Por Maria Klien
Nos últimos tempos, sobretudo após os desdobramentos psicológicos decorrentes da pandemia de COVID-19, se tornou perceptível o crescimento nos casos relacionados aos distúrbios mentais vivenciados pelas mulheres. Sintomas como ansiedade, depressão e exaustão emocional revelam não apenas crises individuais, mas apontam também para uma sobrecarga estrutural de ordem social. Dados apresentados no relatório “Esgotadas”, elaborado pela ONG Think Olga, indicam que 45% das entrevistadas brasileiras receberam diagnósticos referentes à saúde mental, um cenário preocupante e coerente com a realidade observada diariamente na prática clínica.
Nesse contexto, se verifica uma progressiva aproximação entre a psicologia científica e os saberes ancestrais e espirituais, apontando não para um recuo nas práticas clínicas tradicionais, mas para uma ampliação necessária dos recursos terapêuticos disponíveis. Essa integração permite uma abordagem clínica mais abrangente e profunda, superando as limitações inerentes ao modelo biomédico exclusivamente centrado em fatores químicos e fisiológicos.

Uma escuta psicológica integral implica reconhecer que mente, corpo e espírito formam uma unidade indissociável. O sofrimento psíquico das mulheres não pode ser tratado como mera questão química ou orgânica, pois traz consigo narrativas, vínculos afetivos, contextos sociais e significados simbólicos específicos. Em minha atuação profissional, utilizo práticas como a escuta clínica qualificada, técnicas de atenção plena e, quando pertinente, o acompanhamento terapêutico com o uso do canabidiol (CBD).
O canabidiol apresenta potencial terapêutico significativo, especialmente nos casos em que há ansiedade, insônia ou estados de agitação persistentes. Contudo, não deve ser compreendido como solução isolada nem milagrosa, mas integrado a um processo terapêutico cuidadoso, adaptado à singularidade da trajetória pessoal e às necessidades específicas de cada mulher atendida.
Optar por terapias integrativas significa reconhecer uma instância interna fundamental, referida na psicologia analítica como o Self. Esta instância guia cada pessoa rumo à totalidade existencial, um processo que não ocorre por meio de procedimentos padronizados, mas exige um profundo envolvimento com a própria história e a subjetividade. A espiritualidade abordada nesse método clínico transcende a noção de religiosidade institucionalizada, se relacionando diretamente à capacidade humana de atribuir novos significados à existência, restabelecendo autonomia e conexão com a essência pessoal.

Muitas mulheres chegam ao atendimento psicológico fragmentadas, exauridas pelas expectativas externas e frequentemente desconectadas de si mesmas. Ao incorporar elementos científicos e espirituais nos atendimentos clínicos, se abre uma via não apenas para alívio sintomático imediato, mas também para transformações profundas, resultantes da possibilidade, frequentemente inédita, de auto escuta genuína. Este novo paradigma terapêutico representa uma evolução significativa na prática clínica, promovendo um cuidado mais abrangente e humano, com impactos sociais evidentes. Ao legitimar o sofrimento feminino em suas múltiplas dimensões, se reconhece, de forma explícita, que saúde psíquica é um direito fundamental associado diretamente à busca pela inteireza existencial.
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