Sukha e Duhkha

Dolce Yoga

Michelle Duarte

Para o Yoga tudo está em movimento, em estado de mudança como um fluxo natural da vida onde há luz e sombra: Sukha e Duhkha; juntos e misturados, vivemos alternando entre esses dois opostos. Sukha é luz, leveza, doçura e clareza enquanto Duhkha é desagrado, angustia, dor e sofrimento. Evidentemente que se pudéssemos escolher gostaríamos de ter Sukha o tempo todo, mas também ficar apegado a Sukha vai gerar desejo e esse desejo gerará ansiedade e por aí irá se formando uma bola de neve e um caminho que vai direto para as trevas. 

De acordo com o sábio Patanjali, todo prazer conduz a dor, isso por que nunca estamos livres de Avidya ou compreensão incorreta. Experimentamos as coisas e a nossa percepção sobre o mundo está relacionada em algum de seus 4 aspectos diferentes: Raga ou apego, o desejo de ter algo mesmo quando não necessitamos; Dvesa ou aversão a coisas e sentimentos que nos desagradam; Asmita ou o ego e a identificação por algum papel que exercemos e que certamente mudará e Abhinivesa ou medo da perder algo ou alguém, mesmo sabendo que nada perpetuará, o apego a vida.

Apesar de Avidya existe ainda uma grande causa de nossas angústias que é a mudança, onde ficamos viciados, apegados e condicionados. Estamos sempre criando hábitos conscientemente ou não, e esses padrões interferem nas nossas emoções, nos nossos gostos e desgostos, nas nossas atitudes enfim, hábitos. Eles não são nem bons e nem ruins. Hábito é algo que se faz sem pensar e é aí que está o problema. Ficamos acostumados com um padrão e geralmente as situações não se repetem da mesma forma e menos ainda o resultado esperado de nossas ações serão sempre iguais.

Os hábitos são necessários para trazer estabilidade, estabelecer uma rotina, como por exemplo o de praticar Yoga todos os dias, mas se a pratica for sempre daquelas posturas que a gente gosta repetidamente, primeiro não estaremos presentes, não iremos nos desenvolver para além daquilo e não haverá consciência, simplesmente não estaríamos praticando Yoga de verdade e sim Bhoga: apenas uma pratica física que ao final deixará uma sensação prazerosa, como a de qualquer outra atividade física. Esses padrões condicionados também e as impressões sobre nossas experiências, chamada de Samskaras podem nos manter estagnados e frustrados principalmente nos momentos em que é necessário ter presença e desapego.

Além da resistência às mudanças por condicionamentos e a tentativa de reproduzir as impressões de experiências passadas, estamos sujeitos às atividades da nossa mente. Existem 3 qualidades da mente chamados de Gunas pelos quais os nossos pensamentos são constantemente influenciados são eles: Tamas ou inércia, Rajas ou agitação e Sattva ou harmonia. Todo o tempo essas 3 características, que estão não apenas em nós, mas presentes na natureza, afetam tanto nosso comportamento como nossas ações resultando em Duhkha.

O estado de Tamas é aquele de quando estamos preguiçosos, letárgicos, não queremos tomar decisões e vamos deixado tudo para depois. Quando Tamas está presente traz falta de energia e gera depressão. Rajas é oposto a Tamas, é quando estamos prontos para agir, seja impulsivamente ou não podendo gerar conflitos e egoísmo. Finalmente Sattva é ausência de Tamas e Rajas, é virtude, inteligência, equilíbrio e contentamento, é o estado mental que buscamos desenvolver com a pratica de Yoga.

Quando buscamos a autorreflexão, um estado de Dhyana, fortalecemos nossa autonomia e encontrando nossos próprios mecanismos para tomar decisões e entendemos nosso comportamento, trazemos assim mais qualidade e atenção às nossas ações reduzindo Duhkha e atingindo um estado mental de leveza ou Sukha.

Quando nossa habilidade de observar o funcionamento da mente e as ondas de pensamentos ou Vrttis, podendo analisar e entender com discernimento as causas de nossas dores, percebemos que Duhkha é inevitável e que de momento a momento todos nós experenciamos algum tipo de angustia e tristeza.

Quando vemos tudo como algo que temos que lidar e não como um problema a ser resolvido estaremos cultivando um estado mental de clareza, Sukha, buscando nas situações desfavoráveis leveza, paz e entendimento de que tudo é passageiro e mesmo a dor em algum momento irá embora. Entregar-se ao que é e aceitar as mudanças da vida agindo com qualidade sem esperar os frutos de nossas ações estaremos mais próximos de quem somos podendo desfrutar da vida com menos Duhkha e mais Sukha.

Namastê

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Michelle Duarte é professora de Hatha Yoga e Meditação, empreendedora e mãe. Formada em design gráfico, encontrou no Yoga seu verdadeiro propósito de vida: levar autoconhecimento, bem-estar e realização ao maior número de pessoas.

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