Teto grisalho: o etarismo e o mercado de trabalho

Diversidade Dolce

Caroline Vargas Barbosa

"Teto grisalho", um fenômeno onde profissionais mais experientes enfrentam barreiras invisíveis que limitam suas oportunidades de progresso na carreira

O etarismo, forma de discriminação baseada na idade, é uma realidade persistente no mercado de trabalho em muitas partes do mundo

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Enquanto as empresas buscam diversidade e inclusão, muitas vezes o preconceito relacionado à idade continua a afetar a contratação, promoção e tratamento dos profissionais mais velhos. Esse fenômeno não apenas prejudica os trabalhadores mais experientes, mas também limita o potencial das empresas em aproveitar ao máximo suas habilidades e conhecimentos.

Demonstrações de Etarismo no Ambiente Corporativo

  • Viés na contratação: muitas empresas tendem a favorecer candidatos mais jovens durante os processos de contratação, presumindo que são mais adaptáveis, energéticos ou tecnologicamente proficientes. Isso leva à exclusão de profissionais talentosos e experientes que poderiam trazer uma riqueza de experiência para a equipe.
  • Estereótipos e preconceitos: expressões como “velho demais para aprender” ou “não se encaixa na cultura da empresa” são frequentemente usadas para justificar a exclusão de profissionais mais velhos, perpetuando estereótipos negativos sobre sua capacidade de desempenho e adaptação.
  • Falta de desenvolvimento profissional: profissionais mais velhos muitas vezes são negligenciados em programas de desenvolvimento profissional ou oportunidades de treinamento, com a suposição equivocada de que não têm interesse em aprender ou crescer profissionalmente.
  • Desenvolvimento de talentos: o favorecimento de profissionais mais jovens em detrimento dos mais experientes impede a realização equitativa do potencial de todos os membros da equipe, resultando em perda de oportunidades para aproveitar ao máximo a vasta experiência e conhecimento acumulado ao longo dos anos.
  • Promoção limitada: existe uma tendência em algumas empresas de promover apenas os funcionários mais jovens, deixando de reconhecer e valorizar a experiência e as habilidades dos colaboradores mais antigos.
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Dispensa discriminatória

Em várias regiões do mundo, existem leis que protegem os trabalhadores contra a discriminação no emprego com base na idade. Por exemplo, nos Estados Unidos, a Lei de Discriminação por Idade no Emprego (Age Discrimination in Employment Act – ADEA) proíbe a discriminação contra trabalhadores com mais de 40 anos em todos os aspectos do emprego, incluindo contratação, demissão, promoção, remuneração e condições de trabalho.

Se um funcionário for demitido explicitamente devido à sua idade, ou se houver evidências claras de que a idade foi um fator determinante na decisão de demiti-lo, ele pode ter motivos para apresentar uma reclamação por discriminação etarista. Essas reclamações geralmente são tratadas por agências governamentais de direitos civis, como a Equal Employment Opportunity Commission (EEOC) nos EUA, que investigarão a alegação e podem tomar medidas legais contra o empregador se a discriminação for comprovada.

No Brasil, é possível comprovar judicialmente a dispensa em razão de discriminação de idade, para tanto os empregadores deverão demonstrar que suas decisões de demissão foram baseadas em critérios legítimos e não discriminatórios, como desempenho insatisfatório ou necessidades comerciais legítimas. Se um empregador não puder justificar uma demissão relacionada à idade com base em critérios objetivos e não discriminatórios, isso pode fortalecer ainda mais o caso do trabalhador.

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Etarismo e gênero: por que ninguém fala da menopausa?

O etarismo, prática discriminatória baseada na idade, revela suas garras de maneira desigual, especialmente quando se trata das mulheres que ultrapassam os 45 anos. Um aspecto pouco abordado pelas organizações, mas que ganha destaque é a menopausa. Com o aumento da presença de mulheres maduras no ambiente corporativo, surge a crucial questão: os líderes estão preparados para lidar com os desafios associados a essa fase da vida, considerando que, no Brasil, as posições de alta liderança ainda são predominantemente ocupadas por homens?

Estudos indicam que a menopausa pode ter um impacto negativo na capacidade de trabalho, especialmente quando os sintomas do climatério estão presentes. No entanto, a falta de abordagem sobre esse assunto nas organizações pode perpetuar uma cultura que desconsidera as necessidades específicas das mulheres nessa fase. A predominância masculina em cargos de liderança pode dificultar a compreensão e a empatia em relação aos desafios enfrentados pelas colaboradoras.

Os sintomas variados vivenciados pelas mulheres durante a menopausa, como dificuldades de concentração, cefaleias, sudorese intensa e fadiga devido à insônia, podem contribuir para um aumento significativo do absenteísmo, insatisfação e queda de produtividade. A realidade é que, ao não abordar abertamente a menopausa no ambiente de trabalho, as organizações correm o risco de ignorar uma parte essencial da experiência feminina e perpetuar o ciclo de discriminação etarista.

A maioria das discussões sobre igualdade de gênero no trabalho concentra-se em desafios como disparidade salarial e falta de representatividade em cargos de liderança. No entanto, a menopausa permanece como uma questão silenciosa, muitas vezes relegada ao esquecimento em prol de evitar a criação de mais obstáculos para as mulheres maduras. No entanto, essa atitude apenas reforça a necessidade de conscientização e implementação de políticas e práticas que considerem a menopausa como uma realidade, oferecendo suporte e auxílio para minimizar seus impactos no ambiente de trabalho. É hora de trazer à tona esse tema, que há muito tempo foi varrido para debaixo do tapete, e criar ambientes profissionais verdadeiramente inclusivos para todas as mulheres, independentemente da idade.

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O etarismo está intrinsecamente relacionado às questões de ESG

No cenário corporativo contemporâneo, enquanto o ESG visa promover práticas empresariais sustentáveis e éticas, o etarismo emerge como uma barreira substancial para a realização plena desses objetivos.

No contexto da inclusão social, o etarismo pode minar os esforços das empresas em construir ambientes de trabalho verdadeiramente inclusivos. Ao discriminar com base na idade, as organizações perpetuam a exclusão de uma parte significativa da força de trabalho, contradizendo os princípios fundamentais de igualdade e diversidade presentes no ESG.

A diversidade geracional, considerada um pilar essencial do ESG, também é comprometida pelo etarismo. Ao limitar a representação de diferentes faixas etárias nas empresas, o preconceito relacionado à idade prejudica a capacidade de tomada de decisões, a inovação e a adaptabilidade da organização às mudanças no mercado.

Além disso, as práticas etaristas podem impactar negativamente a reputação de uma empresa. Em uma era em que consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às questões de justiça social e igualdade, empresas percebidas como discriminatórias com base na idade podem enfrentar críticas públicas e perder a confiança do público.

A implementação de políticas e práticas que promovam a inclusão e equidade para profissionais de todas as idades não apenas fortalece a cultura organizacional e impulsiona o desempenho empresarial, mas também reflete os valores fundamentais de responsabilidade social e sustentabilidade presentes no ESG.

Caroline Vargas Barbosa é advogada, docente universitária e pesquisadora. Doutorando em Direito pela UnB, Mestra em Direito Agrário pela UFG e especialista em Processo Civil pela UFSC. Atua em pesquisas e assessoramentos de diversidade, inclusão e ESG.

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