Por Thiago Carvalho
A nova disputa global não é mais por petróleo, mas por poder computacional. A inteligência artificial se tornou a base invisível da economia digital, movimentando desde o mercado financeiro até políticas públicas. Enquanto o mundo corre para garantir autonomia tecnológica, o Brasil começa a ocupar espaço nessa nova geopolítica da nuvem, mas ainda precisa decidir se será protagonista ou dependente.
O ponto de virada ficou evidente em 2025. No Huawei Cloud Summit, realizado em São Paulo, foram apresentados novos serviços de inteligência artificial e a criação de uma nova instância de nuvem nacional. É um marco relevante, já que é a primeira vez que o país se insere de forma mais decisiva na corrida global pela “nuvem de IA”. O movimento segue uma tendência mundial: aproximar o poder de processamento dos dados e reduzir a dependência de infraestruturas estrangeiras.

Segundo o Relatório Setorial 2025 da Brasscom, os investimentos em computação em nuvem no Brasil devem crescer 15% ao ano até 2028, alcançando R$331,9 bilhões no período. A entidade destaca que esse avanço está diretamente ligado à expansão do uso de inteligência artificial e soluções de segurança cibernética, que se tornaram pilares da transformação digital no país. O dado revela a dimensão do mercado, mas também reforça a urgência de garantir que esse crescimento venha acompanhado de autonomia tecnológica.
Mas a infraestrutura, sozinha, não garante autonomia. Mesmo com data centers em território nacional, a maioria dos chips, algoritmos e tecnologias de base ainda é produzida no exterior. O risco é reproduzir um velho padrão de dependência tecnológica, em que o país hospeda a inovação, mas não participa de sua criação. A corrida pela nuvem de IA é, no fundo, uma corrida pela soberania digital: quem controla a capacidade de processamento e os modelos de IA, comanda também o ritmo e a direção da inovação.
O que realmente determinará o papel do Brasil nessa nova era será a combinação entre infraestrutura, talento e visão de longo prazo. O país precisa formar especialistas em computação de alto desempenho, fomentar pesquisa aplicada em IA e criar políticas públicas que incentivem o desenvolvimento de modelos locais. A soberania digital não virá da instalação de servidores, mas da capacidade de desenhar e treinar inteligências próprias.

Há sinais positivos. Startups nacionais vêm explorando soluções de IA em setores estratégicos como agricultura, energia, finanças e saúde. O governo, por sua vez, começa a adotar plataformas em nuvem para digitalizar serviços e processar volumes crescentes de dados. Esses movimentos, somados à chegada de novas infraestruturas, podem criar um terreno fértil para que o Brasil se consolide como um polo regional de inovação e inteligência artificial. A nuvem de IA já chegou ao país. Agora, o desafio é transformar a infraestrutura em liderança. O Brasil tem talento, dados e diversidade para ser protagonista nessa nova economia digital. O que falta é decisão estratégica e a consciência de que o futuro da inovação não será importado, mas construído. Afinal, queremos apenas acessar a inteligência artificial ou queremos ser parte de quem a constrói?




































