Imagine a seguinte cena: é sexta-feira, final de mês, você empresário está reunido com seu time financeiro revisando o fluxo de caixa, já calculando o impacto da folha, dos fornecedores e, claro, das tradicionais obrigações tributárias. Até aí, nenhuma novidade. O Brasil sempre foi uma montanha-russa tributária.
Mas, de repente, chega a notícia: o governo decidiu aumentar o IOF. Sem aviso prévio. Sem consulta pública. Sem um mísero período de transição para o mercado se adequar.
Simplesmente, a partir da meia-noite daquele dia, tudo estaria mais caro: o crédito que você pretendia tomar, as remessas internacionais para aquele fornecedor que você negociou durante semanas, os investimentos de reserva de liquidez da sua empresa, enfim… tudo.
Uma decisão de gabinete, um impacto no caixa de todos nós
Foi assim, quase como um decreto relâmpago, que o governo federal publicou no fim de maio de 2025 o Decreto nº 12.466, promovendo um reajuste agressivo nas alíquotas do IOF.
A justificativa oficial era até previsível: “precisamos aumentar a arrecadação”. O objetivo? Tapar o buraco de um orçamento desajustado, fruto de anos de gastos mal planejados, isenções sem contrapartida e uma máquina pública que consome mais do que entrega.
O problema é que essa conta, como sempre, não ficou para os responsáveis pelo rombo. Ficou para quem produz, emprega e movimenta a economia real.
Você. Eu. Todos os empresários brasileiros.

O crédito que já era caro, agora fica quase inacessível
Se antes o acesso ao crédito já era um desafio, com juros nas alturas e uma burocracia digna de filme de terror, agora ficou quase inviável.
A nova alíquota do IOF sobre operações de crédito chegou a 3,95% ao ano. Parece pouco? Coloque isso na ponta do lápis junto com os juros de mercado e você verá que muitos negócios simplesmente não conseguirão mais financiar capital de giro.
Empreendedores que dependem de antecipação de recebíveis ou de financiamentos de curto prazo vão sentir o baque já nas próximas semanas.
O importador também não escapou
O empresariado que lida com importação levou outro golpe: o custo das operações de câmbio também subiu.
Isso significa que o insumo que você compra lá fora, que já vem com os custos logísticos, cambiais e tributários embutidos, agora ficará ainda mais caro.
É o tipo de medida que afeta diretamente a competitividade da indústria nacional.
Enquanto outros países incentivam suas empresas a importarem tecnologia e matéria-prima, o Brasil pune o empresário que tenta inovar.
Investimentos? Só para os corajosos… ou inconsequentes
E para os empresários que estavam planejando diversificar seus investimentos?
O governo não poupou o setor financeiro. Mudanças repentinas em fundos de investimento, como FIDCs e VGBLs, jogaram uma nuvem de incerteza sobre a previsibilidade dos rendimentos e da segurança jurídica para quem investe institucionalmente.
Afinal, como confiar em um ambiente onde as regras mudam do dia para a noite?

A reação do mercado: pressão e recuo… parcial
O mercado reagiu como era de se esperar, com indignação.
Federações empresariais, bancos e investidores pressionaram o governo. Em poucos dias, o Palácio do Planalto publicou um novo decreto, o 12.499/2025, recuando em alguns pontos das medidas mais polêmicas.
Mas sejamos honestos: o estrago já estava feito.
A mensagem passada ao setor produtivo foi clara: “Se precisarmos, vamos aumentar impostos. E vamos fazer isso de repente. Porque podemos.”
A insegurança jurídica vira regra
O mais preocupante em todo esse episódio não é apenas o aumento do IOF. É a sensação de que o Brasil continua sendo um terreno movediço para quem empreende.
Como um empresário pode planejar o segundo semestre se, de uma semana para outra, seu custo financeiro muda de forma drástica?
Como construir projeções realistas se o risco tributário é maior do que o risco de mercado?
O custo da improvisação fiscal
O que estamos vendo é o resultado de uma gestão pública que prefere o caminho mais fácil: o aumento de imposto.
Ao invés de atacar o problema pela raiz – reduzindo gastos, revisando privilégios fiscais ineficientes e cortando desperdícios – o governo opta pela solução mais rápida e menos criativa: taxar ainda mais quem trabalha e gera empregos.
Isso não é política fiscal. Isso é improvisação.
Até quando o empresário brasileiro vai suportar?
O empresário brasileiro é resiliente, disso ninguém duvida.
Mas cada nova medida como essa desgasta a confiança, mina o apetite por investir e empurra muitas empresas para a informalidade ou até para a falência.
Enquanto o governo faz contas de curto prazo, o setor produtivo é obrigado a fazer malabarismos de longo prazo para sobreviver.
A pergunta que fica é: quantos aumentos de IOF o Brasil ainda aguenta antes de parar de vez?
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