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CASACOR São Paulo 2025 ocupa o Parque da Água Branca com projetos autorais que reinventam a experiência do habitar

A diversidade de abordagens nos interiores é um dos pontos altos da edição

Os artigos assinados não representam, necessariamente, a opinião do Portal. Sua publicação é no sentido de informar e, quando o caso, estimular o debate de questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

Por Beatriz Figueiredo

A edição 2025 da CASACOR São Paulo confirma seu papel como referência máxima em arquitetura, interiores e paisagismo no Brasil ao transformar o Parque da Água Branca em uma galeria viva de propostas criativas. Com 73 ambientes cuidadosamente pensados, a mostra tem como ponto de partida o tema “Semear Sonhos” e explora os vínculos entre natureza, memória, inovação e o desejo de projetar futuros mais sensíveis, funcionais e sustentáveis.

O cenário escolhido para sediar a edição deste ano não poderia ser mais simbólico. Instalado em um dos últimos redutos de vegetação nativa da capital, o parque funciona como pano de fundo e parte ativa das criações. Diferente de anos anteriores, em que a mostra se instalava em imóveis urbanos, a proposta de 2025 parte da convivência entre o construído e o orgânico. A arquitetura dos ambientes foi desenhada para valorizar essa coexistência, com estruturas leves, grandes aberturas e poucos elementos de separação entre interior e exterior. Em vários projetos, os espaços são marcados pela ausência de portas e pela fluidez na circulação, reforçando a ideia de continuidade entre o natural e o doméstico.

Logo na chegada, o visitante é impactado por uma estrutura etérea formada por tecidos pendurados em andaimes, projeto da arquiteta Victoria Braga. A instalação não apenas enquadra visualmente o patrimônio do parque como introduz o clima onírico que permeia toda a mostra. Em seguida, o ambiente “Ninho”, assinado por Marko Brajovic, propõe um espaço de troca simbólica, onde o design se alia à escuta e ao pertencimento. Com estrutura circular e elementos naturais, o local abriga conversas, interações e pausas silenciosas.

A diversidade de abordagens nos interiores é um dos pontos altos da edição. O tratamento dado aos tetos, por exemplo, revela um entendimento da arquitetura como ferramenta de narrativa espacial. Os forros, tradicionalmente tratados como elemento secundário na composição de interiores, assumem nesta edição um papel estrutural e estético essencial. Em diversos ambientes da mostra, os tetos foram projetados com geometrias elaboradas, apresentando rebaixos assimétricos, formas curvas contínuas e volumes suspensos em múltiplos níveis, que criam efeitos de profundidade e definem zonas funcionais nos espaços sem recorrer a divisórias verticais.

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Materiais como madeira natural, placas cimentícias e de gesso e até superfícies translúcidas tensionadas foram aplicados para modular a luz, suavizar a reverberação sonora e conduzir a experiência visual do visitante. Em alguns projetos, a iluminação embutida nos recortes do forro evidencia a volumetria e gera uma ambientação quase cenográfica. Em outros, a repetição de elementos em série – como aletas de madeira ou painéis vazados – produz um ritmo visual que dialoga com o mobiliário e os revestimentos de piso. Esse tratamento técnico e expressivo do teto não apenas redefine a hierarquia dos planos arquitetônicos, como também propõe uma leitura sensorial do espaço: o visitante é convidado a observar acima do campo de visão habitual, experimentando uma nova percepção de escala, movimento e envolvimento espacial.

Outro traço recorrente é a valorização de superfícies táteis e visuais, decorrentes do expressivo maximalismo. Estampas amplificadas ocupam paredes inteiras e deixam de ser meros detalhes decorativos para se tornarem linguagem central de vários projetos. Em algumas propostas, como a de Paula Neder, a textura artesanal de painéis cerâmicos e o uso ousado da cor em mobiliário criam um contraste marcante com os elementos naturais ao redor.

A riqueza material também se expressa na combinação de elementos rústicos e tecnológicos. Ambientes como o da arquiteta Beatriz Quinelato exploram a estética do barro, da palha e da madeira de reaproveitamento, enquanto outros incorporam estruturas metálicas, o vidro em suas diversidades, mobiliário modular e superfícies com precisão técnica. A tensão entre o ancestral e o contemporâneo surge como uma das narrativas mais interessantes da mostra.

O paisagismo, por sua vez, ganha protagonismo como linguagem própria. Jardins sensoriais, hortas comestíveis, pátios de contemplação e alamedas de descanso foram projetados não apenas como passagens entre os pavilhões, mas como extensões vivas dos ambientes internos. Profissionais como Simone Campos, Mauro Contesini e Helena Elias entregam propostas que respeitam a vegetação existente e adicionam espécies nativas de forma quase imperceptível, criando microclimas de aconchego, silêncio e renovação.

