Você já parou para pensar que, quando deixamos de cobrar a pensão dos pais, não estamos abrindo mão do nosso dinheiro, mas sim do direito dos nossos filhos? Essa reflexão me veio depois de uma conversa com meu filho de 13 anos, onde pedi a ele que me sugerisse um tema para minha coluna desta semana. E confesso: ele me fez olhar para trás e entender algo que, talvez, muitas de nós não enxergamos no calor dos desentendimentos.
Há três anos, solicitei revisão do valor da pensão dos meus filhos depois de um conselho que mudou minha perspectiva. Meu advogado contou que a enteada, ao se tornar uma jovem, cobrou da mãe: “Por que você não lutou por mim quando eu era criança?” e como ela, vários amigos da mesma idade tinham esses questionamentos. Aquilo ecoou em mim. Não se tratava de brigas, orgulho ou independência financeira — era sobre garantir o que é deles, por direito.
Muitas de nós não querem cobrar a pensão para evitar conflitos, ou porque acreditam que não “precisam” daquele dinheiro. Mas ele não é um favor, não é uma ajuda — é uma obrigação legal e afetiva. É o mínimo que um pai deve prover, independentemente do relacionamento que tenha (ou não) com a mãe. E quando deixamos de ir atrás, sem querer, podemos passar uma mensagem aos nossos filhos de que o direito deles não era importante o suficiente para ser defendido.
O dinheiro que não é só dinheiro
Muitas mães costumam dizer: “Eu me viro sozinha, não quero nada dele.” E eu entendo perfeitamente esse sentimento de autonomia, eu já pensei assim. Mas a pensão não é sobre a nossa capacidade de sustentar a casa — é sobre a participação do pai na vida do filho. Quando um pai se ausenta financeiramente, mesmo que a mãe consiga bancar tudo, essa ausência fica registrada. E as crianças percebem, mesmo que não falem.
Não se trata de depender do valor, mas de ensinar aos nossos filhos que eles merecem ser prioridade. Que o amor também se traduz em cuidado material, em presença simbólica mesmo quando a presença física é limitada. Se um pai não está presente, que ao menos cumpra sua parte de forma justa.

Evitar conflito não deve ser maior que garantir justiça
Sim, às vezes dá medo de reacender discussões, de ter que lidar com mágoas antigas ou até com a resistência do ex-parceiro. Mas será que o silêncio vale mais do que o que nossos filhos têm direito? Muitas vezes, o processo é mais simples do que imaginamos — basta entrar com uma ação de revisão ou execução, e muitas varas de família hoje em dia são ágeis nesses casos.
E se o medo é que a criança fique no meio de uma briga, lembre-se: dá para resolver tudo de forma respeitosa, sem colocar os pequenos no fogo cruzado. Eles não precisam saber dos detalhes, só precisam sentir que alguém zelou por eles.
O futuro que a gente não vê, mas eles viverão
Quando meu advogado me contou sobre a enteada que cobrou a mãe anos depois, entendi que as crianças de hoje são os adultos de amanhã — e eles vão olhar para trás com os próprios julgamentos. Podem não entender por que deixamos passar, por que não insistimos. E aí, como explicar que foi para evitar “problema”?
Nossos filhos merecem crescer sabendo que foram defendidos em tudo o que era justo. Que a mãe não só os amou, mas também lutou por eles, mesmo quando parecia mais fácil deixar para lá.

Um ato de amor que vai além da nossa vontade
No fim, cobrar a pensão não é sobre o pai, nem sobre a mãe — é sobre a criança. É um ato de amor que vai além do orgulho, da conveniência ou do cansaço. É dizer “você vale mais do que qualquer desconforto, e eu não vou deixar ninguém esquecer disso.“
Se você está em dúvida, pense no seu filho daqui a dez anos. O que você quer que ele lembre? Que você fez o possível para que ele tivesse não só o seu amor, mas também o que era direito dele?
Pode ser que tenha dúvidas, que seja difícil para você, mas olhe para tudo que já passou e superou para chegar até aqui. Independentemente do resultado você poderá dizer aos seus filhos que tentou.
Pois é. Às vezes, a melhor forma de amar é também a mais difícil: insistir.
Quero deixar um agradecimento especial ao Rafael, meu filho de alma sábia e coração gigante. Por enxergar o mundo com sensibilidade além dos seus 13 anos, por me fazer refletir quando eu achava que era eu quem ensinava, e por lembrar a todos nós que as crianças não só veem a vida com clareza, mas também nos mostram o que realmente importa. Eu te amo.
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