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Brasil: a criatividade que nasce da diversidade e almeja a inclusão

Imagem por Wilfredo Rafael Rodriguez Hernandez, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

No cerne dessa criatividade está a capacidade de ver o mundo não apenas como ele é, mas como poderia ser

Os artigos assinados não representam, necessariamente, a opinião do Portal. Sua publicação é no sentido de informar e, quando o caso, estimular o debate de questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

Por André Naves

O Brasil foi reconhecido como o primeiro “País Criativo do Ano” (Creative Country of the Year) no Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions 2025. Não foi por acaso. A honraria reconhece o que nossos olhos já veem há séculos: a potência inventiva de um povo que transforma adversidades em soluções, tradições em inovações e diversidade em riqueza coletiva. Nossa criatividade é filha legítima da mistura de raças, culturas e biomas — um caldeirão onde o verde das florestas, o azul do céu e o brilho do sol se fundem ao sorriso aberto e à resiliência de quem sabe que a vida, mesmo dura, pode ser reinventada.

No cerne dessa criatividade está a capacidade de ver o mundo não apenas como ele é, mas como poderia ser. As gambiarras, tão brasileiras, são a expressão máxima desse espírito. Um cabo de vassoura que vira suporte para antenas, uma garrafa PET transformada em irrigador de plantas — esses são frutos de uma mente que desafia a escassez. Mas nossa inventividade não se limita ao improviso. Nas lavouras, a biotecnologia avança: sementes modificadas para resistir às mudanças climáticas, sistemas de energia solar integrados a cultivos agroflorestais, algoritmos que mapeiam o DNA da biodiversidade para curas médicas revolucionárias. Tudo isso nasce de um diálogo entre o ancestral e o futurista, entre o conhecimento dos povos originários e a precisão da ciência moderna.

Design Dolce sob imagem por Fernando Podolski em Canva

A bioeconomia extrativista da Amazônia é prova viva dessa sinergia. Comunidades tradicionais, armadas com saberes transmitidos por gerações, manejam a floresta de modo a extrair castanhas, açaí e óleos vegetais sem derrubar uma única árvore. Paralelamente, agricultores do Cerrado adotam técnicas regenerativas que não apenas recuperam solos degradados, mas sequestram carbono e ampliam a biodiversidade. São práticas que mostram como a criatividade, quando aliada à sustentabilidade, pode ser ferramenta de transformação ecológica e social.

Contudo, nossa criatividade ainda não atingiu todo seu esplendor. A miséria, que atinge 28 milhões de brasileiros, e a desigualdade, que nos coloca entre os países mais desiguais do mundo, são barreiras estruturais ao florescimento pleno das ideias. Uma criança que passa fome tem sua imaginação comprometida pela luta pela sobrevivência. Um jovem periférico, sem acesso a educação de qualidade, vê seu talento para a tecnologia subaproveitado. A exclusão social não apenas fere dignidades, mas também apaga possibilidades — e, com elas, soluções que poderiam emergir das periferias, dos interiores, das comunidades quilombolas e indígenas.

Em um exemplo muito recente, na série “Adolescência”, que retrata a violência juvenil, nos lembra que ambientes hostis sufocam a inovação. Quando a escola falha em acolher diferenças, quando o mercado fecha portas a pessoas com deficiência, quando o racismo e a LGBTQIA+fobia persistem, estamos podando asas de mentes brilhantes. A verdadeira criatividade exige liberdade — não apenas de expressão, mas de existir.

Design Dolce sob imagem por Leo Patrizi em Canva

Imaginem o que seríamos capazes de construir em um Brasil onde todas as vozes fossem ouvidas. Se hoje, mesmo com exclusão, somos reconhecidos em Cannes, o que nos impede de sonhar com um futuro em que biomas inteiros são preservados por tecnologias desenvolvidas em favelas? Onde artistas da periferia lideram movimentos culturais globais? O onde a agricultura familiar, turbinada por inteligência artificial, vira modelo mundial de sustentabilidade?

Os caminhos para esse futuro passam pela democracia diária. Não basta votar a cada dois anos; é preciso escolher, todos os dias, construir estruturas sociais inclusivas. Isso significa políticas públicas que garantam educação universal de qualidade, saúde mental, acesso à cultura e ao emprego digno. Significa empresas que adotem práticas antirracistas e inclusivas, escolas que combatam o bullying com empatia e leis que protejam os mais vulneráveis.

A criatividade brasileira já é um farol. Mas para que ela ilumine todos os cantos de nossa sociedade, precisamos derrubar os muros da exclusão. Só assim seremos não apenas o país da criatividade, mas o país onde criar é um direito de todos.

André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Escritor e professor

Colaboração da pauta:

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Imagem por Marcos Kulenkampff em Canva Fotos

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