentários, ou observando o outro.
A economia laranja promove inovação e ações que cativam o público. Por isso, estimula a criatividade, em busca de novas referências, inclusão de diversas pessoas e suas diferentes existências. A criatividade gera identificação entre pessoas, funcionários e consumidores. Trabalhar com economia laranja é aprender todos os dias.
No Fórum Econômico de Davos, em 2015, a criatividade foi destacada como 10ª exigência no mercado de trabalho. Já em 2018, a criatividade passou a ser a 3ª exigência. No Brasil, a Secretaria de Economia Criativa existe desde 2012, e em 2020 informou que a economia laranja representou 10% do Produto Interno Bruto, o que estimulou um mercado de cerca de 800 mil vagas de empregos, segundo o levantamento do Observatório Itaú Cultural (2020-2021). Não há futuro sem criatividade. E a criatividade está na diversidade, na pluralidade – assim como correntes neurais.
Mas será que estamos perdendo nossa habilidade criativa? Na contramão da criatividade, existem obstáculos que deverão ser observados no espaço laboral como a falta de apoio da liderança ou do gestor; insegurança e a repressão pelo erro. Esses aspectos bloqueiam processos criativos do funcionário e da equipe.
A observância do outro para estimular processos criativos
Vamos buscar traçar aqui uma sugestão metodológica de pensamentos que deverão ser refletidos, organizados e sistematizados. Assim, você passará a exercitar o perceber o outro em sua realidade e aprender para desenvolvimento de técnicas de relacionamento interpessoal no ambiente laboral. Lembre-se, isso é exercício diário!
Começamos do conceito de pessoa para o dicionário. Pessoa é um substantivo feminino, e se buscarmos no dicionário (on-line) Oxford, temos as três principais definições: (a) ser humano; (b) indivíduo notável ou como personagem protagonista; e (c) caráter particular ou original que distingue alguém, algo como individualidade.
O exercício da observância do outro que se propõe é investigar alguns elementos que permeiam e perpassam as três principais definições de pessoa. É olhar as pessoas quem compõem o ambiente laboral, percebendo os eixos apresentados. O exercício consiste em um primeiro momento da autorreflexão do próprio comportamento. Você exercitará como se reconhece no meio. O que te torna humano e qual o protagonismo que exerces em tuas relações sociais? E no trabalho? O que te distingue e te identifica como original? Quais experiências corroboram para isso e são transformadas em habilidades profissionais?
No segundo, o movimento de colocar-se como o outro, diferente de mim, nestes MESMOS eixos principais de definição. Você exercitará a alteridade e reconhecerá a narrativa do outro. O exercício de escutar e aprender com o outro, aprender com as vivências do outro, faz parte do processo criativo – individual ou em equipe.
A diversidade potencializa a criatividade
Buscamos caracterizar pessoas, às vezes sem perceber, buscando um “normal” que não existe. O – Seu – “normal” pode negar a existência de pessoas ou deslegitimar experiências. Quanto mais tentamos caracterizar o ser humano, mais difícil não ser autoritário, de restringir possibilidades. A diversidade é garantida pela liberdade. E a liberdade é alimento criativo.
E por que restringir as potencialidades de outra pessoa? A quem atende não deixar o outro existir e promover seus processos criativos? Afinal, quem perde quando há uma restrição da autonomia da liberdade e como consequência um cerceamento criativo de outra pessoa?
A economia laranja nos oferece uma primeira lição para as relações laborais (e para a vida!): conceituar o ser humano diminui possibilidades e negligencia existências (propositalmente) para excluir pessoas e prejudicar processos criativos. No ambiente laboral, o reconhecimento da liberdade do outro ser e existir fornece guarida para estimular a criatividade.
E assim destaco uma das principais características e potencialidades da economia laranja: é um tipo de economia com forte exercício anticapacitista. A inclusão de pessoas com deficiência, físicas ou não; visível ou não, ou de neurodivergentes compõe importante aspecto de promoção da criatividade da equipe. Isso porque há um processo de conhecimento a partir das experiências inter-relacionais da equipe. E em segundo aspecto, o desenvolvimento da economia laranja no cotidiano de pessoas com deficiência, melhorando a acessibilidade, por exemplo, com soluções criativas. Perceba que inclusão e diversidade favorecem trabalhos em equipes e soluções criativas.
Em pesquisa feita a Robert Half (2020), empresa de recrutamento, destacou a tendência de mercado da qual cerca de 50% das empresas buscam profissionais que tenham desenvolvimento e potencial para a capacidade analítica.
Por exemplo, pessoas com deficiências neurodiversas e/ou físicas desenvolvem especiais aptidões de capacidade analítica. Jill Miller, consultora sênior de inclusão e diversidade do Chartered Institute of Personnel and Development, relata as vantagens às empresas e aos funcionários, inclusive, destacando casos de sucesso de empresas como Google, Ford e Amazon.
Tal característica, no ambiente laboral, quando respeitada as condições que os diferenciam, faz com que se apresente respostas às demandas de maneira inédita e não óbvia. Como meio de existência, para pessoas com deficiência, foi preciso resistir aumentando capacidade analítica de criatividade, resiliência e adaptação. E capacidade analítica é justamente poder oferecer diferentes respostas a contextos múltiplos por manter uma base de conhecimento e informação – atualizada, prática e plural.
Caroline Vargas Barbosa é advogada, docente universitária e pesquisadora. Doutorando em Direito pela UnB, Mestra em Direito Agrário pela UFG e especialista em Processo Civil pela UFSC. Atua em pesquisas e assessoramentos de diversidade, inclusão e ESG.
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