Quando escolhemos partilhar o teto com alguém — seja rico ou não — a certeza do “felizes para sempre” parece tão evidente que nada, nem ninguém poderá dizer o contrário.
Imaginamos noites e dias de conchinha, refeições na cama, passeios incansáveis… até que todo esse momento apaixonante desaba e as paredes, antes cúmplices, tornam-se apenas um porto seguro.
O leitor ou a leitora está entendendo nada, certo? Deixa-me voltar aos eixos.
São inúmeras as situações em que, após certo tempo, muitos homens começam a confundir a mulher com um simples objeto de adorno — algo que, desde que esteja bem cuidado e polido, permanecerá intacto e esbelto, mesmo sem ser usado. Esquecem-se eles de que até os objetos de adorno acabam por se estragar exatamente por falta de uso: deterioram-se.

Então, imagina aquela mulher que se casou “com fé de poder ter um lar “— expressão tão usada cá em Moçambique — e que, no fim, tem apenas uma estrutura e crianças. O marido entrega-se às ruas a cada fim de semana, prometendo sair por pouco tempo, mas são as madrugadas, o álcool e as belas “marandzas” da noite que lhe fazem companhia [N.E.: O termo “marandzas” é usado em Moçambique, principalmente, para se referir a mulheres que são vistas como interesseiras e que buscam relacionamentos, geralmente amorosos ou sexuais, com o objetivo de obter benefícios financeiros].
Será que, pelo lar, tudo é possível?
Quer dizer: viver em condições propícias, ter comida, cama, presentes, cartão bancário… será isso o suficiente para constituir um lar?
Aparições em redes sociais e eventos familiares bastam?
E o toque, o afeto, o “vamos ficar jogados no sofá fazendo nada”, onde ficam?
Essas e muitas outras questões pairam na cabeça de diversas esposas troféus que andam por aí — cintilantes como diamantes lapidados, mas vazias como caranguejos congelados.

Mas será culpa delas? Deles? Dos dois?
Não.
Eu culpo a sociedade machista (especialmente a africana, na qual vivo), que educa o homem a acreditar que sua virilidade se fortalece a cada saída à rua, a cada madrugada, a cada marandza que ele pesca para a sua rede — e, de brinde, mantém uma esposa troféu recatada, dolorida e sozinha.
Precisamos salvar essas mulheres, resetando a mente de todos os homens africanos.
Precisamos mostrar, com A + B, que todo o machismo contraria a elevação da esposa troféu que eles tanto vangloriam e exibem.
Que um lar é muito mais do que presentes, teto e valores: é afeto, contato, cuidado e proteção.
Que amar não significa apenas dar o que se pode, mas oferecer o que o outro necessita — e mais ainda, é doar-se intensamente.
Fazer jus ao título de esposa troféu é dar-lhe o brilho merecido.
Caso contrário, que se arranque o título das entranhas da alma.





























