Para muitas crianças, as férias escolares representam alegria e liberdade. Para os pais, no entanto, o período pode ser sinônimo de estresse, culpa e sobrecarga mental. A ausência da rotina escolar traz uma quebra significativa na organização da vida familiar e impõe novos desafios, especialmente para quem precisa conciliar o cuidado com os filhos e as responsabilidades profissionais.
“Sem a escola, os pais precisam assumir múltiplas funções: cuidador, educador, animador e organizador. Tudo isso enquanto tentam manter o trabalho e os compromissos do dia a dia. Essa sobreposição de papéis, somada à falta de tempo para si, contribui diretamente para o esgotamento emocional”, explica Aline Silva, psicóloga e Diretora Clínica da Telavita, empresa referência em soluções digitais de saúde mental.
De acordo com a especialista, alguns perfis de cuidadores estão ainda mais vulneráveis durante o recesso escolar, como as mães solo, que assumem sozinhas as responsabilidades com os filhos, muitas vezes sem apoio emocional, prático ou financeiro; além dos profissionais que trabalham em casa. “Estar fisicamente em casa não significa estar disponível. Conciliar demandas profissionais e atenção às crianças no mesmo ambiente é um fator de estresse recorrente”, alerta Aline.
Entre os sintomas da sobrecarga mental, estão cansaço constante, irritabilidade, insônia, sensação de estar no limite, distanciamento emocional e pensamentos de culpa – estado emocional que afeta diretamente o convívio familiar. A psicóloga explica que pais sobrecarregados tendem a estar menos disponíveis afetivamente, o que pode gerar conflitos e frustrações. Assim, o ambiente familiar, que deveria ser leve e acolhedor durante as férias, pode se tornar uma fonte de tensão.

Uma das estratégias mais importantes, segundo Aline, é rever expectativas. “Nem todo dia precisa ser incrível. Atividades simples, como uma leitura juntos ou um jogo rápido são mais eficazes do que tentar preencher todo o tempo com estímulos. Além disso, é importante ter pequenos momentos de pausa e divisão de tarefas com parceiros, familiares ou cuidadores de confiança”, reforça a psicóloga.
Incluir as crianças na rotina também pode aliviar a carga dos adultos. “Mesmo pequenos, os filhos podem ajudar a organizar brinquedos, montar a mesa ou participar das decisões sobre o que fazer no dia. Isso reduz o peso da centralização e estimula o senso de responsabilidade nas crianças”, sugere Aline.
Outra ferramenta importante é a rede de apoio. “Família, vizinhos, amigos, grupos online ou espaços comunitários podem ser aliados. Conversar com quem vive os mesmos desafios ajuda a reduzir o peso do isolamento”, afirma.
A culpa como vilã da parentalidade
Um dos sentimentos mais recorrentes entre pais e mães durante as férias é a culpa por não conseguir entreter ou acompanhar os filhos o tempo todo. Para Aline, é fundamental desconstruir a ideia de perfeição na criação dos filhos. “Existe uma cobrança para sermos pais ideais, presentes e criativos 24 horas por dia. Mas o afeto não se mede pela quantidade de atividades oferecidas, e sim pela qualidade do vínculo. Ser bom o suficiente já é suficiente”, orienta.
A psicóloga também defende o diálogo aberto com empregadores e colegas de trabalho. “Conversas honestas sobre as demandas temporárias das férias podem ajudar a ajustar prazos ou flexibilizar horários. Mostrar comprometimento e, ao mesmo tempo, compartilhar suas limitações, pode abrir espaço para mais empatia”, diz.

Quando buscar ajuda
O alerta deve acender quando o cansaço e a sobrecarga passam a interferir na qualidade de vida, no sono, na alimentação, na concentração ou nas relações familiares. “Se há pensamentos persistentes de culpa, fracasso ou vontade de se afastar completamente da parentalidade, é hora de procurar apoio psicológico. O cuidado com a saúde mental também é um ato de amor pela família”, reforça Aline.
Para os pais que se sentem esgotados, a psicóloga deixa uma mensagem importante. “É preciso ter cuidado para que a lógica da alta performance, tão presente no trabalho e nas redes sociais, não invada também o campo da parentalidade. Criar filhos não é um projeto de produtividade, e dias difíceis fazem parte da experiência. Reconhecer os próprios limites, pedir ajuda e acolher as emoções não é falhar, é sustentar com coragem o papel de cuidador em um mundo que insiste em cobrar perfeição”, finaliza a especialista.

Aline Silva (CRP 06/156824), é Psicóloga pós-graduada em Saúde Pública com ênfase em Saúde da Família, Gestão Estratégica de Negócios e MBA em Big Data.
A Telavita é uma empresa pioneira em soluções digitais de psicologia e psiquiatria no Brasil, oferece programas completos de saúde emocional para indivíduos e companhias. Com uma metodologia baseada em dados, a healthtech estrutura jornadas de cuidado que combinam inteligência artificial e outras tecnologias, suporte especializado e conteúdos psicoeducacionais, promovendo impacto mensurável no bem-estar dos pacientes e na eficiência dos serviços de saúde mental.
Colaboração da pauta:
Louise Barbosa Favaro
Press Manager
Ainda não há comentários para esta publicação