Entre mulheres, fala-se muito sobre sororidade, acolhimento e ajuda mútua. Entretanto, no dia a dia, observamos um movimento ambíguo: relações que aparentam proximidade, mas que não se traduzem em atenção, respeito ou consideração. Em alguns momentos, essa desconexão se expressa de forma silenciosa — na cordialidade que cumpre o protocolo, mas não acolhe de fato. Em outros, ela surge no extremo oposto: na comunicação agressiva disfarçada de gentileza, quando por exemplo um convite para estar junto vem acompanhado da limitação da escuta, da expressão e da autonomia. É a presença que chama, mas não permite que à outra exista verdadeiramente.
A apatia pode estar presente no modo de receber alguém, de responder a uma mensagem, de conduzir uma conversa ou de participar de uma reunião. Manifesta-se quando alguém interrompe constantemente, quando não permite que o outro conclua uma ideia, quando ignora uma contribuição, quando não reconhece um esforço ou quando desconsidera um pedido simples. São gestos cotidianos que, somados, enfraquecem vínculos e desgastam relações.

A apatia que nasce da baixa autoconfiança
Embora a rotina acelerada e a sobrecarga possam favorecer o distanciamento afetivo, há situações em que a apatia está relacionada à baixa autoconfiança. Quando a mulher sente que pode perder espaço, relevância ou reconhecimento, a outra mulher pode se tornar uma ameaça — mesmo sem intenção.
Nesses casos, a apatia pode operar como um mecanismo de proteção e, ao mesmo tempo, de controle. Ela se expressa, por exemplo, quando:
- A mulher corta a fala da outra, impedindo que ela se coloque.
- Minimiza uma conquista, tratando-a como algo comum.
- Não menciona, não apoia ou não legitima projetos importantes da outra mulher.
- Ou ainda, quando demonstra certa satisfação em tornar a outra invisível — seja não reconhecendo seu esforço, seja não dando espaço para que ela brilhe.
Esse comportamento pode ocorrer em relacionamentos familiares, entre colegas de trabalho, em ambientes de liderança, em grupos de amizade ou até em círculos comunitários. E é muitas vezes justificado como “apenas sinceridade”, “jeito de falar” ou “a correria do dia a dia”, quando, na verdade, revela uma dificuldade de lidar com o protagonismo da outra mulher.

Quando a apatia evolui para manipulação
Há uma linha tênue entre a apatia recorrente e a manipulação relacional.
Quando a apatia se torna mecanismo de defesa constante, ela pode ser utilizada para:
- Controlar a dinâmica de grupos
- Gerar dependência emocional
- Deslegitimar opiniões divergentes
- Reforçar hierarquias
Nesse cenário, a apatia deixa de ser apenas ausência de cuidado e passa a ser um instrumento de poder — sutil, perigoso e profundamente corrosivo.
Apatia como traço e como ambiente
É importante reconhecer que:
- Em alguns casos, a apatia se desenvolve como resposta à pressão, ao cansaço, ao acúmulo de funções.
- Em outros, ela é um padrão estruturado de personalidade, construído em ambientes onde afeto, vulnerabilidade e expressão eram vistos como fraqueza.
Em ambos, o resultado é o mesmo: fragilização dos vínculos, perda de confiança e sensação de isolamento — mesmo quando existe convivência frequente.

O caminho de retorno
A boa notícia é que a empatia e a sororidade podem ser desenvolvidas.
Não exigem perfeição — exigem atenção.
Pequenos gestos são transformadores:
- Escutar até o fim antes de responder.
- Perguntar com interesse real: “Como você está?”
- Reconhecer o esforço da outra mulher sem comparação.
- Celebrar conquistas alheias sem sentir ameaça.
- Estar disponível para apoiar, não para controlar.
A apatia feminina não se instala da noite para o dia. Ela é construída nos silêncios, nos cortes sutis, na ausência de validação e no hábito de evitar o encontro real. Mas ela pode ser revista, ressignificada e substituída por vínculos mais maduros, conscientes e nutritivos.
Sororidade não é apenas caminhar juntas.
É permitir que cada mulher exista inteira ao lado da outra.
E isso — todas nós podemos aprender e eu posso te ajudar.





































