A calma não é a ausência de ação, é estarmos presentes com a alma.
Nós, mulheres, imersas em um mundo competitivo, somos muitas vezes levadas a um ritmo alucinante, tal qual um hamster na roda da gaiola: sempre correndo e nem sempre chegando a algum lugar. Ao deixarmos a calma escapar, entramos em modo automático, perdendo a ligação, a atenção e a chance de vivenciar a beleza de existir. É como dirigir em alta velocidade: cruzamos paisagens, momentos únicos, detalhes da vida sem enxergar nada. Estamos ali, pela metade e não aproveitamos a vida em sua plenitude.
Manter a calma é estar em sintonia com algo maior. É estar totalmente no presente, atenta a cada situação. Se estou em reunião, foco nela. Se atendo uma cliente, dedico-me a ela, sem pensar na próxima. Se estou em casa, descansando com a família, estou presente, sem culpa por não estar trabalhando. A calma nos permite viver com entrega e presença. O oposto dela não é só a pressa, mas o automatismo, o excesso, o frenesi. É viver sem conexão com o que realmente importa, sem sentido, sem propósito. E o preço chega: exaustão, angústia, ansiedade, doenças, relações frágeis. Pode nos levar a um enfarto ou pré-enfarto, como aconteceu comigo há uns 13 anos atrás e que culminou com sorte a busca pelo meu eu, uma segunda chance. A pressa custa caro, pois nos rouba o bem mais valioso: o tempo, o agora.
Quem vive sem calma, corre em incongruência com a sua existência.
Recordo de uma cliente que, em um momento difícil, ouviu de mim: – “Calma!”. Falei com intenção de acolher, como quem diz: “respire, estou aqui, você não está só”. Mas, para ela, soou como um gatilho. Irritou-se, pois todos diziam isso e, para ela, era só mais uma cobrança. Quando corremos desesperadamente, tentando conciliar trabalho, filhos, casa, aparência, e alguém pede calma, parece que precisamos parar de repente. E parar assim pode ser doloroso, até perigoso, como frear bruscamente em alta velocidade. A verdadeira calma não exige paradas drásticas; ela convida a reduzir no nosso tempo, no nosso ritmo, até respirarmos novamente.

Para ter calma é preciso acalmar a tríade da existência, o Corpo, a Mente e o Espírito (ou a Alma).
Recentemente, vivi algo simples e profundo. Após dias de introspecção, conversando comigo e com Deus, despertei com uma conexão tão forte que norteou meu dia. Tudo parecia se encaixar quase magicamente. Pequenos eventos ganharam um significado maior, encontros se tornaram especiais, sinais ficaram claros. E percebi tudo porque estava presente, entregue a cada momento. A calma nos dá olhos para ver o cuidado da vida, nos abre para ouvir a voz interna, perceber respostas, achar caminhos, sentir o sentido de estar aqui nesse mundo e ampliamos a fé.
Há segredos simples, porém significativos, que conseguem tranquilizar a mente, o corpo e a alma. Ao experienciarmos, entendemos que não se referem a soluções mágicas, mas a decisões intencionais que nos reaproximam de nossa verdadeira essência.
São escolhas que acalmam a turbulência interna, trazem lucidez ao raciocínio, reduzem a carga emocional e revitalizam a energia essencial.
Esses segredos nos ensinam que a calma não é a ausência de dificuldades, mas a capacidade de enfrentá-las com tranquilidade, autoconfiança e atenção focada.
Parada consciente
Reserve breves instantes durante o seu dia para realmente parar, mesmo que por um a cinco minutos. Inspire profundamente, feche os olhos e sinta seu corpo e sua mente. Isso pode acontecer enquanto espera o café ser feito, em um trânsito parado ou antes de uma reunião. Essa parada consciente ajuda a entender o que se passa dentro de nós, diminui a rotina automática e abre espaço para ouvir a voz interior.
Registro da alma
Anote algo todos os dias. Não é necessário ser longo: alguns minutos para anotar pensamentos, emoções, sonhos, gratidão e percepções. Pergunte-se: “O que minha alma deseja me revelar hoje?” ou “Qual mensagem meu coração precisa escutar?”. Escrever auxilia na organização dos sentimentos, na identificação de padrões e no fortalecimento do vínculo com seu eu interior.

