Paqueras digitais

Dolce Selfcare

Cecília Trigueiros

Homens e mulheres se conectam em um ritmo frenético, porém, essa conexão muitas vezes carece da profundidade e delicadeza presentes nos flertes tradicionais

Os artigos assinados não traduzem ou representam, necessariamente, a opinião ou posição do Portal. Sua publicação é no sentido de informar e, quando o caso, estimular o debate de problemas e questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

Oiêêê linda! Tudo bem com você? Qual é o seu WhatsApp? Eu queria te conhecer melhor!”

Em seguida, tecla-se o “Control+C”, “Control+V” para o inbox da galeria das mais bonitas e como numa roleta russa, aquela que apertar o gatilho será a convidada para quem sabe um café, ou, se tiver sorte, um jantar.

Vivemos em uma era digital, onde as redes sociais se tornaram palco para a dança complexa dos relacionamentos entre homens e mulheres. O que deveria ser um terreno fértil para o nascimento de um relacionamento, muitas vezes se transforma em um cenário de frieza interpessoal.

Nesse microcosmos virtual, as interações ocorrem em uma velocidade impressionante, marcadas por curtidas, comentários rápidos e mensagens instantâneas. A formalidade deu lugar à informalidade, e é aqui que muitos argumentam residir o cerne da questão: a falta de romantismo.

Homens e mulheres se conectam em um ritmo frenético, porém, essa conexão muitas vezes carece da profundidade e delicadeza presentes nos flertes tradicionais. Trocam-se emojis e assim a linguagem corporal e os olhares profundos que causavam arrepios são substituídos por caracteres digitais.

Nós não pensamos muito a respeito, não dá tempo. O mundo é rápido, mas nós não somos robôs, minhas bonitas! Ou ainda não…

Me chamem de ultrapassada, mas eu gosto das coisas mais devagar, admiro e prezo o meu tempo, no meu tempo, portanto, sou suspeita e já sei que estou polemizando ao escrever sobre um assunto tão delicado.

Mesmo assim, vou adiante com as minhas conjecturas, fazendo uma comparação com uma época não tão distante.

Imagem de Freepik

Em um mergulho na história recente dos enamorados, os encontros eram meticulosamente planejados, tanto pela srta. XX, quanto pelo sr. XY e eles se viram pela primeira vez ao vivo e a cores.

Lembrem-se que não existiam filtros; XX era XX e XY era XY, sem edições e surpresas desagradáveis.

As pessoas sentiam a conexão através da troca de olhares demorados, que causava uma vergonha gostosa, em seguida verificava-se novamente se XY estava espiando mais uma vez. E quando ele estava, ahhh…bingo! Deu match!

A partir daí começava a dança do pavão, abrindo seu leque de vantagens e motivos para a fêmea escolhê-lo. E as cartas, então?

Eram perfumadas pela srta. XX para encantar o pavão quando ele viajava e demoravam para chegar, não havia WhatsApp, telefonemas internacionais custavam caro e o relógio era lento. E nós também.

Contrastando com essa paciência lírica, os relacionamentos atuais são tecidos em um emaranhado digital, onde mensagens instantâneas e atualizações de status moldam a trama amorosa em tempo real.

Foi-se o flerte, a conquista e a satisfação de sentir-se conquistada aos poucos para depois colher os louros da vitória de um relacionamento baseado em duas pessoas que de fato tiveram toda disposição para investir em algo duradouro.

Ao investigar essas duas eras distintas do amor, cheguei à conclusão de como a lentidão meticulosa do passado se choca com a instantaneidade das conexões contemporâneas. Hoje a Selfcare lança luz sobre como as redes sociais aceleram o processo de formação de laços afetivos, desafiando os paradigmas sentimentais de outrora.

E vou além, enfatizando que a facilidade em “desfazer as amizades” ou “desmatchear”, contribui para uma mentalidade de descartabilidade nas uniões e no final da estória, todos saem perdendo.

Vamos ter um papo reto e lembrar que as mulheres queimaram sutiãs para que nós tivéssemos, entre outros direitos, uma visão masculina menos banalizada de meros objetos sexuais. Pois bem, bonitas online, o que mais se vê nas redes? Meninas e senhoras, sem distinção de idade, exibindo seus corpos em detrimento do raciocínio.

Os meninos e senhores levaram um nó na cabeça e talvez não saibam como lidar com o tal “empoderamento”, no que tange as relações sociais dos aplicativos. Quem sabe eles também precisem de um pouco de encantamento, mistério e reaprenderem a arte da conquista?

Pausa para mais uma sessão de apedrejamento…pedregulhos dessa vez, tá?  Mas vocês hão de convir que foi uma maravilhosa volta de 360 graus!

Daí, vê-se o chororô geral, tanto dos srs. XY, como das srtas. XX, postando solidão e insatisfação com as atitudes do sexo oposto. Se os “Os homens eram de Marte e as mulheres de Vênus”, agora são de galáxias totalmente distintas.

Talvez justamente a ausência de formalidades e a rapidez nas interações acabe gerando uma crescente frieza entre os sexos.

Conclusão? Um envolvimento afetivo eclipsado pela praticidade da comunicação digital, onde as palavras e atitudes perdem cada vez mais o peso que tinham em tempos passados.

Ainda me desviando das pedras (vocês não perdoam, né?), escrevi esse artigo inspirada no Dia Internacional da Mulher e embora as redes sociais tenham proporcionado uma conexão global sem precedentes, é crucial refletir sobre seus efeitos colaterais.

Bonitas rapidinhas, talvez recuperar o romantismo perdido requeira esforço, mas com certeza trará de volta a autenticidade, a paciência (tão vital em relacionamentos) e a dedicação que caracteriza as ligações mais profundas e duradouras.

Portanto, deixo aqui o meu parabéns à todas as XX e uma palavra para ecoar de tempos em tempos nos seus ouvidos:

Equilíbrio!

Cecília Trigueiros é formada em Marketing e maquiadora profissional e especialista em autocuidado e beleza. 

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