Domingo foi um daqueles dias que a gente não planeja, mas que ficam guardados na memória de um jeito especial – aquela parte que a gente revisita com um sorriso bobo no rosto. Levei meu filho adolescente para um pagode, e sim, eu sei: ele não é muito fã do gênero. Mas cá entre nós, foi tão autêntico que até ele, com toda a timidez de quem prefere ficar na sombra, acabou se soltando entre uma música e outra. Não dançou – “mãe, eu só observo” –, mas riu surpreso do meu jeito de dançar (e dos meus tropeços, que viraram piada interna).
O melhor? Ele me viu como gente. Não só como a mulher que cobra lição de casa ou lembra ele de arrumar a cama e escovar os dentes, mas como alguém que vive, que extravasa um pouco, que paquera (sim, rolou uma abordagem leve numa mesa ao lado – mãe solo também pode ser notada, não é?). E ele ali, meio “nossa, ela é assim fora da capa de mãe?!”, me deu um misto de orgulho e alívio. Porque mãe que se permite é mãe que ensina, sem palavras, que a vida não acaba na maternidade – ela só ganha novos ritmos.

Teve energético para ele (não julgo, adolescência é isso: experiências), drink para mim e uma carona depois para o after na casa dos nossos amigos, onde as risadas continuaram até o corpo pedir colchão. No dia seguinte, relembramos tudo: minhas tentativas de paquera (“mãe, você é não tem vergonha?”), os amigos que embarcaram na loucura, a música que ele “até que gostou, mas não fala pra ninguém”. E ali, entre memórias frescas e gargalhadas, eu pensei: isso é o que a gente constrói – memórias. Não é sobre ser a mãe perfeita, mas sobre ser inteira – com falhas, vontades e a coragem de mostrar que existimos além da função que eles nos deram.
Porque no fim, eles seguem o que a gente espelha. E se eu quero que ele um dia se permita viver com alegria, preciso mostrar que eu também vivo. Não por egoísmo, mas por amor-próprio – aquele que diz: “eu me valorizo, e você também pode”.
E aí, quando menos se espera, esses momentos viram histórias que a gente conta no jantar. Não como lição, mas como lembrança de que a vida é muito boa para ser só obrigação. E que, puxa, dá para ser mãe e ser gente – de preferência, rindo muito no processo.
No fim das contas, a pergunta que fica não é se seu filho vai gostar do pagode ou se você vai paquerar alguém. É simples e poderosa: o que você está fazendo por você hoje – algo que, lá na frente, vai virar história para rirem juntos? Pode ser uma noite fora, um sorvete de madrugada, uma playlist compartilhada no carro.

Não importa o ritmo, só importa que esteja vivo. Porque filhos não precisam de mães exemplares – precisam de exemplos reais. De mulheres que mostrem, no dia a dia, que a vida pulsa mesmo depois da maternidade. E que, no meio do caos, a gente ainda sabe sambar, cada uma à sua maneira.
Então, respira fundo e se permita. Amanhã, vocês vão rir lembrar da lição de casa esquecida. Mas vão lembrar, com um brilho nos olhos, da noite em que você foi só você – e ele te descobriu como parceira de aventuras.
PS.: Amanhã tem lição de casa? Tem. Roupa para lavar? Também. Mas hoje tem você – e esse “hoje” vai ecoar bem mais lá na frente. A vida é muito curta para só cumprir obrigações. Que tal marcar sua próxima aventura com eles ainda essa semana? (Até um piquenique no chão do quarto vale! Já fizemos por aqui).