Já faz algum tempo que não venho me sentido bem. Visão turva, dor de cabeça, corpo exausto, e a alma? Ai, a alma mais cansada ainda. Fui ver minha pressão: 18×11.
Sabe o que eu fiz? Continuei minha rotina.
Lavei roupa, fiz comida, cuidei da casa, dos filhos, do marido, da empresa, do Comitê, dos compromissos.
Com dor, com medo, com vontade de sumir. Lá no fundo uma tristeza chata, daquelas que ninguém vê, afinal de contas uma mulher forte não para.
Só tem uma coisa que ninguém conta para a gente: ser forte o tempo todo nos faz adoecer.

Outro dia me perguntaram se eu era uma pessoa feliz. Este é o tipo de pergunta que a gente normalmente não se faz verdadeiramente. Confesso que eu travei, não tinha certeza qual resposta seria a verdadeira.
Será que eu estou vivendo a vida que eu escolhi por completo? Talvez por estar sempre ocupada demais cuidando de todo mundo e nunca de mim. Talvez porque esteja esperando que o mundo pare e eu me permita viver o que desejo.
Sabe o que mais dói perceber, e ao mesmo tempo libertador?
Que ninguém virá me salvar, nem marido, nem filhos, nem o universo.

A única pessoa que pode mudar tudo isso, sou eu mesma, tenho que matar o dragão e sair sozinha do castelo.
Parar de reclamar da rotina e decidir mudar.
Se me sinto cansada, não continuar servindo.
Mesmo sonhando com o mar, não continuar me afogando em tantos compromissos.
E finalmente me escolher.
Afinal, quando a borboleta que não aceita mais rastejar, precisa ter coragem de romper o casulo.