Foram 23 dias de UTI, onde vivi um verdadeiro deserto. Sara lá: sempre serena, tranquila, parecia estar em um spa. E eu em um profundo momento de reflexão (e sem saber, de transformação), onde pude enxergar o que realmente importa nesta vida, valorizar aquilo em que acredito e amar… amar a todos de forma incondicional, independentemente do que sejam ou fazem.
Aprendi a deixar coisas mesquinhas de lado, a olhar o que é belo em todas as circunstâncias, a me colocar no lugar do outro. Aprendi a olhar de dentro para fora e não mais o inverso.
Foram 29 dias lá dentro, onde tive momentos de angústia, de tristeza e de medo. Mas de muita fé, coragem e positividade.
Assisti a muitos momentos de dor.
Vi uma mãe que deu entrada no mesmo dia que nós ir embora sozinha, sem sua filha nos braços; vi mães que estavam lá há três, quatro, cinco anos longe da sua vida, dos seus, vivendo aquela batalha sozinhas com seus filhos doentes; vi uma mãe ao meu lado transplantar o coração da sua filha adolescente, alegre, doce, e ela não aguentar o novo coraçãozinho e partir…

Ouvi muita dor nos horários de almoço, onde eu acabava muitas vezes indo com fones de ouvido para evitar absorver tanta lamentação; desabafos, pois elas só tinham umas às outras ali e eu, muitas vezes, me sentia impotente diante daquelas mães… procurava não ouvir, mas rezava e pedia por todas aquelas mães, crianças e famílias.
E enfim, no dia 28 de novembro de 2014, a Sara teve alta do Incor.
Saímos de lá somente horas depois da alta, pois conheci muita gente nesse período de internação, de vários andares e departamentos. Eu era enxerida, queria saber tudo, entender tudo e assim conheci muita gente que tinha alguma ligação ou não com nosso caso. Fora que amo me relacionar com pessoas, elas são fundamentais em nossa vida para nosso crescimento neste planeta.
Tinha muita gente para agradecer: enfermeiros, médicos, administrativos, recepcionistas, copeiras, nutricionistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, mães, enfim, todos que fizeram e farão parte da minha vida, da nossa história, para sempre!
A emoção estava à flor da pele, meu Deus, quanta adrenalina nesses últimos dias!
Chorei mais de alegria do que de tristeza e medo em todos os momentos anteriores.
Chorei ao comprar um chocolate em formato de coração para dar ao “cirurgião do coração” da minha pequena, chorei por mostrar o sol a ela, chorei…
Chorei de gratidão por ter sido escolhida para viver tudo isso e sair vitoriosa. Vitoriosa por crescer tanto espiritualmente e por ter ganhado a Sara duas vezes em minha vida.

Senti-me grata pela presença divina em cada segundo da minha vida, mesmo nas minhas fraquezas, nas minhas mesquinharias, nos meus medos.
Mas a melhor parte, a mais emocionante, foi sem dúvida passar pela porta de saída.
Quando aquela porta automática da rampa de saída do Incor se abriu e eu a cruzei com minha filha nos braços, passou um filme na minha cabeça e eu me senti totalmente grata por estar indo embora daquele lugar, por não ter sido tanto tempo lá dentro e principalmente por não estar indo sozinha…
Ali nasceu uma nova Gisele.
Capítulo 8 do meu livro, “Diário de Uma Mãe Nada Especial – Desmistificando a mãe idealizada”

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