A mostra também abre espaço para experimentações autorais de novos nomes da arquitetura e do design. Estreantes como Leda Simões, Letícia Figueiredo, Priscila Sunao e a dupla André Bastos & Pedro Luiz de Marqui apresentam projetos que apostam em narrativas afetivas, proporções reduzidas e soluções inesperadas. Suas criações fogem dos clichês e ampliam a paleta de linguagens que convivem na mostra.

Alguns ambientes ainda assumem um papel quase manifesto. A “Casa Sensorial” de Marina Linhares em parceria com a marca Portinari é uma experiência tátil e visual que convida o público a se reconectar com lembranças e sensações. Já a Forneria San Paolo, montada em uma estrutura metálica leve e envidraçada, celebra o convívio, a gastronomia e o design funcional com referências à tradição ítalo-paulistana.

Entre os destaques da edição está o ambiente número 40, “Reflexos da Tradição”, assinado por Carlos Navero e Melissa Camargo. O espaço de 53 m², composto por uma sala de jantar com cozinha integrada, articula passado e futuro com delicadeza e intuição. A proposta parte da ideia de revisitar memórias e tradições familiares como base para imaginar um novo morar, mais sensível e autêntico.

A ambientação é construída sobre contrastes sutis: materiais originais da construção, como o piso centenário restaurado, convivem com acabamentos contemporâneos, como o forro ripado em madeira boleada e o papel de parede feito em palha natural. Este último exibe um padrão geométrico que remete à técnica de tingimento ikat, típica de culturas ancestrais asiáticas e reinterpretada aqui com elegância.

A composição reforça a ideia de tempo contínuo. A paleta terrosa, o mobiliário de linhas puras e a iluminação cálida criam uma atmosfera de permanência, enquanto o uso de materiais naturais traz textura e identidade. O projeto não apela para a nostalgia, mas propõe uma reconciliação entre tradição e funcionalidade, entre história e uso cotidiano. A cozinha, aberta e conectada à mesa de jantar, convida à partilha e reforça a ideia de que o afeto se constrói no espaço comum.

Foi sobre esse processo, inclusive, que conversei com a arquiteta Melissa Camargo, que revelou um dado curioso: cerca de 80% dos objetos e móveis usados na ambientação vieram da sua própria casa. “A minha filha brincava que cada dia que acordava, faltava uma coisa nova. Era como se a casa estivesse se mudando para a CASACOR”, contou, rindo. Segundo ela, grande parte dos itens decorativos foram disponibilizados por patrocinadores ou foram emprestados diretamente pelos artistas e retornarão para seus acervos originais.

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Ela explicou que, após o término da mostra, todos os itens são obrigatoriamente retirados. “Temos que devolver o ambiente completamente vazio. Nada pode permanecer. É uma desmontagem total, coordenada com cada fornecedor e parceiro que esteve conosco durante o projeto”, contou. As obras de arte emprestadas retornam aos artistas, enquanto algumas peças de decoração já foram adquiridas por visitantes.

Há também propostas voltadas para o uso público, como a bilheteria projetada por Gleuse Ferreira, inspirada em referências do sertão nordestino, e os banheiros assinados por Luciana Moreno, que utilizam fibras amazônicas, tons terrosos e mobiliário com intenções biofílicas. Ambos os espaços estão abertos à visitação gratuita e demonstram o cuidado em democratizar o acesso ao design.

Mais do que uma vitrine estética, a CASACOR São Paulo 2025 reforça o compromisso com o legado urbano. A mostra contribuiu com a restauração de fachadas, instalação de rampas de acessibilidade, atualizações técnicas em hidráulica e elétrica, além de prever desmontagem limpa, com diretrizes de responsabilidade ambiental. Todos os espaços deverão ser devolvidos ao parque completamente limpos e sem intervenções permanentes. A CASACOR São Paulo 2025 está aberta ao público até o dia 3 de agosto, no Parque da Água Branca, em São Paulo. Os ingressos custam R$ 121 (inteira) e R$ 60,50 (meia). Crianças até 10 anos têm entrada gratuita. Às terças e quartas-feiras, há horários de visitação com entrada gratuita mediante agendamento. Visitas guiadas também estão disponíveis para quem deseja aprofundar a experiência.

Fotos cedidas por Beatriz Figueiredo
Beatriz Figueiredo é jornalista formada pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie e tem experiência nas áreas de redação, social media e assessoria de comunicação com foco na área do jornalismo esportivo e possui quadros no YouTube para falar sobre futebol nacional, internacional e feminino, além de entrevistas com personagens da área esportiva além de gostar de expressa seus pensamentos através da escrita e usa os livros como refúgio e fontes de inspiração e crescimento. Faz MBA de Marketing Político e Campanhas Eleitorais na ECA-USP e vencedora da categoria de Blog/Website na Expocom Sudeste com o site “Laços de Sobrevivência”

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Imagem por Marcos Kulenkampff em Canva Fotos

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