Meditação ou oração reflexiva
Reserve passos para se conectar com algo superior, seja pela meditação, oração ou um momento de silêncio. Isso pode ocorrer ao acordar, antes de se deita, no banho ou em pausas durante o dia. Dê a si mesmo a oportunidade de escutar o silêncio, observar sua respiração e perceber as respostas sutis que emergem da sua essência. Essas práticas ajudam a harmonizar corpo, mente e alma.
Movimento consciente
Exercícios, caminhadas, dança ou alongamentos ganham profundidade quando realizados com atenção. Preste atenção em cada movimento, em cada sensação, em cada batida do seu coração. Ao invés de apenas se exercitar, você se reconecta com o corpo e com a energia vital, reconhecendo como a alma se expressa por meio do movimento.
Conexão com o meio ambiente
Mesmo que por um breve período, esteja em proximidade com a natureza e animais: caminhe ou pedale em um parque, toque a grama, brinque com animais domésticos, sinta o vento no rosto ou olhe para o céu. A natureza nos lembra da grandeza da vida e da necessidade de desacelerar. É um convite para sentir, perceber e se harmonizar com o ritmo natural do universo, despertando a tranquilidade que brota da alma.
Estar presente é difícil quando a pressa nos domina. A serenidade não significa imobilidade, mas sim total atenção. O tempo presente é a dádiva mais preciosa da vida, e só a calma nos permite apreciá-lo. O oposto da calma não é a ação, mas um vazio.
Cultivar a calma transcende a lentidão; é como recuperar a essência em meio ao caos do dia a dia. É abrir espaço para laços verdadeiros, ligações profundas, sabedoria interior e um objetivo claro. É ter a capacidade de apreciar o que antes passava batido, sentir o que sempre esteve ali e nunca percebeu, ouvir quem mais precisa de você e se amar acima de tudo.

Ver no espelho e perceber não só a mulher que resolve tudo, mas aquela que vive com atenção, presença e dedicação. E quando essa conexão acontece novos hábitos surgem em prol de si mesma e de quem você ama.
Responda: porque se acalmar nesse momento da vida, seria tão essencial? Ouça sua responda e tome uma decisão.
A calma é poder, é bravura! E ao optarmos por viver plenamente, percebemos que não é preciso tanta agitação: a vida já nos oferece o que realmente importa.
Como é incrível testemunhar mulheres chegarem confusas, agitadas, ansiosas e, muitas vezes, sem esperança no início das sessões. Mas, à medida que mergulham no processo de autoconhecimento, algo começa a mudar. Aos poucos, surge uma nova postura: uma calma que não é passividade, mas presença.
Uma mulher mais centrada, que demonstra temperamento tranquilo e ação moderada diante de conflitos, que prioriza a paz interna e já não se deixa levar por impulsos ou explosões. Ela passa a compreender em vez de convencer, evita decisões precipitadas e transforma a energia de emoções negativas em ações produtivas.
Essa qualidade se revela na paciência, no perdão, no autoperdão, na autocompaixão e na capacidade de manter o controle mental e emocional mesmo sob pressão. Muitas vezes, nem ela mesma se reconhece nessa nova versão. E é exatamente isso que eu também continuo vivendo e buscando: quanto mais me conheço, mais ganho recursos internos para lidar com situações desafiadoras.
Os problemas não desaparecem, mas aprendo a cair e levantar rápido, a não me estatelar no chão, a ter paciência e tranquilidade para esperar e saber o momento certo de agir. Nem tudo é perfeito — nunca será — mas há uma certeza: a nossa melhor versão nasce quando silenciamos as vozes que não nos pertencem e passamos a ouvir e confiar no silêncio interior e sagrado. E isso é o processo que acalma o nosso ego e é a calma que todas nós precisamos.
Gratidão!