Great Reset e o capitalismo de stakeholders

Diversidade Dolce

Caroline Vargas Barbosa

O termo "Great Reset" (em português, "Grande Reinicialização") refere-se a uma iniciativa que foi discutida pelo Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum - WEF), organização internacional que reúne líderes empresariais, políticos, acadêmicos e outros influenciadores globais para discutir questões econômicas e sociais. O conceito foi lançado durante a reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, em janeiro de 2021

O conceito do Great Reset está em constante evolução e ainda está sendo debatido e discutido em diversos fóruns globais e nacionais. Suas implicações e implementação prática podem variar amplamente dependendo da perspectiva e das políticas adotadas por diferentes governos e organizações. A ideia por trás do Great Reset é a de que a pandemia de COVID-19 e seus impactos econômicos e sociais oferecem uma oportunidade para repensar e reformular os sistemas econômicos e sociais em todo o mundo. Os proponentes do Great Reset argumentam que as crises, como a pandemia, destacaram deficiências e desigualdades em muitos sistemas, e que isso é uma chance de criar um futuro mais sustentável, inclusivo e resiliente.

O Great Reset enfatiza a necessidade de abordar as mudanças climáticas e promover práticas mais sustentáveis nos negócios e na economia em geral. De maneira correlata, a iniciativa busca abordar as desigualdades econômicas e sociais, com foco na inclusão de grupos marginalizados e na melhoria das condições de vida para todos. Outro ponto de enfoque abordado é a aceleração da transformação digital em vários setores, reconhecendo a importância crescente da tecnologia na economia global.

Alguns proponentes argumentam que o Great Reset representa uma oportunidade para reformular o sistema capitalista, tornando-o mais equitativo e responsável. É importante observar que o Great Reset é uma visão proposta e tem gerado uma variedade de interpretações e opiniões em todo o mundo. Algumas pessoas veem isso como uma oportunidade positiva para promover mudanças benéficas, enquanto outras são críticas e a veem como uma ameaça à liberdade individual e à economia de mercado.

O capitalismo de stakeholders

Imagine uma empresa que vende sorvetes, no “capitalismo de stakeholders”, essa empresa considera não apenas seus acionistas, mas também outras pessoas importantes, como seus funcionários, se seus fornecedores têm produtos e cadeias produtivas adequadas, os clientes que compram seus sorvetes, a comunidade local onde está localizada e o meio ambiente. Essa empresa, desenvolve um programa estratégico e integrado. A empresa paga salários justos e oferece boas condições de trabalho para seus funcionários; se preocupa em fazer sorvetes de alta qualidade e preços acessíveis para os clientes; participa de programas locais e ajuda a comunidade de diferentes maneiras e também se esforça para usar ingredientes sustentáveis e minimizar o desperdício. O sucesso dessa empresa não é medido apenas pelos lucros, mas também como ela impacta positivamente todos esses grupos. Isso cria uma empresa mais responsável e sustentável.

Publicidade Dolce Morumbi

A relação entre acionistas (shareholders) e o conceito mais amplo de stakeholders tem sido um tema central de discussão no contexto do capitalismo moderno. Tradicionalmente, o foco do capitalismo era predominantemente voltado para os acionistas, ou seja, os proprietários de uma empresa, cujo objetivo principal era maximizar o valor para os acionistas, muitas vezes medido pelo retorno sobre o investimento. Essa abordagem muitas vezes colocava a maximização dos lucros acima de outras considerações, como responsabilidade social ou ambiental.

No entanto, nas últimas décadas, tem havido um movimento em direção a uma perspectiva mais ampla, conhecida como “capitalismo de stakeholders”. O capitalismo de stakeholders reconhece que as empresas têm uma responsabilidade mais ampla para com diversos grupos interessados, além dos acionistas, incluindo funcionários, clientes, comunidades locais e o meio ambiente. Nesse contexto, o sucesso de uma empresa é medido não apenas pelos lucros, mas também pelo impacto positivo que ela tem em sua rede de stakeholders.

