Empregabilidade e inclusão de neuroatípicos

Diversidade Dolce

Caroline Vargas Barbosa

Inclusão gera lucro e está intrinsecamente ligada aos princípios ESG - ambientais, sociais e de governança - que orientam as práticas empresariais responsáveis. A sigla ESG refere-se a critérios que as empresas devem considerar ao avaliar o impacto de suas operações no mundo ao seu redor e na sociedade em geral

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A neurodiversidade refere-se à variação natural nos funcionamentos cerebrais humanos, um conceito cunhado por Judy Singer em 1998. Dessa forma, os neuroatípicos apresentam um desenvolvimento neurológico diferente das pessoas com desenvolvimento considerado comum, denominadas neurotípicas. Essa diferença no desenvolvimento neurológico pode se manifestar através de diversas características, habilidades, competências e desafios únicos para cada indivíduo dentro de um amplo espectro de neurodiversidades.

Ao abraçar e reconhecer a diversidade neurocognitiva, a sociedade pode fomentar a inclusão e a acessibilidade para todas as formas de neurodivergência. Isso implica em estabelecer padrões que apreciem as habilidades e perspectivas singulares das pessoas neurodivergentes, além de adaptar ambientes e práticas para atender a diferentes estilos de aprendizagem, trabalho e interação social.

Observa-se um crescente interesse na inclusão de profissionais neurodivergentes, como aqueles com TDAH, Autismo e/ou Dislexia, em diferentes setores profissionais. Esse interesse reflete não apenas a identificação de casos dentro das equipes, mas também o desejo de proporcionar suporte especializado a colaboradores neuroatípicos, uma demanda em ascensão devido a programas eficazes de Diversidade e Inclusão.

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A contratação via Lei de Cotas

A contratação via Lei de Cotas (art. 93 da Lei 8.213/91) no Brasil é um passo fundamental para garantir a inclusão, pois obriga as empresas a contratarem pessoas com deficiência, o que inclui os neurodivergentes. No entanto, é importante ressaltar que nem todas as neurodiversidades se enquadram na Lei de Cotas. Destaca-se que a legislação específica para autistas (Lei 12.764/12) garante o reconhecimento da condição como deficiência. A documentação para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), como o CIPTEA, é essencial para a obtenção de benefícios e direitos.

Pessoas com TDA, TDAH, Dislexia, síndrome de Tourette, discalculia, disgrafia, entre outras, ainda carecem desse reconhecimento legal. No entanto, individualmente, podem ser consideradas pessoas com deficiência quando atenderem ao conceito legal do Estatuto da Pessoa com Deficiência de 2015, sendo necessário um laudo detalhado conforme a CID-11 para a emissão de documentos probatórios, como a carteira de identidade nacional. Além disso, é possível incluir o símbolo de identificação de deficiência na carteira de identidade, uma iniciativa proporcionada pela Lei Estadual nº 7.821, de 20 de dezembro de 2017.

Ações para inclusão de profissionais neurodivergentes

A abordagem de emprego apoiado tem se mostrado eficaz para a inclusão desses profissionais, sendo adaptada a cada indivíduo com o auxílio de especialistas em neurodiversidade, gestão e recursos humanos. Essa metodologia visa garantir um ambiente propício ao melhor desempenho nas funções, proporcionando uma série de benefícios, como a manutenção do emprego, comunicação assertiva, entregas profissionais consistentes, estabilidade financeira e, em muitos casos, autonomia financeira. O apoio pode ser estruturando e acompanhando suas jornadas de aprendizagem e trabalho, inspirados pelo conhecimento em psicologia e emprego apoiado. Essas ações incluem escuta ativa, busca de recursos, apoio individualizado e aulas online para sensibilização da equipe.

Para promover a inclusão efetiva de neurodivergentes no ambiente de trabalho, é fundamental implementar adaptações sensoriais, comunicativas e sociais.

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No aspecto sensorial, é importante criar espaços de trabalho com iluminação adequada e controle de ruídos, levando em consideração que algumas pessoas neurodivergentes podem ser sensíveis a estímulos sensoriais. Além disso, oferecer opções de mobiliário ergonômico para garantir o conforto físico durante as atividades laborais e permitir a flexibilidade quanto ao uso de fones de ouvido ou protetores auriculares para reduzir a exposição a sons excessivos. Também é recomendável disponibilizar áreas de descanso ou locais tranquilos para momentos de pausa e regulação sensorial, quando necessário.

No âmbito da comunicação, é essencial estabelecer canais claros e diretos, preferencialmente por escrito, a fim de evitar ambiguidades e facilitar a compreensão. Utilizar linguagem objetiva e específica ao transmitir informações, evitando metáforas ou expressões idiomáticas que possam gerar confusão, e oferecer treinamentos e materiais de apoio que auxiliem na compreensão de normas, procedimentos e expectativas organizacionais. Além disso, designar um mentor ou colega de equipe para fornecer orientação e suporte na integração e desenvolvimento profissional pode ser de grande valia.

No aspecto social, é fundamental promover uma cultura organizacional inclusiva, que valorize a diversidade e o respeito às diferenças individuais. Realizar atividades de sensibilização e conscientização sobre neurodiversidade, visando reduzir estigmas e preconceitos, e incentivar a prática da empatia e da colaboração entre os membros da equipe são práticas essenciais para promover um ambiente de trabalho acolhedor e solidário. Além disso, a implementação de políticas de flexibilidade no horário de trabalho e na organização das tarefas permite que os funcionários neurodivergentes realizem ajustes conforme suas necessidades.

Essas ações não só apoiam os profissionais neurodivergentes, mas também contribuem para ampliar o conhecimento sobre o tema, reduzir estereótipos e preconceitos, criando um ambiente mais acessível e com maior segurança psicológica para todos os colaboradores.

Caroline Vargas Barbosa é advogada, docente universitária e pesquisadora. Doutorando em Direito pela UnB, Mestra em Direito Agrário pela UFG e especialista em Processo Civil pela UFSC. Atua em pesquisas e assessoramentos de diversidade, inclusão e ESG.

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