Isso implica que as empresas devem considerar não apenas o retorno financeiro para os acionistas, mas também como suas ações afetam o bem-estar de todos os envolvidos. Isso pode incluir práticas de negócios sustentáveis, políticas de igualdade de gênero, respeito aos direitos humanos, redução das emissões de carbono e outras iniciativas voltadas para o benefício da sociedade como um todo.

No “capitalismo de stakeholders”, as empresas não pensam apenas em ganhar dinheiro, mas também em serem boas para seus funcionários, clientes, comunidades e o meio ambiente. Isso é importante para construir uma economia mais justa e sustentável.

Publicidade Dolce Morumbi

Os gestores de ativos, que cuidam do dinheiro de investidores, agora consideram fatores ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) em suas decisões. Eles sabem que empresas responsáveis nesses aspectos geralmente têm melhor desempenho a longo prazo.

Tudo isso está ligado à responsabilidade fiduciária dos gestores, que é agir no melhor interesse dos investidores. Isso significa não apenas ganhar dinheiro, mas também proteger os investimentos, considerando fatores além dos lucros financeiros, evitando passivos como ações judiciais ou impacto negativo entre os consumidores.

O governo desempenha um papel importante ao criar regras que incentivam as empresas a serem responsáveis e considerar o bem-estar de todos, não importa qual partido esteja no comando. Essas regras devem ser consistentes e duradouras para criar um ambiente empresarial estável e incentivar práticas sustentáveis.

Padrões ESG

Pode definir regras claras para que todas as empresas sigam em relação a questões ambientais, sociais e de governança (ESG). Isso ajuda a garantir que todas as empresas joguem pelas mesmas regras.

Transparência

Pode exigir que as empresas sejam honestas sobre como estão se saindo nas áreas ESG. Isso ajuda investidores e o público a saber como as empresas estão agindo de verdade.

Engajamento da Comunidade

Pode apoiar ações para que as pessoas se envolvam em questões sociais e ambientais, para que todos trabalhem juntos para práticas empresariais melhores.

É igualmente importante que o país mostre que é confiável e seguro para investir. Isso significa demonstrar e garantir segurança institucional e jurídica para que as regras não mudam drasticamente a cada novo governo. Ter instituições fortes e leis justas ajuda a proteger os direitos e investimentos de todos, o que é vital para atrair investidores e manter um ambiente empresarial seguro.

O capitalismo de stakeholders beneficia a sociedade de várias maneiras. Empresas que adotam essa abordagem se concentram não apenas nos lucros dos acionistas, mas também no bem-estar de funcionários, clientes e no meio ambiente. Isso leva a produtos e serviços de melhor qualidade, ambientes de trabalho mais justos e práticas empresariais mais sustentáveis, reduzindo a poluição e beneficiando a qualidade de vida das pessoas. Além disso, o envolvimento comunitário resulta em melhorias locais, como programas sociais e empregos. A conscientização sobre questões sociais e ambientais também aumenta. No entanto, o sucesso depende da implementação consistente e do compromisso das empresas e da regulamentação governamental.

Caroline Vargas Barbosa é advogada, docente universitária e pesquisadora. Doutorando em Direito pela UnB, Mestra em Direito Agrário pela UFG e especialista em Processo Civil pela UFSC. Atua em pesquisas e assessoramentos de diversidade, inclusão e ESG.

Conheça seus perfis:

Assine nossa Newsletter

Inscreva-se para receber nossos últimos artigos.

Conheça nossa política de privacidade

Garanta a entrega de nossa Newsletter em sua Caixa de Entrada indicando o domínio
@dolcemorumbi.com em sua lista de contatos, evitando o Spam

Artigos recomendados

Ainda não há comentários. Deixe o seu abaixo!


Deixe uma resposta